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Música - Crítica/"O Samba Informal de Mauro Duarte"
CD duplo abre baú de sambas cheios de lamento de Duarte
Álbum apresenta 20 canções inéditas do músico do bairro carioca de Botafogo
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Botafogo é um bairro da
zona sul carioca que
produziu ótimos compositores e um estilo de samba
impregnado de lamento, mesmo para falar de alegria. Afora
Paulinho da Viola, cuja obra incorpora o choro e outras referências, o maior representante
desse samba de Botafogo é
Mauro Duarte (1930-1989).
O CD duplo "O Samba Informal de Mauro Duarte" abre um
baú fundamental ao registrar
20 músicas inéditas, nove gravadas mas desconhecidas e
duas vinhetas. Dez inéditas foram concluídas pelo letrista
Paulo César Pinheiro especialmente para o projeto da cantora Cristina Buarque e do grupo
Samba de Fato (Alfredo Del-Penho, Pedro Amorim, Pedro
Miranda e Paulino Dias).
O mesmo quinteto em todas
as faixas facilita a coesão dos
CDs, mas o maior trunfo é a
qualidade das composições. Algumas não ficam nada a dever
aos sambas mais conhecidos de
Duarte, como "Portela na Avenida", "Canto das Três Raças",
"Lama", "Meu Sapato Já Furou" (quatro sucessos de Clara
Nunes), "A-M-O-R Amor",
"Cuidado, Teu Orgulho te Mata" (ambas gravadas pelo compadre Paulinho) e "A Alegria
Continua".
Das músicas que justificam a
afirmação de Elton Medeiros
de que, em sambas em tom menor, Duarte -ou Bolacha, como
era chamado pelos amigos, por
causa do rosto arredondado-
era imbatível, vale destacar
"Engano", uma jóia de melodia
triste letrada a caráter por Pinheiro: "O amor que acumulei
na vida/ Foi mais que eu pude
dar de mim".
Ou podem ser ressaltados os
sambas pró-generosidade, na
linha de "Lama", aqueles que
condenam a sovinice financeira e espiritual: "Acerto de Contas" e "Tempo de Amigo".
Ainda há os que, pela cadência sofrida ou pelo tema filosófico, se assemelham aos de Nelson Cavaquinho: "Sublime Primavera", "Não Sei".
E os que, criados num bairro
de tantos blocos como Botafogo, remetem à festa de fevereiro: "Carnaval" e "Caprichosos
de Pilares" -um dos dez sambas feitos por Duarte e Pinheiro em homenagem a escolas.
Ou, é claro, os que cantam o
amor terminado: "Eu Não Quero Saber", "Mais Consideração", "Dúvida" -que faz bela
alusão a "Não Diga a Minha Residência" (Bide/Marçal).
Há, também, as crônicas do
cotidiano: "Falou Demais",
"Samba de Botequim", "A Mulher do Pedro".
E, com muito destaque, os
sambas capazes de levantar
qualquer roda: "Lenha na Fogueira", "Compaixão", "O Samba que Eu lhe Fiz".
A variedade ilustra o talento
de Duarte, que não era craque
só do time de Botafogo (Walter
Alfaiate, Mical, Zorba Devagar,
Niltinho Tristeza...) mas de toda a música brasileira.
O SAMBA INFORMAL DE MAURO DUARTE
Artistas: Cristina Buarque e Samba de
Fato
Gravadora: Deckdisc
Quanto: R$ 44, em média (CD duplo)
Avaliação: ótimo
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