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CRÍTICA
Estrutura é de conto de fadas
DO CRÍTICO DA FOLHA
Qual a razão do sucesso de
Paulo Coelho? Em que se pesem as diferenças entre este novo
romance e suas ficções anteriores,
podemos apostar em duas.
Primeiro, um certo desapego à
realidade. Os personagens são típicos demais, seus pensamentos
às vezes lhes parecem desconectados e a trama está sujeita a toda a
sorte de abstrações. Essa liberdade permite que a obra flerte com a
fantasia, agradando os fãs.
Em segundo lugar, há uma tendência a misturar narrativa e lição
de vida. A história escapa a seus
moldes e aponta para conclusões
morais. O leitor ganha duas obras
em uma: ficção e auto-ajuda.
"Onze Minutos" tem essas características mesmo baseando-se
em fatos da realidade, mesmo tratando de uma experiência alheia
ao autor e mesmo enfocando o tema "delicado, contundente, chocante" do sexo e da prostituição.
Maria é uma jovem nordestina
ingênua que, em seu primeiro dia
no Rio, cai na lábia de um gringo
que a leva para fazer shows eróticos na Suíça. Em Genebra, ela percebe que seu contrato a força a
uma semi-escravidão. Rebela-se.
Cai na vida. Encontra o amor.
A heroína prova o sadomasoquismo, mas até ele é tratado como uma demanda pelo autoconhecimento, uma "aventura". É
preciso, ela descobre, "soltar a fera selvagem", pois "o sexo, a dor e
o amor são experiências limites".
O autor inicia o livro com "Era
uma vez" e se pergunta se a abertura clássica de histórias infantis
pode servir a um assunto adulto.
A verdade é que a narrativa não se
afasta demasiado da estrutura dos
contos de fadas.
Há a moça pobre com coração
de ouro. Há a jornada em busca
do crescimento interior. Há a fada
madrinha (a Virgem Maria). Há
perigos e vilões. Há até o príncipe
encantado, que surge como um
pintor rico, jovem e bonito, que
diz reconhecer a "luz" que emana
sob a capa mundana da meretriz.
Irresistível? Seus milhões de fãs
dizem que sim.
(MARCELO PEN)
Onze Minutos
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Autor: Paulo Coelho
Editora: Rocco
Quanto: R$ 29,50 (256 págs.)
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