|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Narrador não conduz a lugar nenhum
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Não há muito como explicar
que o cinema seja o lugar de
certas idéias que não levam a parte nenhuma. A do filme canadense "Redemoinho" é a narração
feita por um peixe.
É verdade que o filme de Denis
Villeneuve tem a ver com peixes,
já que a protagonista Bibi (Marie-Josée Croze) atropela e mata, a
horas tantas, um trabalhador da
indústria da pesca.
Mas está longe de ser verdade
que os peixes tenham algo de realmente substancial a ver com essa
história, que desde as primeiras
imagens coloca a morte no centro
dos acontecimentos.
Primeiro, mostra-se Bibi fazendo um aborto. Depois, a depressão relacionada com seus desencontros amorosos, os problemas
financeiros que atingem sua pequena loja e, finalmente, o atropelamento do operário.
Tudo isso e o que vem a seguir
não tem nenhuma necessidade
intrínseca de ser narrado por alguém exterior à história -e muito menos por um peixe. De maneira que essa idéia extemporânea parece destinada antes de
mais nada a impressionar o espectador. Trata-se apenas de uma
frivolidade, como se o realizador
deste filme se achasse no dever de
brandir sua originalidade. O que é
realmente problemático nisso tudo é que, peixe à parte, "Redemoinho" pode não ser um espetáculo
inesquecível, mas também não é
indigno. Existe ali a história da depressão de uma jovem, sua errância, a inesperada descoberta da
possibilidade de nova vida etc.
Nada é revolucionário, nada é
desprezível. Nada leva muito longe, nada é capaz de aborrecer o espectador. Há, de passagem, aquele quê de esquisitice tão característico do cinema canadense, que
a presença do peixe-narrador parece ter a intenção de acentuar,
mas que na verdade acaba por
obscurecer. Se existe uma compensação ao peixe-narrador -de
feiúra tão exemplar quanto supérflua é sua presença-, ela vem
da atriz. Marie-Josée Croze é tão
bela quanto eficiente.
Redemoinho
Maelström
Direção: Denis Villeneuve
Produção: Canadá, 2000
Com: Marie-Josée Croze, Jean-Nicholas
Verrault, Stephanie Morgenstern
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: "Nem Gravata nem Honra": Masagão estréia filme nascido na edição Índice
|