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Disco fala mais ao cérebro do que à cintura
EDSON FRANCO
DA REDAÇÃO
Coube à menos idosa estrela da turma de músicos da
velha-guarda cubana resgatada
pelo projeto "Buena Vista Social Club", o baixista Orlando
"Cachaíto" Lopez, 68, a tarefa
de acabar com o embargo criativo que já tomava conta do
bando de velhinhos competentes.
Esse sopro de vida nova na
música de Cuba está registrado
em "Cachaíto", CD que a Warner lança no Brasil.
Não há ali nenhuma saída facilitadora como as que têm sido usadas, por exemplo, pelos
cantores Ibrahim Ferrer ou
Omara Portuondo. Em vez de
pegar clássicos dos anos 40 e
executá-los precisamente, com
a ajuda de um time de bambas,
o baixista abre seus ouvidos para sonoridades de fora da ilha e
as funde com a sua herança
musical, que não é pouca.
Ele é filho de Orestes -que,
com o maestro Arsenio Rodriguez, ajudou a "escrever" o
manual do mambo- e sobrinho de Israel -mais conhecido como Cachao, figura central
no desenvolvimento da descarga, o improviso cubano.
Pois bem, Cachaíto usa seu
baixo redondo, reticente e sólido para emoldurar uma música que, apesar de inconfundivelmente cubana, flerta com
-e sobrevive a - reggae,
rhythm and blues, jazz, hip hop
e música eletrônica.
Diferentemente de seus antecessores, esse CD não tem o intuito de fazer o ouvinte saracotear pela sala. É mais climático
que pulsante. Fala mais ao cérebro que à cintura.
São 12 faixas para quem ouve
sem preconceito um músico
cubano cuja mais forte influência é o baixista de jazz norte-americano Charles Mingus
(1922-79), citado explicitamente na música "Tumbao nš 5".
Nela, Cachaíto repete várias vezes uma frase de "Haitian Fight
Song", composição de Mingus.
Tutor e curador das ousadias
que permeiam o CD, o produtor Nick Gold não economizou
em efeitos como eco e reverberação para revestir de inquietude músicas como "Tumbanga"
ou ampliar a atmosfera intrigante de "Anais".
Para os aficionados pela música da velha-guarda cubana
que esperavam mais do mesmo, o CD reserva apenas a faixa
"Wahira", que, para reforçar
seu apelo mercadológico, conta com a voz frágil e incisiva de
Ibrahim Ferrer.
O resto é experimentação.
Apesar de carecer de um pouco
mais de maturação, as idéias
lançadas por Cachaíto nesse
CD têm potencial para desfossilizar a música cubana. Com
ele, o baixista força os demais
velhinhos a criarem o novo.
Cachaíto
Artista: Orlando "Cachaíto" Lopez
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 25, em média
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