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CRÍTICA
"Realidade" põe em risco fábula de "O Jogo"
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
Para descansar um pouco
dos Jecas sem nenhum caráter que aprenderam a fórmula da
vitória dos "Big Brothers", brincar de detetive pode até ser mais
lúdico e menos entediante. "O Jogo" -novo "reality show" da
Globo- põe mais um bando de
doentes por fama e dinheiro na
roda. Mas quem não é? -indagaria em uníssono a nação. Pipoca,
please, vida, o filme, continua.
Uma pena é que a turma parece
não ter tomado direito nem mesmo as lições básicas de titia Agatha Cristhie. Talvez esteja mais
preocupada em provocar a dita
alteridade de que tanto falam os
sociólogos. Agora é diferente. Os
candidatos são torturados com
um drama fictício à "Linha Direta". Precisam descobrir os rastros
de um terrível assassino.
Terrível para a outrora pacata e
graciosa Vila de Santo Antônio,
cidade imaginária localizada no
sul do país. Antigamente se matava assim, como nos livros de Agatha, por alguma intriga ou motivo
demasiadamente humano. Para o
telespectador que vive o pânico de
SP, o crime chega a ter um estranho cheiro de nostalgia. Ora, ainda mais para quem acompanha
os programas policiais e já transformaram em circo e entretenimento a carnificina real.
Mas nesse tom quase de fábula
de Esopo, bem narrada por Zeca
Camargo, de poética mais econômica do que o samba-exaltação
de Pedro Bial -condutor do
"BBB"-, "O Jogo" segura a brincadeira proposta aos concorrentes e à cordial família escrava do
sofá.
O texto é respeitoso aos velhos
clichês dos romances do gênero.
O que é uma vantagem a mais para a brincadeira. A direção diz a
todo instante que os candidatos
não passaram por ensaios, estão
ali a cru, como um não-ator de
Grotowski, o polonês que preferia
um teatro sem os vícios dos profissionais.
O pior é que o êxito do programa depende justamente da desenvoltura desses sujeitos. Essa
suposta falta de ensaios e/ou a
mediocridade dramática de fato
dos participantes, que seguram a
onda no modelo "BBB", podem
travar a graça da história, por
mais que a ficção dos Klein esteja
envolvente. É o risco elementar da
mistura de drama com "vida
real". Ainda mais em tempos de
novela em alta, como no caso da
das oito, na qual as mulheres trocam a velha D.R. (discussão de relação) por uma boa peixeirada no
consorte vagabundo.
Se tudo der errado, no entanto,
ainda teremos aí, por baixo, por
baixo, uma concorrente na capa
de "Playboy" e uns bons ensaios
de sites eróticos. A moral de vida,
o filme, é sempre essa.
O Jogo
Quando: terça, às 22h30, na TV Globo
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