São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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MÚSICA/PATRIMÔNIO

Centro de referência disponibiliza 12 mil composições, entre elas a primeira gravação feita no país

Projeto restaura acervo histórico e raro

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisadores, fãs e curiosos sobre a história da música popular brasileira ganharam, desde ontem, no Rio de Janeiro, um espaço onde poderão encontrar preciosidades musicais sem precisar enfrentar a poeira dos sebos e lojas de raridades.
O Instituto Moreira Salles disponibilizou gratuitamente um acervo de 12 mil composições, além de partituras e discos raríssimos, de compositores consagrados, como Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e Ernesto Nazareth, e outros desconhecidos que começaram a fazer música brasileira no século 19.
Com patrocínio da Petrobras e da Sarapuí Produções Artísticas, o Centro Petrobras de Referência da Música Brasileira nasceu de um processo cuidadoso de restauração de discos antigos -algumas canções levaram dias para serem recuperadas- do acervo de colecionadores como Humberto Franceschi e José Ramos Tinhorão.
Com equipamentos modernos -algumas agulhas tiveram que ser importadas de produtores do interior da Inglaterra-, foi possível digitalizar raridades como a primeira gravação feita no Brasil, há cem anos, do compositor Xisto Bahia, que cantava o lundu (um dos ritmos do século 19 precursores do samba) "Isto É Bom".
Franceschi estima que o acervo disponibilizado para acesso nos terminais de computadores do instituto representa mais de um terço de todas as gravações feitas no início do século no Brasil. Os coordenadores do projeto querem ampliar a coleção com a aquisição de novas coleções e colocar o acervo disponível para consultas na internet.
Boa parte do acervo veio de gravações feitas pela primeira gravadora do Brasil, a Casa Edison. Para comemorar a inauguração do centro, foi lançado um livro de Franceschi que conta a história da gravadora. Junto com o livro, foram lançados 15 CDs, intitulados "Memórias Musicais", com parte do acervo disponível para consulta no Instituto Moreira Salles.
Alguns CDs, que serão colocados à venda nas lojas e no instituto (ainda não há preço definido), têm composições raríssimas, como uma gravação de 1919 de "Rosa", de Pixinguinha, ainda sem a letra de Otávio de Souza.

Desconhecidos
As gravações mais antigas desses CDs são do ano de 1902, feitas pela banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, regida por Anacleto de Medeiros. Há também gravações de 1910 do grupo Choro Carioca, no qual Pixinguinha estreou tocando flauta aos 14 anos.
Também serão lançados outros 15 CDs que ajudam a contar a história do choro no Brasil, intitulados "Princípios do Choro", com gravações atuais de composições de autores conhecidos e outros dos quais nunca se tinha ouvido falar. O músico Maurício Carrilho, diretor artístico da Acari Records -gravadora especializada em choro que participou do projeto-, afirma que se surpreendeu com a quantidade de compositores de qualidade, desconhecidos até mesmo dos maiores pesquisadores do ritmo.
A Petrobras foi a empresa que mais investiu no projeto, que teve custo de R$ 5 milhões para a empresa. Segundo Antônio Franceschi, diretor-superintendente do Instituto Moreira Salles, o instituto gastou cerca de R$ 2 milhões. Kati Almeida Braga, da Sarapuí (da qual a gravadora Biscoito Fino faz parte), diz ainda não ter feito levantamento do custo total do projeto para a empresa.



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