São Paulo, Quinta-feira, 29 de Abril de 1999 |
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Um pouco de cólera
JOSÉ GERALDO COUTO da Equipe de Articulistas Em "Um Copo de Cólera", filme de Aluizio Abranches que estréia amanhã em São Paulo e no Rio, Julia Lemmertz e Alexandre Borges protagonizam a mais quente sequência de sexo do cinema brasileiro recente. Diante dos rumores de que os dois atores, que são casados na vida real, teriam "vivido de fato" o ato sexual diante das câmeras, eles esclarecem: é tudo mentira. Antes da filmagem, houve um intenso trabalho de preparação corporal, conduzido pela coreógrafa Angel Vianna, e as cenas foram ensaiadas exaustivamente. "Havia uma equação a ser cumprida. Não se tratava de Julia e Alexandre, mas dos personagens do filme", disse Julia Lemmertz à Folha, afastando qualquer semelhança entre seu trabalho e as cenas de "sexo real" de um filme como "O Império dos Sentidos". "Um Copo de Cólera", estréia de Abranches no longa-metragem, é uma adaptação da novela homônima de Raduan Nassar, de 1978, que narra 24 horas de amor e ódio na vida de um casal de amantes. Julia e Alexandre entregaram-se de tal maneira ao filme que se tornaram seus produtores associados, chegando a colocar algum dinheiro na sua realização. "O produto final do filme somos nós dois", disse Julia. "Foi o Aluizio Abranches que dirigiu, o Flávio Tambelini que produziu, mas somos nós que estamos ali para sempre, impressos na película. O fato de sermos produtores associados é mais uma assinatura." Para Alexandre Borges, o maior desafio da transposição do romance de Raduan Nassar para o cinema foi traduzir de modo físico "a emoção desenfreada que está no texto". "É difícil adequar um estado físico de ebulição à riqueza e à precisão das palavras do livro." Os dois atores também procuram diminuir a importância, para seu trabalho, do fato de serem casados. "Nossa cumplicidade maior é como atores que se respeitam e se estimulam, o que independe do fato de sermos casados", define Borges. O curioso é que, apesar do tom moralmente ousado de "Um Copo de Cólera", as relações familiares predominaram no set. Além do casal protagonista, atuaram em papéis menores o pai de Julia Lemmertz, Linneu Dias (como o caseiro Antonio), e a filha da atriz, Luiza (uma das crianças que aparecem no flashback evocado pelo protagonista). O pai de Alexandre Borges, o diretor teatral Tanah Correa, além de aparecer numa ponta (também no flashback), fez a preparação de voz dos atores. E um sobrinho de Borges, Lucas Piacentini, encarna seu personagem quando menino. Embora tenham atuado juntos nas peças "Eu Sei Que Vou Te Amar" e "Hamlet" e nos filmes "Um Copo de Cólera" e "Até Que a Vida Nos Separe", de José Zaragoza, Julia Lemmertz e Alexandre Borges têm desenvolvido com sucesso carreiras separadas. A atriz esteve recentemente em "A Hora Mágica" e "Tiradentes". É uma das protagonistas da peça "As Três Irmãs", de Tchecov, que excursiona pelo Brasil, e está na telenovela "Andando nas Nuvens". Borges, por sua vez, apareceu recentemente em "Amor & Cia." e está no elenco de "Senhorita Simpson", o novo filme de Bruno Barreto, em fase de finalização. Sobre o fato de sua personagem apresentar, em "Um Copo de Cólera", uma dicção mais naturalista do que a de seu parceiro, Julia Lemmertz explica: "Ao contrário dele, ela não se isolou. Ela está na roda, dialogando com o mundo. No próprio livro ela tem uma forma mais sarcástica e corriqueira de falar. Do lado dele tem uma coisa mais épica, em bloco". Texto Anterior: Outro Canal: Globo News discute ódio racial nos EUA Próximo Texto: Fêmea Índice |
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