São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2001 |
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FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA Peça transcreve depoimentos inéditos da carioca, que viveu em manicômios Acre leva ao palco delírio da doméstica Stella do Patrocínio
VALMIR SANTOS ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA Óculos, vestido azul, bolsa branca e... doida. Eis uma das autodescrições da doméstica carioca Stella do Patrocínio (1941?-1992), colhida da fala poética e eloquente com a qual se expressava nos pátios dos manicômios, sua "morada" por 30 anos. Ao sublimar o universo verbal paralelo, ela sobreviveu seus derradeiros 26 anos na extinta Colônia Júlio Moreira, hoje Instituto Municipal Juliano Moreira, no Rio, o mesmo teto de Arthur Bispo do Rosário. Gravados em meados dos anos 80, os depoimentos da doméstica -internada sob diagnóstico de esquizofrenia e personalidade psicopática- foram adaptados para o palco no monólogo "Stella do Patrocínio", de Rio Branco (AC), que estréia hoje na programação do Fringe, a mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, que vai até domingo. O espetáculo estreou em outubro de 2000 e fez cinco apresentações na capital do Acre, onde não há tradição de temporada. A atriz Clarisse Baptista, 36, a diretora Laélia Rodrigues, o iluminador Luiz Rabicó e a produtora Nena Mubárac viajaram 12 horas de avião para participar do evento em Curitiba. Constituem exemplo da abrangência geográfica do Fringe este ano: há peças de Cuiabá, Goiânia, Feira de Santana (BA), Brasília, Lages (SC) e Porto Alegre, entre outras cidades. Em 97, quando leu a transcrição das falas de Stella, Clarisse deduziu que "era muito teatral". Visitou instituições psiquiátricas do Rio e do Acre e obteve direitos autorais para encenação com o Museu Bispo do Rosário (os depoimentos nunca foram publicados). "Ela fala sobre si, sobre morte, religião, sexo, sobre a dor provocada por eletrochoques, enfim, tudo com uma erudição simples, seca, que não combina com sua realidade", diz Clarisse. Após três sessões em Curitiba, "Stella do Patrocínio" estará no Rio, no Espaço Cultural Sérgio Porto, de 10 de abril a 2 de maio. O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do Festival de Teatro de Curitiba Texto Anterior: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Voluntário Próximo Texto: Destaques de hoje Índice |
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