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BARBARA GANCIA
Palavrão é bom e eu gosto
Dizem que fui entrevistada
pelo Clodovil e que foi um
episódio jamais visto na TV brasileira. Digo "dizem" porque não
sei ao certo se fui mesmo entrevistada pelo Clô. Quando é gente como o Jô ou o Clô-Clô, fico tão atacada que não sei nunca dizer o
que houve "durante". No máximo, consigo atinar como cheguei
e como saí do estúdio de gravação. Mas, de tão nervosa, nunca
sei o que houve entrementes.
Só me dei conta do que realmente ocorreu quando uma das
irmãs Cajazeira -lembra?- e
também a voz tapuia da Bette
Davis, a gloriosa Ida Gomes, ligou
para minha tresloucada amiga
Bucicleide a fim de comentar nota publicada na coluna da Hildegard Angel no "O Globo", no dia
seguinte à entrevista. Dizia qualquer coisa nas seguintes linhas:
"Perguntada durante conversa
com Clodovil qual era a cor de
sua cueca, a colunista da Folha
Barbara Gancia respondeu: "Consulte sua santa mãezinha".".
Teve pior. Quem não está familiarizado com os procedimentos
de uma gravação televisiva talvez
não saiba, mas hoje o microfone é
uma caixinha que a gente engancha na cintura com um fio com
alto-falante preso na lapela.
Pois eu estava tão paranóica
que, quando sentei no sofá do Clô,
de "prima", já saí dizendo: "Ups,
sentei no microfone!". Sentiu o
drama? Óbvio que a jararaca do
Clodovil já enveredou pela fenda
que abri no coração da Mãe Terra e seguiu em frente. O que se sucedeu, dizem, foi um dos maiores
desfiles de palavrões da história
da TV. Todos, perceba, ditos por
esta humilde datilógrafa.
No final da gravação, até pedi
ao Clô que, na edição, a fim de
não assassinar de susto a dona de
casa, ele tivesse a consideração de
pôr aqueles "bips", aquelas campainhas a cada palavrão, mas sabe como é a TV Gazeta.
Fato está que acabo de adentrar
o hall da fama do maior número
de palavrões por minuto de entrevista do país. Quer saber? Já tinha
ficado entalada na minha goela
aquela ida da Xuxa ao "Big Brother Brasil", quando a rainha dos
baixinhos passou um sermão na
turma em razão da quantidade
de palavrões que eles usavam.
Aquilo me repugnou. Pertenço ao
tipo de família liberal em que palavrões nunca sofreram qualquer
tipo de censura. Câncer, na minha casa, sempre foi chamado de
"câncer" e ninguém nunca chamou ninguém de FDP para, necessariamente, ofender a mãe do
insultado.
Palavrões não querem dizer nada. São a forma mais inócua de se
indignar. Aliás, sempre desconfio
de gente que chama cocô de "cê-ó-cê-ó". Se a boca se sente imunda, imagine o resto.
E-mail: barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/
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