São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
OPINIÃO "Bowie puro", álbum propõe reflexão sobre as implicações éticas da internet PAULO RICARDO ESPECIAL PARA A FOLHA Mais interessante que o fato de que há um novo álbum de David Bowie, o que é uma grande notícia -seu último trabalho de estúdio, "Reality", é de 2003-, é a circunstância na qual ele surge. Conceito cada vez mais corriqueiro, o álbum vazou na internet, como se fosse uma espécie de perigoso líquido radioativo. Até aí, tudo bem, álbuns e singles inéditos vazam todo dia dessa improvável caixa de Pandora que é a rede, por definição, cheia de buracos. Mas este caso é diferente. Desde "In Rainbows", do Radiohead, um lançamento não propunha tanta reflexão sobre as implicações éticas dessa tecnologia na vida de artistas, fãs e oportunistas. Quando eu era garoto, haviam os chamados "bootlegs", gravações raras e caríssimas, em geral de shows. Se o preço de um vinil importado era o triplo de um nacional, um pirata chegava a custar cinco vezes mais. Em suas capas de papel-cartão branco, com um folheto mimeografado à frente, cheiravam transgressão, tráfico, aventura, mas, acima de tudo, uma enorme devoção ao artista. Eram trabalhos que jamais seriam lançados por grandes gravadoras. Até em 1986, quando compus "Rádio Pirata", o termo ainda continha uma espécie de romantismo, idealismo, contracultura. Mas a coisa mudou. Não preciso explicar que pirataria passou a ser, simplesmente, crime. Mas nós, os fãs, usufruíamos desse acesso quase irresponsável que a internet propicia. Até que o Radiohead propôs que cada um pagasse quanto quisesse por "In Rainbows". O caso de Bowie, que surgiu no e-Bay e depois foi disponibilizado por um fã, foi ainda mais interessante. O CD é muito bom, Bowie puro, alguns momentos melancólicos se mesclando a outros mais dançantes, mas o fato é que, com esse brinquedo novo, as crianças estão se divertindo bastante. Mesmo tendo diminuído o ritmo desde sua cirurgia no coração, em 2003, Bowie continua sendo o avatar que sempre foi. "Starman." PAULO RICARDO é cantor, compositor e vocalista da banda RPM. TOY AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Vaza na internet inédito de David Bowie Próximo Texto: Crítica/Música Erudita: Estreia de Abel Rocha coloca OSM no caminho da ópera Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |