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SAIBA MAIS
Político ficou refém de grupo radical por 55 dias
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Itália e boa parte do planeta
prenderam a respiração nos 55
dias em que Aldo Moro (1916-1978) permaneceu refém das
Brigadas Vermelhas, grupo terrorista da extrema esquerda
italiana, que finalmente o matou e abandonou seu corpo no
porta-malas de um Fiat no centro de Roma.
Catedrático em direito na
Universidade de Bari, duas vezes primeiro-ministro (1963-68
e 1974-76), era o mais erudito e
respeitado dirigente da Democracia Cristã, partido de centro-direita e hegemônico na
política italiana do pós-guerra.
Ele tinha uma espécie de "alma gêmea" na Itália partidária
dos anos 70: Enrico Berlinguer,
descendente da nobreza da
Sardenha e secretário-geral do
Partido Comunista Italiano.
Os 30 anos de polarização entre a DC e o PCI impediam uma
solução consensual para um
Estado em crise e incapaz de
dialogar com a sociedade sem o
apelo ao clientelismo.
Berlinguer (1922-1984) propôs como fórmula para a saída
da crise endêmica o chamado
"compromisso histórico", pelo
qual os comunistas e os democrata-cristãos assumiriam conjuntamente o governo em nome de um projeto de democracia que arejasse o Estado e o
tornasse capaz de responder às
demandas sociais.
Moro e Berlinguer não chegaram a colocar a idéia em prática. Foram violentamente
bombardeados por seus respectivos agregados radicalizados ou apegados à geopolítica
da Guerra Fria.
O democrata-cristão foi veladamente ameaçado por Henry
Kissinger, secretário de Estado
americano, em razão do plano
de convidar os comunistas para integrar o gabinete. O comunista, por sua vez, enfrentou
dissensões (deixou o partido a
ala esquerda, que se articulou
no grupo Il Manifesto, enquanto uma parcela da extrema esquerda - possivelmente não
mais que 500 clandestinos-
optou pela luta armada e criou
as Brigadas Vermelhas).
As brigadas seqüestraram
Moro em 16 de março de 1978,
quando, ao deixar sua casa, ele
percorria com cinco guarda-costas a via Fani e se dirigia à
Câmara dos Deputados, onde
pela primeira vez o PCI aprovaria um gabinete liderado por
um primeiro-ministro da DC,
no caso, Giulio Andreotti.
As brigadas, lideradas pelo
maoísta Renato Curcio, já estavam sendo desmanteladas numa eficaz operação judicial e de
inteligência. Os seqüestradores
ameaçaram matar o refém caso
seus presos não fossem soltos.
Cumpriram a ameaça, apesar
das intervenções de lideranças
italianas de todos os quadrantes e até do papa Paulo 6º, um
amigo pessoal do seqüestrado.
Anos depois, Berlinguer, um
amante de poemas e filosofia,
morreria de câncer. O Partido
Comunista mudou de nome.
Chama-se hoje PSD (Partido
da Esquerda Democrática). A
DC se desestruturaria em meio
a acusações de corrupção durante a "operação mãos limpas", desencadeada pelo Poder Judiciário em Milão.
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