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MÚSICA
Cantor quebra 11 anos de jejum do programa ao vivo para mostrar novo disco e defender rádios livres
Lobão lança CD independente no "Faustão"
da Reportagem Local
O mundo está virado? Lobão,
42, inimigo número um do sistema, foi no domingo a atração de
encerramento do "Domingão do
Faustão", na Rede Globo, em
meio a convidados como Chitãozinho e Xororó e As Meninas.
Lançando a segunda tiragem de
50 mil exemplares de seu disco independente "A Vida É Doce",
quebrou um jejum de 11 anos sem
aparecer ao vivo no programa.
A vez anterior foi no dia da eleição de Fernando Collor para presidente, quando puxou um coro
de "Lula lá" no auditório de Fausto Silva e colocou a Globo sob risco de ser retirada do ar pelo Tribunal Regional Eleitoral.
Domingo, no ar por 12 minutos
(o combinado eram nove; Lobão
resmunga ter ficado só seis), foi o
pico de audiência do programa,
oscilando de 41 a 35 pontos, contra média de 16 do SBT (Gugu Liberato já havia saído do ar).
A latina Christina Aguillera, no
encerramento da semana anterior, oscilara de 34 a 28 pontos e
saíra do ar em cinco minutos.
A pergunta é: o "rebelde" Lobão
está se readequando às regras da
indústria que tanto vinha combatendo? A resposta é complexa.
Do lado de baixo, embora suavizasse seu discurso tipo metralhadora giratória, tocou a nada
comercial "A Vida É Doce", mostrou a camisa de seu selo independente, Universo Paralelo (insinuando que existia um universo
paralelo ao de Meninas e Xororós), e usou os poucos minutos de
fala para defender as rádios comunitárias, anti-sistema.
Do lado de cima, o ministro das
Comunicações, Pimenta da Veiga, citado nominalmente -e
com simpatia- por Lobão ao vivo, telefonou na segunda ao artista, parabenizando-o por tocar no
assunto espinhoso no horário nobre do "Faustão".
Lobão tenta manter a fama de
mau: "Cheguei ao meio-dia e fiquei lendo no camarim, tirei soneca, nem sequer abri o áudio da
TV. Não queria me envolver emocionalmente com o programa".
Tenta relativizar o pico de audiência: "Sei que esse horário tecnicamente é o que mais dá Ibope.
Mas fui lá feliz, pegando o vácuo
de simpatia dos espectadores que
estão esperando o "Fantástico" começar".
Tenta justificar a repentina aceitação do artista desbocado pela
Globo: "Fausto Silva é um cara
que gosta de mim e pessoalmente
parece estar querendo mudar seu
programa".
Tenta acreditar que não, não está sendo cooptado: "Há essa história, desde o caso Nicéa Pitta, de
que a Globo esteja dando uma
guinada da direita para o centro,
porque há novas pessoas lá dentro. Carlos Sion, que foi produtor
do Vímana (primeira banda de
Lobão), trabalha no "Faustão'".
"Faustão" x gravadoras?
Mas aí há o caso de que o diretor-geral do programa global, Alberto Luchetti, 46, determinou
que artistas que se apresentarem
no programa de Gugu Liberato
não irão mais ao "Domingão",
sob frases de efeito de que não vai
mais se submeter aos planos de
marketing das gravadoras.
Quase simultaneamente, leva
ao programa Lobão, que, apartado das grandes gravadoras, lançou "A Vida É Doce" de forma independente, em bancas de jornal,
com cópias numeradas e por preço abaixo do mercado (R$ 14,90).
Esgotou a primeira tiragem, de 50
mil exemplares, em cerca de quatro meses.
Nesta semana, Lobão está mandando às bancas as segundas 50
mil cópias do CD. A distribuição,
agora, é da Fernando Chinaglia,
de alcance nacional.
A ida de Lobão ao "Faustão" seria um recado indireto numa rebelião de "Faustão" e Luchetti
contra as gravadoras?
"Imagina. Lobão é apenas mais
um de muitos. Tenho feito isso
sempre nos dois anos em que estou no programa. Levei Quarteto
em Cy e MPB-4, Pavilhão 9, Frank
Aguiar, Reginaldo Rossi. Lobão é
marginalizado, faz a defesa das
rádios clandestinas. Esse lado
anarquista é que é interessante,
foi por isso que ele foi chamado",
diz, afirmando -quanto às
"clandestinas"- que não quer
"avaliar esse dado".
Lobão também reage à possibilidade: "Tenho muita rixa com o
programa do Gugu, aquela banheira é escrota. Mas não tenho
nada a ver com essas determinações. Se isso se torna político, vou
ao Gugu. Minha única condição,
sempre, é tocar ao vivo, sem playback".
Não, não é a única. O convite
inicial do "Domingão" era para
que respondesse a perguntas pré-gravadas do público. Ele não quis
se submeter ao interrogatório,
mas diz que não se acha antidemocrático na recusa: "Ofereceram 20 minutos, ia ser uma espécie de banheira do "Faustão". Se
fosse um programa normal, eu
aceitava. Tenho todos os motivos
do mundo para ter precauções
contra esse tipo de ingerência. Já
fui editado na Globo".
"Ver as perguntas antes ele não
ia, nunca. Se ele pretendia isso,
nem me perguntou, por falta de
coragem", revida o diretor.
Lobão tenta se divertir: "Quando cheguei lá, ainda pediram que
eu mudasse e fizesse um pot-pourri. Ameacei ir embora, o clima ficou tenso. Quando fui tirar
soneca, todo mundo pensou que
eu tinha ido embora".
Ele fala, afinal, o que queria e
não conseguiu do programa do
"amigo" Fausto Silva: "Queria falar que tenho um público que
nunca viu o "Faustão" e estava ligado no domingo, e há outro que
vê o "Faustão" e nunca viu o Lobão. E que eles se encontraram,
com pico de audiência. Foi falta
de respeito eles me cortarem no
meio de "Me Chama", mas acho
saudável poder fazer isso. Estava
lá não para querer hegemonia, tirar o lugar do "xibom bombom",
mas para conquistar um espaço
que geralmente nos é hostil". Será?
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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