São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2001

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EVENTO

Governo é coadjuvante involuntário de debate em torno do geógrafo; presidente é criticado

Milton Santos discute o território brasileiro

ESPECIAL PARA A FOLHA

Se a globalização foi apontada como personagem implícito do novo livro de Milton Santos, "O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século 21" (Record), o governo federal acabou por se tornar coadjuvante involuntário do debate em torno do geógrafo e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), anteontem à noite no auditório da Folha.
O presidente Fernando Henrique foi criticado por Santos porque teria feito o Brasil "renunciar a participar desse período histórico como ator dinâmico, preferindo ser passivo". Já o ministro da Educação, Paulo Renato, foi o alvo do debatedor Octavio Ianni, professor emérito de sociologia da USP e da Unicamp, por sua proposta educacional para o país, "escrita pelo Banco Mundial e que ele apenas traduziu". A platéia aplaudiu.
Outra debatedora, Ana Clara Torre Ribeiro, professora-adjunta do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ e membro da Sociedade Brasileira de Bioética, também citou o ministro Paulo Renato para concordar com Ianni.
Participou ainda do debate, mediado pela repórter da Ilustrada Sylvia Colombo, a argentina María Laura Silveira, pesquisadora do CNPq no Departamento de Geografia da USP e professora-assistente na Universidade Nacional de Comahue (Argentina), co-autora do livro de Milton Santos.
Falando sobre a questão geográfica, alvo de seu livro, Santos disse ter querido "dar a palavra" ao território. "É preciso dizer que esse território brasileiro já não é governado pelos governos", disse. Sua parceira no livro também falou do território como "ator" histórico. "Quisemos contar a história do Brasil contemporâneo a partir do uso do território", afirmou María Laura Silveira.
Octavio Ianni disse achar "sintomático" o fato de estarem aparecendo muitos livros sobre o Brasil nos últimos anos, como o do professor Milton Santos. "Há algo no ar que favorece isso. Minha intuição é de que o país está vivendo um impasse muito sério, por isso há tantos livros tentando responder "que país é este'", disse.
"Estamos diante de um clássico brasileiro e isso é raro", elogiou Ana Clara Ribeiro, se referindo ao novo livro do geógrafo. "É história, mas não dos historiadores ou dos sociólogos, porque leva em conta o tempo e o espaço."
Milton Santos ironizou a primeira pergunta que lhe foi feita por um membro da platéia, sobre a distribuição do negro nos quatro territórios propostos por ele em seu novo livro. "A questão do negro é um tema que me interessou marginalmente em minhas pesquisas. Não me agrada que os negros se ocupem só das questões sobre os negros", disse.


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