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CINEMA
Austríaco era tido como um dos maiores diretores da América, com obras como "Quanto Mais Quente Melhor"
Billy Wilder morre aos 95, na Califórnia
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Morreu anteontem nos Estados
Unidos o maior e mais cínico diretor norte-americano, que na
verdade não era americano e não
dirigia mais desde 1981. Billy Wilder tinha 95 anos, nasceu na Áustria e seu último filme foi "Amigos
Amigos, Negócios à Parte".
É difícil dizer qual sua obra
principal: "O Crepúsculo dos
Deuses" (1950), o mais cruel e verdadeiro raio-X de Hollywood? "A
Montanha dos Sete Abutres"
(1951), um dos filmes seminais sobre jornalismo? "O Pecado Mora
ao Lado" (1955), que consagrou
Marilyn Monroe como comediante? "Quanto Mais Quente
Melhor" (1959), para muitos a
melhor comédia americana de todos os tempos?
Billy Wilder morreu na noite de
quarta-feira, em decorrência de
pneumonia, em sua casa, em Beverly Hills (cidade ao lado de
Hollywood, no Estado da Califórnia). Chegou a ser internado em
dezembro passado com dificuldades de respiração. Deixa uma filha, Victoria, e a segunda mulher,
a ex-cantora Audrey Young.
Foi para ela, aliás, que ele sussurrou uma das mais originais declarações de amor já feitas: "Querida, eu beijaria o chão em que você pisa se você morasse numa vizinhança melhor".
Cem palavras em inglês
Samuel Wilder nasceu em 22 de
junho de 1906 em Sucha, então
parte do Império Austro-Húngaro e hoje na Polônia, e trabalhou
como jornalista em Berlim antes
de se mudar para Hollywood em
1933, com a chegada de Hitler ao
poder. Veio aos EUA sabendo
cem palavras em inglês. Passou a
assinar Billie, como sua mãe o
chamava, que viraria depois Billy.
Em 50 anos de carreira, dirigiu
26 longas-metragens, produziu e
escreveu roteiros de outros tantos, foi indicado ao Oscar 21 vezes
e ganhou seis estatuetas, duas delas como diretor. Estreou na direção em 1934, com "Mauvaise
Graine" (Semente Maldita), dirigido em Paris ("uma cidade em
que você não consegue rasgar o
papel higiênico, mas o dinheiro se
dissolve em suas mãos").
Em Hollywood, seu primeiro
trabalho foi o roteiro do filme
"Music of the Air", ainda em 1934.
A fama veio com a co-autoria do
roteiro de "Ninotchka", protagonizado por Greta Garbo e dirigido
pelo alemão Ernst Lubitsch em
1939, que lhe valeu a primeira indicação da Academia.
Em 1942, estreou na direção
com "A Incrível Suzana". Três
anos depois, ganharia os Oscar de
melhor diretor e melhor roteiro
pelo drama "Farrapo Humano".
É de 1950 sua, para muitos, obra-prima, "Crepúsculo dos Deuses",
com Gloria Swanson e William
Holden. É do ator a melhor definição do diretor: "Um cérebro
cheio de lâminas".
Foi homenageado pelo Festival
de Cannes em 1979 e pela Academia em 1988, com o Irving Thalberg Award; recebeu ainda o Writers Guild Laurel Award em 1980,
um tributo da Film Society do
Lincoln Center em 1982 e o American Film Institute's Life Achievement Award em 1986.
Billy Wilder pretendia dirigir
ainda "A Lista de Schindler", projeto que acabou sendo tomado e
executado por Steven Spielberg
em 1993. No fim da vida, reclamava que tinha boas idéias e queria
trabalhar, mas não era convidado:
"Trocaria todos estes prêmios pela oportunidade de dirigir apenas
mais um filme".
Paradoxalmente, nos últimos
anos o diretor via sua obra voltar a
despertar interesse, desta vez das
novas gerações. Em 2001, a alemã
Taschen lançou o monumental
(também em dimensões, 45cm
por 28cm) "Some Like It Hot", livro-homenagem à comédia com
Marylin Monroe, Tony Curtis e
Jack Lemmon.
(De "Se Meu Apartamento Falasse", de 1960, a seu último filme,
aliás, Wilder trabalharia sete vezes com o ator morto em 2001.)
Outros dois livros também aterrissaram há pouco nas livrarias
dos EUA: "Close Up on Sunset
Boulevard", de Sam Staggs, um
panorama da confecção de "O
Crepúsculo dos Deuses", e a minibiografia "Billy Wilder", do jornalista Glenn Hopp.
Além disso, deve sair em junho
a coletânea "Billy Wilder: Interviews", organizada por Robert
Horton. Também ganharam relançamentos recentes, em edições
bem-cuidadas e revistas de DVD,
clássicos como "Quanto Mais
Quente Melhor" e "O Pecado Mora ao Lado".
No Brasil, foi lançado em 1998
"Billy Wilder - E o Resto É Loucura", biografia do cineasta escrita
pelo crítico alemão Hellmuth Karasek, em que ele relembra em várias entrevistas como foi trabalhar
com Greta Garbo, Marilyn Monroe e Ernst Lubitsch, entre outros.
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