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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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CRÍTICA

Estrutura é de conto de fadas

DO CRÍTICO DA FOLHA

Qual a razão do sucesso de Paulo Coelho? Em que se pesem as diferenças entre este novo romance e suas ficções anteriores, podemos apostar em duas.
Primeiro, um certo desapego à realidade. Os personagens são típicos demais, seus pensamentos às vezes lhes parecem desconectados e a trama está sujeita a toda a sorte de abstrações. Essa liberdade permite que a obra flerte com a fantasia, agradando os fãs.
Em segundo lugar, há uma tendência a misturar narrativa e lição de vida. A história escapa a seus moldes e aponta para conclusões morais. O leitor ganha duas obras em uma: ficção e auto-ajuda.
"Onze Minutos" tem essas características mesmo baseando-se em fatos da realidade, mesmo tratando de uma experiência alheia ao autor e mesmo enfocando o tema "delicado, contundente, chocante" do sexo e da prostituição.
Maria é uma jovem nordestina ingênua que, em seu primeiro dia no Rio, cai na lábia de um gringo que a leva para fazer shows eróticos na Suíça. Em Genebra, ela percebe que seu contrato a força a uma semi-escravidão. Rebela-se. Cai na vida. Encontra o amor.
A heroína prova o sadomasoquismo, mas até ele é tratado como uma demanda pelo autoconhecimento, uma "aventura". É preciso, ela descobre, "soltar a fera selvagem", pois "o sexo, a dor e o amor são experiências limites".
O autor inicia o livro com "Era uma vez" e se pergunta se a abertura clássica de histórias infantis pode servir a um assunto adulto. A verdade é que a narrativa não se afasta demasiado da estrutura dos contos de fadas.
Há a moça pobre com coração de ouro. Há a jornada em busca do crescimento interior. Há a fada madrinha (a Virgem Maria). Há perigos e vilões. Há até o príncipe encantado, que surge como um pintor rico, jovem e bonito, que diz reconhecer a "luz" que emana sob a capa mundana da meretriz. Irresistível? Seus milhões de fãs dizem que sim. (MARCELO PEN)


Onze Minutos
  
Autor: Paulo Coelho Editora: Rocco Quanto: R$ 29,50 (256 págs.)



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