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Versão modernizada preserva música original e evita o kitsch
especial para a Folha
Transportada para a modernidade, "Sylvia" perde sua condição
mitológica para ganhar dimensão
humana e universal. Em vez do
ser sobrenatural, casto e dedicado
à arte da caça que descobre seus
traços humanos ao se apaixonar
pelo pastor Amintas, a Sylvia de
Neumeier é uma mulher forte, lutadora e atlética.
"No fundo não mantive nada da
versão original, a não ser a música
e o título", diz Neumeier. Convencido de que o libreto kitsch,
escrito originalmente por Jules
Barbier e Baron de Reinach, não
faria o menor sentido na época
atual, o coreógrafo optou por
uma solução simples.
"Preferi compor imagens de
dança em torno de uma mulher
que se divide entre a agressão e a
doçura, a atitude de defesa e a entrega, e que tem de experimentar
a sensualidade e a paixão antes de
descobrir o amor simples e despretensioso.
Segundo Neumeier, o papel de
Sylvia será alternado no Brasil pelas bailarinas Heather Jurgensen e
Elisabeth Loscavio.
"Para encarnar a personagem,
as intérpretes têm de ter força,
profundidade emocional e a capacidade de representar uma
transformação. No início do balé,
Sylvia é uma menina e, mais tarde, uma mulher madura."
Para inserir Sylvia em um ambiente contemporâneo, Neumeier convidou o grego Yannis
Kokkos para conceber cenários e
figurinos.
Também valorizando a simplicidade, Kokkos fez do verde e do
azul as cores predominantes de
um espaço limpo, pontuado apenas por três árvores altas, pintadas no painel de fundo.
Nesse espaço "capaz de respirar", Neumeier despojou-se da
narrativa, para basear seu balé nas
impressões de sentimentos.
Com isso, "Sylvia" chega ao limiar do século 21 livre da coreografia canhestra criada há quase
125 anos por Louis Mérante, cuja
história foi adaptada de um drama pastoril de Torquato Tasso
(1544-1595), considerado o maior
poeta italiano da Renascença.
Embora bem menos encenado
do que "Coppelia", que também
contou com a brilhante orquestração do compositor francês Léo
Delibes, "Sylvia" marca a história
do balé por ter lançado uma idéia
emancipada do personagem feminino que dominou a dança romântica.
"Em vez da fada temos a caçadora", ressalta Neumeier.
Obra inaugural do Palais Garnier, edifício construído para
abrigar a Ópera de Paris, "Sylvia"
também se tornou, indiretamente, uma peça chave da modernidade.
Entre 1900 e 1901, ao propor
uma versão anticonvencional da
obra ao Teatro Maryinsky de São
Petersburgo, o empresário russo
Diaghilev, então com 27 anos,
provocou polêmica. Demitido,
fundou os Ballets Russes, podendo então concretizar um movimento de renovação na dança.
(AFP)
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