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DANÇA
Diretor do Balé de Hamburgo fala de "Sylvia", coreografia que será apresentada em São Paulo em abril
Alemães abrem temporada internacional
Reprodução
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Cena da coreografia "Sylvia", recriação de um clássico do século 19 feita por John Neumeier, diretor do Balé de Hamburgo; espetáculo será apresentado em abril |
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
A temporada internacional de
dança deste ano será inaugurada
pelo Balé de Hamburgo, cujas
apresentações na capital paulista
-de 11 a 13 de abril - também
dão início à programação de 2000
da Sociedade de Cultura Artística
e dos Patronos do Teatro Municipal de São Paulo.
No Rio de Janeiro, a companhia
alemã, dirigida há 27 anos pelo
norte-americano John Neumeier,
estréia dia 6.
Além de um "Programa Mix",
que reúne as coreografias "Bach
Suíte nº 2", "Quadros de Bartok" e
"Bernstein Dances", todas de
Neumeier, o elenco de Hamburgo
traz como espetáculo principal o
balé "Sylvia".
Criado em 1997 por encomenda
da Ópera de Paris, "Sylvia" é uma
versão atualizada do clássico homônimo lançado em 1876 (leia
texto nesta página). Originalmente uma ninfa devotada à deusa
Diana, Sylvia se transforma em
mulher moderna na reinterpretação de Neumeier. A seguir, trechos da entrevista concedida pelo
coreógrafo à Folha.
Folha - Criar versões de balés
clássicos é uma de suas especialidades. O senhor tem um procedimento específico quando
reinterpreta obras tradicionais?
John Neumeier - Cada uma das
chamadas obras clássicas é um
caso único. Toda vez que me
aproximo de um clássico com o
objetivo de reinterpretá-lo, eu
procuro me distanciar do tema
original para descobrir o núcleo
central, ou seja, a essência. Esse é
o ponto mais importante, que eu
procuro atingir sempre, de diferentes formas.
Folha - A música costuma ser
uma das forças motrizes de suas
criações. Como é o "modo Neumeier" de lidar com a música?
Neumeier - O "modo Neumeier" significa ouvir a música no
plano emocional, ou seja, permitir inicialmente que a música "nos
coloque em movimento". Em seguida, é preciso analisar racionalmente o que foi ouvido para, enfim, fazer a coreografia de modo
puramente instintivo. Instintivo
na medida em que é preciso esquecer tudo o que se aprendeu
anteriormente.
Folha - O senhor declarou que
a música de Delibes foi sua primeira parceira na criação de
"Sylvia". Como essa composição
é explorada em sua versão?
Neumeier - A música é o elemento que mais chama a atenção
na versão original de "Sylvia".
Percebe-se claramente que ela foi
influenciada por Richard Wagner
e em alguns momentos chega a
adotar os piores clichês das músicas para balé do século 19. Mesmo
assim, possui poesia e principalmente sensualidade.
Em minha versão, a música original sofre alguns cortes. Eu não
queria converter a música de Delibes em movimento, mas sim
criar uma tensão visual, um confronto entre essa música de fácil
assimilação e a dança.
Folha - Que significado o mito
de Diana assume em sua versão?
Neumeier - Diana representa algo como uma lei, uma regra, mas
também uma pessoa de carne e
osso. Para as cenas de Diana, eu
utilizei música de uma outra obra
de Delibes, a fim de reforçar o peso do seu papel e para elaborar
mais o seu conteúdo.
Folha - O Balé de Hamburgo
acaba de apresentar em Paris
sua versão de "O Lago dos Cisnes", inspirada no rei Ludwig da
Baviera, sugerindo sua homossexualidade. Por que relacionar
tal personalidade a esse balé?
Neumeier - Na versão original
de "O Lago dos Cisnes", o personagem masculino principal, o
Príncipe Sigfried, é a figura menos
viva de toda a história. Nem mesmo a música lhe atribui um tema
próprio. A ligação com Ludwig 2º
me deu a oportunidade de criar
um personagem central que, para
mim, é verossímil do ponto de
vista humano, em torno do qual
eu posso agrupar uma série de outros personagens menos vivos,
talvez um tanto unidimensionais.
Esse personagem central, apesar
das modificações do enredo, não
trai o tema fundamental de "O Lago dos Cisnes", que é a não realização do amor. Pelo contrário, até
o aprofunda.
Além disso, há paralelos humanos espantosos entre os dois personagens: tanto Sigfried como
Ludwig 2º aparentam ser príncipe
e rei, sem querer sê-lo. Ambos se
sentem ligados ao homem simples do povo e detestam a corte e a
vida de cortesãos. Ambos devem
se casar e não querem. Aliás, suas
relações com as mulheres são semelhantes. Ambos talvez sejam
considerados loucos pelas pessoas que os cercam. Um e outro
têm a vivência de que o amor não
se realiza ou que eles não conseguem realizá-lo. E ambos morrem afogados!
Espetáculo: Sylvia, com o Balé de
Hamburgo
Quando: de 11 a 13/4, às 20h30
Onde: Teatro Municipal de São Paulo
(pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 0/xx/
11/223-3022)
Quanto: de R$ 20 a R$ 120
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