São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 2002

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CRÍTICA

Narrador não conduz a lugar nenhum

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Não há muito como explicar que o cinema seja o lugar de certas idéias que não levam a parte nenhuma. A do filme canadense "Redemoinho" é a narração feita por um peixe.
É verdade que o filme de Denis Villeneuve tem a ver com peixes, já que a protagonista Bibi (Marie-Josée Croze) atropela e mata, a horas tantas, um trabalhador da indústria da pesca.
Mas está longe de ser verdade que os peixes tenham algo de realmente substancial a ver com essa história, que desde as primeiras imagens coloca a morte no centro dos acontecimentos.
Primeiro, mostra-se Bibi fazendo um aborto. Depois, a depressão relacionada com seus desencontros amorosos, os problemas financeiros que atingem sua pequena loja e, finalmente, o atropelamento do operário.
Tudo isso e o que vem a seguir não tem nenhuma necessidade intrínseca de ser narrado por alguém exterior à história -e muito menos por um peixe. De maneira que essa idéia extemporânea parece destinada antes de mais nada a impressionar o espectador. Trata-se apenas de uma frivolidade, como se o realizador deste filme se achasse no dever de brandir sua originalidade. O que é realmente problemático nisso tudo é que, peixe à parte, "Redemoinho" pode não ser um espetáculo inesquecível, mas também não é indigno. Existe ali a história da depressão de uma jovem, sua errância, a inesperada descoberta da possibilidade de nova vida etc.
Nada é revolucionário, nada é desprezível. Nada leva muito longe, nada é capaz de aborrecer o espectador. Há, de passagem, aquele quê de esquisitice tão característico do cinema canadense, que a presença do peixe-narrador parece ter a intenção de acentuar, mas que na verdade acaba por obscurecer. Se existe uma compensação ao peixe-narrador -de feiúra tão exemplar quanto supérflua é sua presença-, ela vem da atriz. Marie-Josée Croze é tão bela quanto eficiente.



Redemoinho
Maelström

  
Direção: Denis Villeneuve
Produção: Canadá, 2000
Com: Marie-Josée Croze, Jean-Nicholas Verrault, Stephanie Morgenstern
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco




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