São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 2002

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CINEMA

Austríaco era tido como um dos maiores diretores da América, com obras como "Quanto Mais Quente Melhor"

Billy Wilder morre aos 95, na Califórnia

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Morreu anteontem nos Estados Unidos o maior e mais cínico diretor norte-americano, que na verdade não era americano e não dirigia mais desde 1981. Billy Wilder tinha 95 anos, nasceu na Áustria e seu último filme foi "Amigos Amigos, Negócios à Parte".
É difícil dizer qual sua obra principal: "O Crepúsculo dos Deuses" (1950), o mais cruel e verdadeiro raio-X de Hollywood? "A Montanha dos Sete Abutres" (1951), um dos filmes seminais sobre jornalismo? "O Pecado Mora ao Lado" (1955), que consagrou Marilyn Monroe como comediante? "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), para muitos a melhor comédia americana de todos os tempos?
Billy Wilder morreu na noite de quarta-feira, em decorrência de pneumonia, em sua casa, em Beverly Hills (cidade ao lado de Hollywood, no Estado da Califórnia). Chegou a ser internado em dezembro passado com dificuldades de respiração. Deixa uma filha, Victoria, e a segunda mulher, a ex-cantora Audrey Young.
Foi para ela, aliás, que ele sussurrou uma das mais originais declarações de amor já feitas: "Querida, eu beijaria o chão em que você pisa se você morasse numa vizinhança melhor".

Cem palavras em inglês
Samuel Wilder nasceu em 22 de junho de 1906 em Sucha, então parte do Império Austro-Húngaro e hoje na Polônia, e trabalhou como jornalista em Berlim antes de se mudar para Hollywood em 1933, com a chegada de Hitler ao poder. Veio aos EUA sabendo cem palavras em inglês. Passou a assinar Billie, como sua mãe o chamava, que viraria depois Billy.
Em 50 anos de carreira, dirigiu 26 longas-metragens, produziu e escreveu roteiros de outros tantos, foi indicado ao Oscar 21 vezes e ganhou seis estatuetas, duas delas como diretor. Estreou na direção em 1934, com "Mauvaise Graine" (Semente Maldita), dirigido em Paris ("uma cidade em que você não consegue rasgar o papel higiênico, mas o dinheiro se dissolve em suas mãos").
Em Hollywood, seu primeiro trabalho foi o roteiro do filme "Music of the Air", ainda em 1934. A fama veio com a co-autoria do roteiro de "Ninotchka", protagonizado por Greta Garbo e dirigido pelo alemão Ernst Lubitsch em 1939, que lhe valeu a primeira indicação da Academia.
Em 1942, estreou na direção com "A Incrível Suzana". Três anos depois, ganharia os Oscar de melhor diretor e melhor roteiro pelo drama "Farrapo Humano". É de 1950 sua, para muitos, obra-prima, "Crepúsculo dos Deuses", com Gloria Swanson e William Holden. É do ator a melhor definição do diretor: "Um cérebro cheio de lâminas".
Foi homenageado pelo Festival de Cannes em 1979 e pela Academia em 1988, com o Irving Thalberg Award; recebeu ainda o Writers Guild Laurel Award em 1980, um tributo da Film Society do Lincoln Center em 1982 e o American Film Institute's Life Achievement Award em 1986.
Billy Wilder pretendia dirigir ainda "A Lista de Schindler", projeto que acabou sendo tomado e executado por Steven Spielberg em 1993. No fim da vida, reclamava que tinha boas idéias e queria trabalhar, mas não era convidado: "Trocaria todos estes prêmios pela oportunidade de dirigir apenas mais um filme".
Paradoxalmente, nos últimos anos o diretor via sua obra voltar a despertar interesse, desta vez das novas gerações. Em 2001, a alemã Taschen lançou o monumental (também em dimensões, 45cm por 28cm) "Some Like It Hot", livro-homenagem à comédia com Marylin Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon.
(De "Se Meu Apartamento Falasse", de 1960, a seu último filme, aliás, Wilder trabalharia sete vezes com o ator morto em 2001.)
Outros dois livros também aterrissaram há pouco nas livrarias dos EUA: "Close Up on Sunset Boulevard", de Sam Staggs, um panorama da confecção de "O Crepúsculo dos Deuses", e a minibiografia "Billy Wilder", do jornalista Glenn Hopp.
Além disso, deve sair em junho a coletânea "Billy Wilder: Interviews", organizada por Robert Horton. Também ganharam relançamentos recentes, em edições bem-cuidadas e revistas de DVD, clássicos como "Quanto Mais Quente Melhor" e "O Pecado Mora ao Lado".
No Brasil, foi lançado em 1998 "Billy Wilder - E o Resto É Loucura", biografia do cineasta escrita pelo crítico alemão Hellmuth Karasek, em que ele relembra em várias entrevistas como foi trabalhar com Greta Garbo, Marilyn Monroe e Ernst Lubitsch, entre outros.



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