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Troca-troca na TV
Após a globalização de "reality shows" e "games", emissoras agora apostam em franquias internacionais de novelas e séries
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase uma década após a
exibição do primeiro "Big Brother", a troca de formatos de
"reality shows" e "games" já domina o planeta. Com esse mercado consolidado, produtores
de conteúdo televisivo apostam: o que vai dar dinheiro agora é transformar novelas e séries em franquias globais.
O movimento chegou ao Brasil. A Globo pôs à venda o formato do "Você Decide", oferecido a TVs estrangeiras como
"It's Your Call" (a escolha é
sua). Dos 323 programas exibidos de 1992 a 2000, 103 roteiros, com polêmicas mais universais, foram escolhidos para
exportação. A rede também se
prepara para, em vez de vender
só novelas prontas, co-produzir
versões em outros países, com
profissionais brasileiros. Negocia com Portugal e Estados
Unidos e planeja expansão para
Espanha, segundo o diretor da
divisão internacional, Ricardo
Scalamandré.
Já a Rede TV! faz na Argentina, com a Disney, co-produção
da versão da série norte-americana "Desperate Housewives".
"Podemos ter um produto de
alta qualidade com custo menor", diz Antonio Rosa Neto,
superintendente do canal.
Não é de hoje que um programa bem-sucedido de um país
ganha versão em outro. A diferença é que o troca-troca passou a ser tendência global, que
será debatida no 8º Fórum Brasil - Mercado Internacional de
Televisão, amanhã e quinta-feira, no Centro de Convenções
Frei Caneca, em São Paulo.
O que ocorreu com "non-scripts" (programas sem roteiro, como "realities" e "games")
acontece agora com os
"scripts". E a virada não se deu
com uma série caríssima de
Hollywood, mas com uma novela colombiana, na avaliação
de Carla Affonso, diretora-geral da Endemol Globo (detentora dos direitos de "Big Brother Brasil"). "Isso começou
com "Betty, a Feia". Todo mundo passou a achar que [a franquia da] teledramaturgia é uma
oportunidade."
O roteiro da novela foi comprado pelos EUA, e "Ugly
Betty" também foi sucesso.
Affonso conta que a Endemol, dona de mais de mil títulos
de "non-scripts", passou a investir na criação e comercialização de novelas e séries. Desenvolvida pela Endemol inglesa, a série de comédia "8 Out of
10 Cats" foi feita na Noruega,
Dinamarca, Suécia, e Alemanha. O mesmo se deu com
"Would I Lie to You", que está
sendo produzida atualmente
na África do Sul.
A Argentina, que se destaca
como produtora de cinema e
TV, também vive a onda. Além
de abrigar a fábrica de "donas-de-casa desesperadas" para o
Brasil e outros "hermanos", o
país exporta seus roteiros.
"Apesar do sucesso que temos
com "realities", neste ano passamos a fazer ficção para Argentina, Chile e Espanha", diz Mariano Kon, diretor de vendas
internacional da Cuatro Cabezas, uma das grandes produtoras argentinas.
A série cujo roteiro foi exportado é "Hermanos y Detectives". "A ficção na TV sempre foi
um fenômeno global. A TV
sempre se nutriu de séries
americanas, novelas brasileiras, venezuelanas ou mexicanas. Hoje, estamos assistindo à
adaptação local de formatos de
ficção pela necessidade dos
grandes estúdios e distribuidoras de tirar o maior proveito
econômico de seus catálogos.
Em vez de só vender "enlatados", oferecem os formatos."
A questão é descobrir que
histórias podem ser adaptadas
em países com culturas tão diferentes. Diretor do "Big Brother Brasil", J.B. de Oliveira, o
Boninho, não crê que a teledramaturgia seguirá facilmente o
caminho das franquias de "realities". "Séries como "Desperate
Housewives" procuram se basear em estereótipos regionais,
que, quando adaptados, se perdem. Uma dona-de-casa daqui
nunca vai se reconhecer no
perfil daquelas mulheres e, se a
adaptação for muito radical, teremos outro programa."
Para Scalamandré, é preciso,
além da "adaptação e produção
criativas", levar em consideração "as características e culturas locais". Affonso, da Endemol, acredita que "da mesma
maneira que aprendemos a
adaptar os "realities", haverá
um aprendizado na teledramaturgia. "A busca será por roteiros mais universais", aposta.
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