São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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TRECHO

"As florinhas lilases das árvores da rua Pernambuco já estavam começando a desabrochar quando ele saiu para o trabalho. Parecia muito satisfeito nessa manhã, tinha lido uma crítica elogiosa de Caio Porfírio Carneiro e o discípulo Carlos Augusto Calil já tinha falado com entusiasmo sobre o livro. Antes, me avisou, no começo do próximo ano iríamos vagabundear em Paris, mas vagabundear mesmo, nenhum compromisso, hein? Saiu e não voltou, bem como sempre disse que queria que acontecesse, assim de repente. Sim, quase primavera, chegou a ver o começo das florinhas, mas não chegou a ver o débil alvorecer da democracia após os Anos de Chumbo. Há uma soma de seres que eu amei e que já se foram mas, de um certo modo, eles ficaram um pouco em mim. É difícil explicar com clareza, mas eu chamaria assim, uma espécie de legado. E o fato é que me impregnei desse legado lá no indefinível que nos habita, a alma."
De "Um Retrato",
texto de "Durante Aquele Estranho Chá"



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