São Paulo, sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

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Música - Crítica/"O Samba Informal de Mauro Duarte"

CD duplo abre baú de sambas cheios de lamento de Duarte

Álbum apresenta 20 canções inéditas do músico do bairro carioca de Botafogo

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Botafogo é um bairro da zona sul carioca que produziu ótimos compositores e um estilo de samba impregnado de lamento, mesmo para falar de alegria. Afora Paulinho da Viola, cuja obra incorpora o choro e outras referências, o maior representante desse samba de Botafogo é Mauro Duarte (1930-1989).
O CD duplo "O Samba Informal de Mauro Duarte" abre um baú fundamental ao registrar 20 músicas inéditas, nove gravadas mas desconhecidas e duas vinhetas. Dez inéditas foram concluídas pelo letrista Paulo César Pinheiro especialmente para o projeto da cantora Cristina Buarque e do grupo Samba de Fato (Alfredo Del-Penho, Pedro Amorim, Pedro Miranda e Paulino Dias).
O mesmo quinteto em todas as faixas facilita a coesão dos CDs, mas o maior trunfo é a qualidade das composições. Algumas não ficam nada a dever aos sambas mais conhecidos de Duarte, como "Portela na Avenida", "Canto das Três Raças", "Lama", "Meu Sapato Já Furou" (quatro sucessos de Clara Nunes), "A-M-O-R Amor", "Cuidado, Teu Orgulho te Mata" (ambas gravadas pelo compadre Paulinho) e "A Alegria Continua".
Das músicas que justificam a afirmação de Elton Medeiros de que, em sambas em tom menor, Duarte -ou Bolacha, como era chamado pelos amigos, por causa do rosto arredondado- era imbatível, vale destacar "Engano", uma jóia de melodia triste letrada a caráter por Pinheiro: "O amor que acumulei na vida/ Foi mais que eu pude dar de mim".
Ou podem ser ressaltados os sambas pró-generosidade, na linha de "Lama", aqueles que condenam a sovinice financeira e espiritual: "Acerto de Contas" e "Tempo de Amigo".
Ainda há os que, pela cadência sofrida ou pelo tema filosófico, se assemelham aos de Nelson Cavaquinho: "Sublime Primavera", "Não Sei".
E os que, criados num bairro de tantos blocos como Botafogo, remetem à festa de fevereiro: "Carnaval" e "Caprichosos de Pilares" -um dos dez sambas feitos por Duarte e Pinheiro em homenagem a escolas. Ou, é claro, os que cantam o amor terminado: "Eu Não Quero Saber", "Mais Consideração", "Dúvida" -que faz bela alusão a "Não Diga a Minha Residência" (Bide/Marçal).
Há, também, as crônicas do cotidiano: "Falou Demais", "Samba de Botequim", "A Mulher do Pedro".
E, com muito destaque, os sambas capazes de levantar qualquer roda: "Lenha na Fogueira", "Compaixão", "O Samba que Eu lhe Fiz".
A variedade ilustra o talento de Duarte, que não era craque só do time de Botafogo (Walter Alfaiate, Mical, Zorba Devagar, Niltinho Tristeza...) mas de toda a música brasileira.


O SAMBA INFORMAL DE MAURO DUARTE
Artistas:
Cristina Buarque e Samba de Fato
Gravadora: Deckdisc
Quanto: R$ 44, em média (CD duplo)
Avaliação: ótimo


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