São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2000


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Versão modernizada preserva música original e evita o kitsch

especial para a Folha


Transportada para a modernidade, "Sylvia" perde sua condição mitológica para ganhar dimensão humana e universal. Em vez do ser sobrenatural, casto e dedicado à arte da caça que descobre seus traços humanos ao se apaixonar pelo pastor Amintas, a Sylvia de Neumeier é uma mulher forte, lutadora e atlética.
"No fundo não mantive nada da versão original, a não ser a música e o título", diz Neumeier. Convencido de que o libreto kitsch, escrito originalmente por Jules Barbier e Baron de Reinach, não faria o menor sentido na época atual, o coreógrafo optou por uma solução simples.
"Preferi compor imagens de dança em torno de uma mulher que se divide entre a agressão e a doçura, a atitude de defesa e a entrega, e que tem de experimentar a sensualidade e a paixão antes de descobrir o amor simples e despretensioso.
Segundo Neumeier, o papel de Sylvia será alternado no Brasil pelas bailarinas Heather Jurgensen e Elisabeth Loscavio.
"Para encarnar a personagem, as intérpretes têm de ter força, profundidade emocional e a capacidade de representar uma transformação. No início do balé, Sylvia é uma menina e, mais tarde, uma mulher madura."
Para inserir Sylvia em um ambiente contemporâneo, Neumeier convidou o grego Yannis Kokkos para conceber cenários e figurinos.
Também valorizando a simplicidade, Kokkos fez do verde e do azul as cores predominantes de um espaço limpo, pontuado apenas por três árvores altas, pintadas no painel de fundo.
Nesse espaço "capaz de respirar", Neumeier despojou-se da narrativa, para basear seu balé nas impressões de sentimentos.
Com isso, "Sylvia" chega ao limiar do século 21 livre da coreografia canhestra criada há quase 125 anos por Louis Mérante, cuja história foi adaptada de um drama pastoril de Torquato Tasso (1544-1595), considerado o maior poeta italiano da Renascença.
Embora bem menos encenado do que "Coppelia", que também contou com a brilhante orquestração do compositor francês Léo Delibes, "Sylvia" marca a história do balé por ter lançado uma idéia emancipada do personagem feminino que dominou a dança romântica.
"Em vez da fada temos a caçadora", ressalta Neumeier.
Obra inaugural do Palais Garnier, edifício construído para abrigar a Ópera de Paris, "Sylvia" também se tornou, indiretamente, uma peça chave da modernidade.
Entre 1900 e 1901, ao propor uma versão anticonvencional da obra ao Teatro Maryinsky de São Petersburgo, o empresário russo Diaghilev, então com 27 anos, provocou polêmica. Demitido, fundou os Ballets Russes, podendo então concretizar um movimento de renovação na dança. (AFP)


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