|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELETRÔNICOS BRASILEIROS
Independentes driblam indigência técnica
da Reportagem Local
Com a máquina -o computador, não a indústria- a favor, já
não é tempo em que limitados recursos econômicos impliquem
precariedade técnica (como, aliás,
é tão frequente no Brasil). Os eletrônicos da onda independente
guardam em comum, entre quase
todos eles, o dado de querer espanar a indigência técnica, a conceitual e a artística.
"Gerador Zero", do homem-máquina homônimo, é dos produtos mais bem-acabados. Investe, mas não sempre com firmeza
de propósitos, na utilização brasileira dos preceitos aprendidos no
jungle e no drum'n'bass.
Preocupado em permear o som
seco, quase desumano, do "d'n'b"
com brasilidades do tipo samplear o disco de 74 de Elis Regina e
Tom Jobim em "Turboelis", chega a quase melodias, a quase melodias quase brasileiras. Nisso, filia-se à aventura da criação do
Brasil eletrônico, já percorrida
por M4J, Anvil FX e Friendtronik.
"Zootek", o CD da cooperativa
curitibana, é vedete mais por fornecer um painel de artistas produzindo fora do eixo central que
pela constância. Irregular, dá
vontade de adivinhar quem vai
prosperar, quem vai desaparecer.
Aí não é o tecno brasileiro, ainda. São rapazes que não querem
muito saber de música nacional
-bem, quem pode condená-los,
no país do axé de direita?
Muitos seguem cânones enrijecidos, bem conhecidos -Fatboy
Slim, Chemical Brothers-, envergonhados ainda de mostrar
carteira de identidade.
Beat Dada abre com big beat encorpado, embora pouco novo. Lo
Fi Man instala psicodelia sul-brasileira que se fosse rock visitaria
Júpiter Maçã. Crazyfaction persegue as raves, Julian Barg testa experimentalismo com melancolia,
Net Riot volta à bóim-psicodelia.
Com Lifo e Mecanotremata, o tecno-rock industrial bate à porta,
amplificando a irregularidade de
"Zootek". Clone DT fecha com
bom humor e marretas à Loop B.
Quer saber? Acidentes à parte,
tudo é próximo de impecável.
Na frente do crossover, Jubah
Jabuh, de Curitiba, e Crac!, de Salvador, põem artimanhas eletrônicas em segundo plano e avançam
no pântano da brasilidade e da
poesia -ainda há quem o faça,
louvada seja Santa Tecla.
A dupla curitibana -largamente influenciada, veja só, por
Carlinhos Brown- mostra-se
instável, brilhando no samba/tecnopop percussivo, mas derrapando no "arnaldo-antunismo" de
"Hereditariedade" ou "Água".
A conclusão sai já da primeira
canção: "Fazê Música Dói", pelo
menos para quem se preocupa
em gastar neurônios no processo.
Os baianos mundanos do Crac!,
por fim, são bravos, enfezados,
quase roqueiros à moda antiga.
Dizem-se influenciados por Mutantes, mas bem mais se assemelham às maluquices de Tom Zé.
Tecnicamente mal finalizado (a
voz, lá atrás da barulheira, desvaloriza as letras, destaque da banda), "Móbraba" seduz recombinando "Fita Amarela", de Noel
Rosa, a "A Chuva". Ou salpicando
na letra de "Oxigênio" regionalidades tipo "macaxeira", "pirão de
leite" e "pimenta-de-cheiro".
Decifra-se a senha na eletrônica-carnavalesca "Ponte Duvidosa": "Quero encontrar o meu caminho, encontrar o meu caminho/ uma ponte entre a vida e a
arte". É o que essa moçada toda
está querendo, boa sorte a todos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Avaliação: 0("Zootek" e
"Gerador Zero")
(Crac! e "Jubah Jabuh")
Disco: Zootek
Lançamento: independente
Quanto: R$ 12
Onde encomendar: no site http://listen.to/zootek/ ou pelo e-mail
zootek@bigfoot.com
Disco: Gerador Zero
Lançamento: independente
Quanto: R$ 15
Onde encomendar: no site
www.fzero.rj.net)
Disco: Móbraba
Grupo: Crac!
Lançamento: independente
Quanto: R$ 15
Onde encomendar: 0/xx/11-885-6897;
em MP3, www.bahianet.com.br/crac
Disco: Jubah Jabuh
Lançamento: independente
Quanto: R$ 12
Onde encomendar: no site http://listen.to/jubahjabuh
Texto Anterior: Eletrônicos, "indies", brasileiros Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|