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POESIA
"Viagem de Inverno" reúne os livros de versos do escritor português Helder Macedo
O poeta precede o romancista
HEITOR FERRAZ
especial para a Folha
O romancista
português Helder
Macedo, autor de
"Pedro e Paula",
chega ao Brasil para
participar do Salão
de Idéias da Bienal Internacional
do Livro (ele participa do debate
"Literatura e Sociedade: A Outra
História", amanhã) e também para lançar sua poesia reunida, no
volume "Viagem de Inverno e
Outros Poemas".
Como seu conterrâneo José Saramago, Macedo também começou pelos versos antes de adentrar
a prosa. Seu primeiro livro, "Vesperal", foi publicado em 1957 e de
lá para cá ele nunca abandonou a
poesia. Na verdade, o romance é
coisa bem mais recente em sua
trajetória: o primeiro, "Partes de
África", é de 1991. Foi na poesia
que ele elaborou sua prosa requintada e seus temas de predileção, como se pode perceber ao ler
"Viagem de Inverno".
Professor titular da cátedra Camões do King's College, de Londres, Macedo é um lírico por excelência. Sua poesia é marcada
por um aprofundamento da subjetividade, um mergulho nas
questões essenciais, ou seja, a luta
travada diariamente entre a morte e o amor, ou como ele mesmo
resume: "Já cantei da morte/ já
cantei do amor/ estavam longe e
perto/ sabia-os de cor".
Desde "Vesperal", Macedo vem
explorando esse tema, revendo-o
sob vários ângulos, como o da individualidade do sujeito frente ao
outro, algo que também comparece no romance "Pedro e Paula".
Esse traço está fortemente registrado num de seus versos de juventude: "Nada redime o logro/
se a vida é o limite de ser outrem".
Certamente este é um dos traços
mais fortes de sua poesia. Em "Os
Trabalhos de Maria e o Lamento
de José", de 1966, ele reaparece
numa curiosa releitura da vida de
Cristo, no qual se vê a angústia de
José e Maria, um dos pontos altos
dessa poética, principalmente
quando José se lamenta, velho e
só, dizendo "Que venha a morte/
mas que seja minha".
Cada um dos livros de poesia de
Macedo talvez preceda o romancista, pois há neles uma forte organização que procura dar coesão
narrativa à sua lírica. Em "Viagem
de Inverno" (1999), que abre esta
reunião de poemas, o poeta parte
parodiando Dante: "A meio do
caminho/a mais de meia vida já
vivida/ reencontrei-me só na selva escura". E continua: "E não sei
de que lado está a morte/e não sei
se é o amor quem a sustenta...".
Neste livro, sua poesia chega um
pouco mais despojada, permitindo a entrada de maiores elementos prosaicos, como um hotel perdido na estrada, "vazio e duvidoso/ galo campestre em luxo desplumado/ e onde o chefe já perdera a estrela/ por exagero de maçã
nos molhos".
Por muitas vezes, porém, o rio
sai do leito e o poeta chega a se esparramar num tom confessional
que chega a ser um pouco cansativo. De qualquer forma, o lançamento pela Record dos poemas
de Macedo e, também recentemente, do belo livro "Poemas de
Eugénio Andrade", um dos mais
brilhantes escritores portugueses,
mostram preocupação em colocar os leitores brasileiros em
maior contato com a lírica moderna da "terrinha". Seja para
gostar ou não.
Avaliação:
Livro: Viagem de Inverno
Autor: Helder Macedo
Editora: Record
Quanto: R$ 25 (192 págs.)
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