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LIVROS/LANÇAMENTOS
"ONZE MINUTOS"
Escritor lança seu primeiro livro depois de ingressar na ABL
"Meu trabalho sempre foi político", diz Paulo Coelho
MARCELO PEN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
De volta à Rocco, editora em
que se consagrou, o escritor Paulo
Coelho, 56, lança um livro em que
aborda a prostituição e o sadomasoquismo. Autor de obras em que
uma temática menos mundana
ajudou a vender quase 54 milhões
de exemplares em 150 países, o
ficcionista diz não temer desagradar seus leitores.
Segundo ele, embora "Onze Minutos" fale do submundo, não é
"nem sobre a prostituição nem
sobre as desventuras de uma
prostituta e sim sobre o processo
interior de uma pessoa na busca
por sua identidade sexual".
A pessoa é Maria, jovem nordestina que viaja à Suíça iludida
por promessas de estrelato e acaba optando pelo meretrício. O autor inspirou-se na história real de
uma mulher hoje casada, mãe de
dois filhos, e apoiou-se em depoimentos de várias colegas dela.
Para falar de "Onze Minutos", o
escritor recebeu a Folha em seu
apartamento em Copacabana, no
Rio. Acabou discorrendo também sobre a guerra no Iraque e
sobre os planos de Hollywood de
filmar seus romances. Leia, a seguir, trechos da entrevista.
Folha - Sua protagonista se tornou prostituta por causa de dificuldades financeiras?
Paulo Coelho - Não respondo a
essa pergunta no livro. Há um
momento em que a Maria faz
uma lista com as desculpas mais
usadas pelas pessoas que se prostituem. Nenhuma é totalmente
satisfatória. Procuro não julgar.
Para mim, continua sendo um
mistério. Mesmo quando ela pratica o sadomasoquismo, é antes
por uma vontade de desvendar
um mundo desconhecido.
Folha - Como em "A Bela da Tarde", de Luis Buñuel: não sabemos
por que a personagem de Catherine Deneuve se prostitui.
Coelho - E ela aceita tudo. O filme inspirou o nome de um dos
personagens do livro, o Terence.
Folha - O senhor escreveu um artigo, publicado pela Folha, "Obrigado, Presidente Bush", que alcançou enorme repercussão.
Coelho - Tornou-se o texto mais
lido na internet. Mas desagradou
muita gente também, sobretudo
nos EUA. Pediram à editora que
interrompesse a publicação de
meus livros. Disseram que estava
me metendo numa área que não é
a minha. Discordo. Meu trabalho
sempre foi político, no sentido de
questionar o comportamento.
Folha - Como o senhor analisa o
desenrolar da guerra no Iraque?
Coelho - Paul Valéry uma vez
disse que a guerra é um massacre
entre pessoas que não se conhecem para o benefício de pessoas
que se conhecem, mas não se
massacram. Vejo o conflito com
impotência e profunda amargura.
Por outro lado, percebemos que
os movimentos pacifistas não estão agindo em vão. A invasão está
sendo severamente vigiada.
Folha - Não acha o precedente político aberto pelos EUA perigoso?
Coelho - Dei uma entrevista a
uma revista árabe. Eles não concordaram comigo, mas acho que
esse precedente, como ele se desencadeou, sem o apoio da ONU,
sem o apoio das ruas, impede os
invasores de dar um passo além
do Iraque. Do contrário, haveria
uma desestabilização geral. Creio
que será o fim da doutrina Rumsfeld [Donald Rumsfeld, secretário
de Defesa dos EUA".
Folha - "Onze Minutos" está sendo lançado pela editora que o alçou
ao sucesso, a Rocco. E quanto aos
direitos de suas obras anteriores?
Coelho - Vão ficar com a Rocco.
No período em que estive na Objetiva, renovei duas vezes meu
contrato com a Rocco em relação
aos livros anteriormente publicados por ela.
Folha - Como andam os planos
para as filmagens de "O Alquimista" pela Warner Brothers?
Coelho - Falei com o Fishburne
[o ator Laurence Fishburne, de
"Matrix"", que vai dirigir o filme.
Estão em fase final de roteiro. Sou
muito cauteloso, mas me parece
que será um bom trabalho. No
passado fui convidado para ir a
Hollywood, mas não aceitei. Quero pagar o ingresso, ver o filme e
ter a liberdade de dizer se gostei.
Folha - Não há nenhuma outra
proposta?
Coelho - Gillian Anderson, a
atriz da série "Arquivo X", quer
filmar "Veronika Decide Morrer". Faz um ano que estamos
conversando, mas ainda não assinamos nada. A proposta dela é
boa, mas ainda não estou muito
convencido. Prefiro esperar.
Folha - Como anda sua vida na
Academia Brasileira de Letras?
Coelho - A ABL representou
uma surpresa, pois tem superado
minhas expectativas mais otimistas. Quero trabalhar com ela no
sentido de levar o conjunto de escritores brasileiros para o exterior. Difundir a riqueza de nossa
cultura demanda um grande esforço conjunto.
Folha - Os estrangeiros desconhecem nossa literatura?
Coelho - Muitos nem sabem que
sou brasileiro; não é a maioria,
mas há leitores que julgam que
sou espanhol, francês, português.
Machado de Assis e Clarice Lispector estão restritos ao âmbito
universitário, infelizmente. Excetuando dois escritores que são
muito traduzidos, o Jorge Amado
e o José Mauro de Vasconcelos, a
presença da literatura brasileira
no exterior deixa a desejar.
O jornalista Marcelo Pen viajou a convite da editora Rocco.
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