São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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LITERATURA

Autor de "Noites Violentas no Brooklyn", escritor morreu na segunda, em conseqüência de doença pulmonar

De estilo enxuto, Selby Jr. descreveu EUA aterrador

DO "NEW YORK TIMES"

Morreu na última segunda-feira em Los Angeles, aos 75, Hubert Selby Jr., antigo marinheiro da Marinha Mercante que nasceu no Brooklyn, tornou-se dependente de drogas, passou a escrever depois de escapar da morte e acabou por criar uma visão duradoura do inferno em seu romance "Noites Violentas no Brooklyn".
A causa da morte foi uma doença pulmonar crônica, informou o filho, Bill Selby, segundo quem a morte do pai foi conseqüência de longo prazo da tuberculose que este contraiu quando foi marinheiro na Segunda Guerra.
Selby não tinha estudos formais e desdenhava a ordem rígida imposta por pontuação e trama. Seu estilo de escrever era direto e enxuto. Mas o que mais marcava seu trabalho eram o desespero e a solidão avassaladores que descreveu em termos tão chocantes que alguns de seus escritos foram proibidos por algum tempo nos EUA e, mais tarde, na Inglaterra, vistos como obscenos. Selby dizia não entender a razão dessas reações.
"Descrevo como as pessoas são", disse ele em 1988, referindo-se às curras, aos espancamentos brutais e às inúmeras perversidades descritas em "Noites Violentas". "Esses não são personagens literários -são pessoas reais. Eu conheci essas pessoas. Como pode alguém olhar dentro de si e surpreender-se com o ódio e a violência do mundo? Eles estão dentro de todos nós."
O livro descreve o submundo decadente do bairro portuário de Red Hook, na década de 50. A área é descrita como uma terra devastada, habitada por gangues, prostitutas e travestis. Quando o livro foi publicado, em 64, sua linguagem repulsiva e imagens aterradoras o tornaram difícil tanto de ser aceito quanto rejeitado.
Hubert Selby Jr. nasceu em 27 de julho de 1928, no Brooklyn (Nova York), filho de Adalin e Hubert Selby, este mineiro de carvão do Kentucky que serviu na Marinha Mercante por vários anos, até o nascimento do filho.
Durante a Segunda Guerra, Selby, pai, voltou à Marinha Mercante. Seu filho, apesar de ainda ser menor de idade, convenceu os recrutadores de que tinha idade suficiente para ingressar na Marinha. Enquanto trabalhou nela, contraiu tuberculose. Após se submeter a uma cirurgia radical e passar mais de um ano internado, os médicos não lhe previram qualquer chance de recuperação.
Selby se recuperou da doença, mas se tornou dependente da morfina que lhe fora administrada no hospital. E começou a beber. Sem outras perspectivas na vida, decidiu tentar escrever, embora tenha dito, certa vez, que nunca lera nada até ser adulto. Enquanto escrevia os contos que formam "Noites Violentas no Brooklyn", trabalhou como analista de seguros em Manhattan.
Apesar de seu tom árido e intransigente, a mensagem subjacente do livro, de redenção através da autodestruição, encontrou eco nos EUA, prestes a ingressar nos radicais anos 60.
Selby superou as dependências químicas e mudou-se para a Costa Oeste do país, onde escreveu vários outros livros, incluindo "Réquiem por um Sonho". Hubert Selby Jr. se casou três vezes. Ele deixa mulher e quatro filhos.


Tradução Clara Allain

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