São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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BARBARA GANCIA

Palavrão é bom e eu gosto

Dizem que fui entrevistada pelo Clodovil e que foi um episódio jamais visto na TV brasileira. Digo "dizem" porque não sei ao certo se fui mesmo entrevistada pelo Clô. Quando é gente como o Jô ou o Clô-Clô, fico tão atacada que não sei nunca dizer o que houve "durante". No máximo, consigo atinar como cheguei e como saí do estúdio de gravação. Mas, de tão nervosa, nunca sei o que houve entrementes.
Só me dei conta do que realmente ocorreu quando uma das irmãs Cajazeira -lembra?- e também a voz tapuia da Bette Davis, a gloriosa Ida Gomes, ligou para minha tresloucada amiga Bucicleide a fim de comentar nota publicada na coluna da Hildegard Angel no "O Globo", no dia seguinte à entrevista. Dizia qualquer coisa nas seguintes linhas: "Perguntada durante conversa com Clodovil qual era a cor de sua cueca, a colunista da Folha Barbara Gancia respondeu: "Consulte sua santa mãezinha".".
Teve pior. Quem não está familiarizado com os procedimentos de uma gravação televisiva talvez não saiba, mas hoje o microfone é uma caixinha que a gente engancha na cintura com um fio com alto-falante preso na lapela.
Pois eu estava tão paranóica que, quando sentei no sofá do Clô, de "prima", já saí dizendo: "Ups, sentei no microfone!". Sentiu o drama? Óbvio que a jararaca do Clodovil já enveredou pela fenda que abri no coração da Mãe Terra e seguiu em frente. O que se sucedeu, dizem, foi um dos maiores desfiles de palavrões da história da TV. Todos, perceba, ditos por esta humilde datilógrafa.
No final da gravação, até pedi ao Clô que, na edição, a fim de não assassinar de susto a dona de casa, ele tivesse a consideração de pôr aqueles "bips", aquelas campainhas a cada palavrão, mas sabe como é a TV Gazeta.
Fato está que acabo de adentrar o hall da fama do maior número de palavrões por minuto de entrevista do país. Quer saber? Já tinha ficado entalada na minha goela aquela ida da Xuxa ao "Big Brother Brasil", quando a rainha dos baixinhos passou um sermão na turma em razão da quantidade de palavrões que eles usavam. Aquilo me repugnou. Pertenço ao tipo de família liberal em que palavrões nunca sofreram qualquer tipo de censura. Câncer, na minha casa, sempre foi chamado de "câncer" e ninguém nunca chamou ninguém de FDP para, necessariamente, ofender a mãe do insultado.
Palavrões não querem dizer nada. São a forma mais inócua de se indignar. Aliás, sempre desconfio de gente que chama cocô de "cê-ó-cê-ó". Se a boca se sente imunda, imagine o resto.

E-mail: barbara@uol.com.br

www.uol.com.br/barbaragancia/


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