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MEMÓRIA
Berio transitou entre ópera, música popular e folclore
PAUL GRIFFITHS
DO "NEW YORK TIMES
Luciano Berio foi compositor de
trabalhos -que variam de música de câmara a peças orquestrais
em grande escala e de óperas a
canções- que combinavam imaginação inovadora e profundidade analítica.
Um notável compositor vocal e
orquestral, talvez mais conhecido
por seus trabalhos para voz solo,
Berio ganhou fama especial durante sua residência em Nova
York por reger o Juilliard Ensemble, que ele fundou.
O amor de Berio pela música o
aproximou da ópera italiana
(Monteverdi e Verdi), do modernismo do século 20 (Stravinsky),
da música popular (Beatles, jazz),
dos grandes sinfônicos do romantismo (Schubert, Brahms,
Mahler) e de canções folclóricas.
Berio nasceu em uma família de
músicos estabelecida na cidade de
Oneglia, na costa da Ligúria. Após
a Segunda Guerra, ele entrou no
Conservatório de Milão, onde estudou composição com Georgio
Federico Ghedini, cujo estilo neo-barroco serviu de influência.
Entre seus colegas de conservatório estava a soprano norte-americana Cathy Berberian, com
quem se casou em 1950 e na companhia da qual visitou os EUA,
onde conheceu Luigi Dallapiccola, em Tanglewood, e a cena da
música eletrônica experimental
de Nova York. Sob essas influências, se tornou um modernista
com composições como "Música
de Câmara" (1953). Um encontro
com o italiano Bruno Maderna o
levou à escola Darmstadt, o ponto
de encontro para a vanguarda européia, na Alemanha. Berio produziu notáveis concepções, como
"Tempi Concertati".
Outros trabalhos do período incluem suas primeiras peças eletrônicas. Ele co-dirigiu, com Maderna, um estúdio de música eletrônica em uma rádio italiana de Milão, e lá produziu um dos primeiros clássicos da música de fita,
"Thema (Ommagio a Joyce)"
(1958). No mesmo ano, com "Sequenza I", instituiu uma série de
estudos, cada qual levando em
consideração a história, o desempenho, o estilo e a aura de um instrumento. Até sua morte, compôs
14 dessas peças, para a maior parte dos instrumentos ocidentais.
A primeira composição de Berio para o teatro, "Passagio", estreou em 63. Mais tarde, seus trabalhos dramáticos se tornaram
mais poéticos que políticos. "Laborintus II" (65) se baseia em um
poema anticapitalista.
Entre 63 e 71, Berio viveu principalmente em Nova York, com Susan, sua segunda mulher. Lecionou na Juilliard School, onde se
tornou mais ativo como regente.
Escreveu "Sinfonia" e sua primeira ópera completa, "Opera".
Em 72, Berio voltou à Itália. Na
metade dos anos 70, se tornou co-diretor do instituto de música
computadorizada de Boulez em
Paris, posto que deixou em 80.
O maior trabalho de Berio na
década posterior a "Opera" foi
"Coro", tessitura de melodias inspiradas em canções folclóricas
com arranjos corais para versos
de Neruda. A seguir, voltou à ópera, com colaborações envolvendo
o escritor Italo Calvino: "Una Vera Storia", e "Un Re in Ascolto".
Ambas as peças, como "Opera",
representavam desconstruções
do gênero. A primeira parte de
"Una Vera Storia" é uma análise
teatral de "Il Trovatore", de Verdi,
a segunda uma nova síntese dos
elementos dramáticos e musicais
encontrados. "Un Re in Ascolto"
(96), retrabalha parte de "A Tempestade", de Shakespeare, em
uma forma na qual ensaio, execução e memória coalescem.
A narrativa se dissolve ainda
mais em "Outis" (96), que se baseia no mito de Ulisses e incorpora imagens de genocídio do século 20. A preocupação com a temática judaica em óperas foi estimulada por sua terceira mulher, Talia
Packer Berio, nascida em Israel.
Ela criou o libreto de "Cronaca del
Luogo", e também chamou a
atenção do marido para os esboços sinfônicos de Schubert.
Outros trabalhos orquestrais
tardios, como "Formazioni"
(1985/7) e "Concerto II" para piano solo (1988/90), mostram a habilidade de Berio para descobrir
novas maneiras de permitir que a
orquestra fale de maneira vívida e
bela, enquanto os instrumentos
solo continuam a ter espaço, com
a ampliação da série "Sequenza".
Mas talvez sua realização mais
pessoal e poderosa sejam os trabalhos para voz feminina, de
"Música de Câmara".
Tradução Paulo Migliacci
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