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CRÍTICA
Estrangeiros vêem superfície da tropicália
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
"A Revolução Tropicalista", documentário que a
TV Cultura exibe na quinta-feira,
às 22h30, não foge da sina de um
documentário sobre o Brasil dirigido por estrangeiros.
Co-diretora com Yves Billon, a
francesa Dominique Dreyfus até
tem credencial para fazê-lo -já
escreveu biografias de Luiz Gonzaga e Baden Powell. Mas, neste
documentário sobre a tropicália,
caiu no conto da superficialidade.
E nem é tanto por se deter quase
exclusivamente nos pontos de
vista dos protagonistas Caetano
Veloso e Gilberto Gil. O que dói
mesmo no documentário é a realização amadorística, que a riqueza de imagens de arquivo suaviza,
mas não extermina.
Quando Baden Powell aparece
cantando (o que por si já é meio
forçado num documentário sobre
a tropicália), por exemplo, suas
imagens são intercaladas com tomadas caseiras de casais se beijando no Rio, moças atravessando a rua em Copacabana, táxis
passando no asfalto... Depois,
Carlos Lyra canta "Influência do
Jazz", e o pano de fundo são casais
dançando gafieira num teatro semivazio. Fica difícil levar a sério.
O documentário segue quase
sempre nesse pique de superficialidade e "samba do gringo doido".
Mas se revela, se justifica e se salva
no final, quando Caetano e Gil salpicam pitadas de afirmações inusitadas em suas falas.
Primeiro, Caetano conta que o
sonho da tropicália era ser "uma
nova esquerda" e que, apesar de
seu programa de adesão ao mercado, ele e Gil continuam "até hoje inimigos do capital".
Em seguida, um Gil pré-ministério oferece compreensão que foge do triunfalismo habitual dos
tropicalistas "vencedores". Afirma que a tropicália "é um movimento que foi a meio caminho",
que "semeou, mas não colheu". E
sorri, tristonho e lúcido.
A Revolução Tropicalista
Direção: Yves Billon e Dominique Dreyfus
Quando: quinta, às 22h30, na TV Cultura
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