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CINEMA/ESTRÉIA
"REDEMOINHO"
Longa do canadense Denis Villeneuve foi exibido na 25ª Mostra BR de Cinema de São Paulo, em 2001
Cineasta usa peixes para tratar de morte
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REDAÇÃO
A morte bate à porta. A várias
portas, na verdade. O primeiro a
morrer é um peixe, insistente em
contar uma história que, segundo
ele, resume todos os segredos da
humanidade. Ele não tem muito
tempo. Nasceu peixe e, em minutos, deve estar morto.
Assim começa "Redemoinho",
dirigido pelo canadense Denis Villeneuve, 35, que estréia hoje, após
ter sido exibido na 25ª Mostra BR
de Cinema de São Paulo, em outubro do ano passado.
"O peixe é o ancestral da raça
humana, já que todos viemos da
água. Eu gosto da idéia de que na
minha alma ainda haja "remanescências" de peixes", conta o diretor, em entrevista por e-mail à Folha, enquanto finaliza um novo
roteiro, do qual faz segredo.
"O personagem está fora da história que vai narrar e tem uns
poucos segundos para passar sua
mensagem, como se funcionasse
como a inconsciência. Acredito
que contar histórias é uma linda
maneira de combater a morte."
O segundo a morrer é alguém
que nem chegou a nascer. Desiludida com os rumos de sua própria
vida, uma jovem empresária (Marie-Josée Croze) vê suas escolhas
desmoronarem diante de si.
Um aborto lhe parece o caminho mais fácil. As tragédias se sucedem: sua firma vai à falência, ela
atropela um trabalhador de uma
peixaria, pensa em suicídio.
"O aborto é um perfeito exemplo de que não nos damos conta
do significado de certos atos. Sou
a favor de as pessoas terem suas
responsabilidades -e responderem por elas. Mas me parece que
perdemos nosso senso crítico e,
com isso, as instituições acabam
sendo destruídas. Estamos vivendo uma espécie de tendência patológica à mentira", afirma.
Com toques surrealistas, Denis
Villeneuve se deixa influenciar
pelas fábulas dos irmãos Grimm.
"Redemoinho" é a minha homenagem para todos os contadores
de histórias", diz ele.
"Uso e abuso da lógica de uma
metáfora. Meu filme só faz sentido se for visto como fábula", completa o diretor.
Inserido na cinematografia canadense, o diretor se considera
um intruso tanto no francês como
no inglês -línguas oficiais de sua
terra natal.
"Além disso, a produção canadense ainda é muito jovem e incipiente. Vejo ainda muito trabalho
a fazer pela frente -e gosto disso.
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Egoyan e [Jean-Claude] Lauzon",
analisa Villeneuve.
Lançado na semana pós-cerimônia do Oscar, o canadense
considera o prêmio uma bobagem. "É apenas marketing. Não
tem nada a ver com a história do
cinema", diz. "Mas, claro, que, se
um dia eu estiver entre os indicados, vou ficar exultante e comemorar. Isso também faz parte da
lógica do sistema."
Apesar disso, "Redemoinho" já
acumula 26 prêmios por todo o
mundo. Seu diretor não se importa: "Troféus não têm nenhuma relação direta com fazer arte".
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