São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2000


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ELETRÔNICOS BRASILEIROS
Independentes driblam indigência técnica

da Reportagem Local

Com a máquina -o computador, não a indústria- a favor, já não é tempo em que limitados recursos econômicos impliquem precariedade técnica (como, aliás, é tão frequente no Brasil). Os eletrônicos da onda independente guardam em comum, entre quase todos eles, o dado de querer espanar a indigência técnica, a conceitual e a artística.
"Gerador Zero", do homem-máquina homônimo, é dos produtos mais bem-acabados. Investe, mas não sempre com firmeza de propósitos, na utilização brasileira dos preceitos aprendidos no jungle e no drum'n'bass.
Preocupado em permear o som seco, quase desumano, do "d'n'b" com brasilidades do tipo samplear o disco de 74 de Elis Regina e Tom Jobim em "Turboelis", chega a quase melodias, a quase melodias quase brasileiras. Nisso, filia-se à aventura da criação do Brasil eletrônico, já percorrida por M4J, Anvil FX e Friendtronik.
"Zootek", o CD da cooperativa curitibana, é vedete mais por fornecer um painel de artistas produzindo fora do eixo central que pela constância. Irregular, dá vontade de adivinhar quem vai prosperar, quem vai desaparecer.
Aí não é o tecno brasileiro, ainda. São rapazes que não querem muito saber de música nacional -bem, quem pode condená-los, no país do axé de direita?
Muitos seguem cânones enrijecidos, bem conhecidos -Fatboy Slim, Chemical Brothers-, envergonhados ainda de mostrar carteira de identidade.
Beat Dada abre com big beat encorpado, embora pouco novo. Lo Fi Man instala psicodelia sul-brasileira que se fosse rock visitaria Júpiter Maçã. Crazyfaction persegue as raves, Julian Barg testa experimentalismo com melancolia, Net Riot volta à bóim-psicodelia. Com Lifo e Mecanotremata, o tecno-rock industrial bate à porta, amplificando a irregularidade de "Zootek". Clone DT fecha com bom humor e marretas à Loop B.
Quer saber? Acidentes à parte, tudo é próximo de impecável.
Na frente do crossover, Jubah Jabuh, de Curitiba, e Crac!, de Salvador, põem artimanhas eletrônicas em segundo plano e avançam no pântano da brasilidade e da poesia -ainda há quem o faça, louvada seja Santa Tecla.
A dupla curitibana -largamente influenciada, veja só, por Carlinhos Brown- mostra-se instável, brilhando no samba/tecnopop percussivo, mas derrapando no "arnaldo-antunismo" de "Hereditariedade" ou "Água".
A conclusão sai já da primeira canção: "Fazê Música Dói", pelo menos para quem se preocupa em gastar neurônios no processo.
Os baianos mundanos do Crac!, por fim, são bravos, enfezados, quase roqueiros à moda antiga. Dizem-se influenciados por Mutantes, mas bem mais se assemelham às maluquices de Tom Zé.
Tecnicamente mal finalizado (a voz, lá atrás da barulheira, desvaloriza as letras, destaque da banda), "Móbraba" seduz recombinando "Fita Amarela", de Noel Rosa, a "A Chuva". Ou salpicando na letra de "Oxigênio" regionalidades tipo "macaxeira", "pirão de leite" e "pimenta-de-cheiro".
Decifra-se a senha na eletrônica-carnavalesca "Ponte Duvidosa": "Quero encontrar o meu caminho, encontrar o meu caminho/ uma ponte entre a vida e a arte". É o que essa moçada toda está querendo, boa sorte a todos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Avaliação:    0("Zootek" e "Gerador Zero")
  (Crac! e "Jubah Jabuh")


Disco: Zootek Lançamento: independente Quanto: R$ 12 Onde encomendar: no site http://listen.to/zootek/ ou pelo e-mail zootek@bigfoot.com
Disco: Gerador Zero Lançamento: independente Quanto: R$ 15 Onde encomendar: no site www.fzero.rj.net)
Disco: Móbraba Grupo: Crac! Lançamento: independente Quanto: R$ 15 Onde encomendar: 0/xx/11-885-6897; em MP3, www.bahianet.com.br/crac
Disco: Jubah Jabuh Lançamento: independente Quanto: R$ 12 Onde encomendar: no site http://listen.to/jubahjabuh



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