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A obra "MUseum Cowllections", de Inês Raphaelian, uma das 30 vacas de projeto artístico que homenageia a Suíça

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir da próxima quinta-feira, quem circular pela cidade de São Paulo vai se deparar com inusitadas vacas no meio do caminho. Elas estarão espalhadas em 15 locais da cidade, como parte do Festival Suíça 2000, organizado pela Embaixada e pelo Consulado Geral da Suíça.
A manada paulista é uma versão reduzida do que ocorreu no ano passado, em Chicago, quando 300 vacas de poliéster, em tamanho natural, foram espalhadas pela cidade. Artistas locais foram encarregados de transformar as vacas em obras de arte.
São 30 vacas, que restaram do evento norte-americano, entregues a 27 artistas plásticos brasileiros e a três grupos de crianças e adolescentes de instituições beneficentes.
A escolha dos artistas, alguns dos mais representativos da arte contemporânea brasileira, foi feita por Luciana Brito e Fabio Cimino, da galeria Brito Cimino. As vacas estarão instaladas nos locais da cidade onde ocorrerão os eventos do Festival Suíça 2000 (veja quadro abaixo).
Nelson Leirner, que representou o Brasil na Bienal de Veneza de 1999, foi radical ao transformar sua escultura: ele criou uma vaca drag queen. "Quis mostrar o lado irônico da arte", declarou Leirner à Folha.

Projeto, apresentado pela primeira vez em Chicago (EUA), integra festival Suíça 200

"Foi muito divertido, pois essa história se tornou um assunto entre os artistas, que ficaram se telefonando para saber como era a vaca do outro", contou a artista plástica Inês Raphaelian.
Ela fez a vaca "MUseum Cowllections", uma crítica sobre "como a arte é tratada pela indústria cultural". Após um mês de discussão, a artista já havia se afeiçoado ao animal. "Agora sinto falta dela no meu quintal", brinca.
A vaca que Raphaelian utilizou está em pé, enquanto algumas surgem deitadas e outras pastando mesmo. É o caso da vaca de Regina Silveira, que recebeu o nome de "Im Pasto".
"Minha obra é uma síntese visual da vaca com o pasto que ela come, como se o de dentro brotasse para fora", disse a artista, que cobriu sua vaca de grama artificial.
Já o artista Caetano de Almeida inspirou-se num queijo suíço e encheu sua vaca de furos. "Tenho feito trabalhos em mosaico, atualmente, e ao perfurar a vaca percebi que a visão que se tem através dela é justamente de um mosaico", disse Almeida.

Vertentes visuais
"É interessante perceber as diferentes vertentes visuais de cada artista nas vacas", explica Nina Moraes.
Na sua obra, ela utilizou pedaços de toalha xadrez como se fossem as manchas da vaca e, em algumas partes, reduziu o xadrez a uma pequena cruz vermelha. "Pode ser o símbolo da Suíça ou apenas um curativo", contou.
Faz parte da história da arte a encomenda de obras a artistas. No barroco, por exemplo, só se realizavam obras a pedido.
"O artista tem de ter versatilidade para responder a essas propostas e, no meu caso, o resultado acabou sendo uma surpresa", diz o artista Sérgio Romagnolo. Ele colocou uma modelagem de plástico vermelho apenas na cabeça da vaca. "Dei expressividade para um animal que não tem expressão", conta.
A obrigação de utilizar um suporte tão marcante poderia representar novas perspectivas para os artistas. "Mas eu acho que nós sempre recorremos a assuntos que já trabalhamos", diz Leda Catunda. "Eu parti de desenhos em copos de requeijão e acabei pintando uma paisagem bem brasileira, que tem a ver com outras obras que fiz", contou.
As vacas permanecerão até o dia 25 de junho espalhadas pela cidade. Em julho, elas ficarão expostas em conjunto, quando será possível uma visão global do projeto. "Acho que a Suíça ganha com essa promoção", disse Nina Moraes.
No início de agosto, as vacas serão leiloadas e a arrecadação será revertida para instituições beneficentes.


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