São Paulo, sexta, 29 de maio de 1998

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Com drama e sem careta, Jim Carrey volta ao topo


Em "The Truman Show", que estréia sexta que vem nos EUA, ator interpreta personagem que tem sua vida transmitida pela TV sem que ele saiba


ALESSANDRA BLANCO
de Nova York

Esqueça tudo o que você já ouviu, ou viu, sobre Jim Carrey. "The Truman Show", apontado pela revista "Newsweek" como o melhor filme do verão americano, não é um filme de Jim Carrey, mas com Jim Carrey. E não é uma comédia, mas um drama. A direção é de Peter Weir, de "Sociedade dos Poetas Mortos" -mistura que pareceu estranha até para quem estava no projeto. "Quando meus agentes disseram que Jim Carrey estaria no papel principal de um filme dirigido por Peter Weir, achei que havia algo errado. Não podia ver como essas duas pessoas poderiam trabalhar juntas, não fazia o menor sentido para mim", disse Ed Harris, o "vilão" da história, em entrevista no Rihga Royal Hotel, em Nova York. Carrey é Truman Burbank, o astro de um programa de TV que vai ao ar 24 horas por dia e é assistido por milhares de americanos -menos ele. Todos os detalhes de sua vida -começando no útero de sua mãe, nascimento, primeiros passos e o casamento- são filmados e levados ao ar no "The Truman Show", um programa de TV controlado por Christof (Ed Harris). A cidade em que vive, um suposto mundo perfeito com mar, sol e a mesma temperatura todos os dias, foi montada por Christof e até sua mulher (Laura Linney) e seu melhor amigo (Noah Emmerich) são atores contratados por ele. As emoções e conflitos na vida de Truman também são inseridos pelo diretor do show até ele completar 30 anos, quando uma série de pequenos incidentes, que vão desde uma câmera despencando do "céu" a equipes de TV flagradas no fundo falso do elevador, levam Truman a começar a desconfiar de algo errado. Apesar de ser um drama, Truman, como não poderia deixar de ser, é um personagem divertido. Carrey deixou suas caretas de lado, mas explora o humor em várias cenas. A melhor cena do filme, no entanto, é roubada por Emmerich. Na cena, Trumam procura o melhor amigo, Marlon (Emmerich), para contar suas desconfianças de que está sendo vigiado. Marlon mantém a postura do "deixa disso", repetindo tudo o que Christof manda, mas não consegue esconder uma certa contrariedade com a mentira. "É sem dúvida a minha cena favorita porque ele está ali repetindo para Truman o que o diretor manda, mas em conflito, porque está mentindo. Fico feliz em saber que isso veio à tona, mostrando que eu estava dizendo uma coisa, mas os meus olhos demonstravam outra, porque eu estava fazendo um papel", disse Emmerich. Na verdade, a emoção é muito pouco desenvolvida em Carrey. Também na cena em que Truman reencontra seu pai, teoricamente um dos momentos mais fortes do filme, Carrey permanece de costas para a câmera. "Fiz essa escolha porque essa era uma cena em que Christof manipulava a emoção, usando todos os truques que nós (os diretores) usamos, levando até Truman o pai desaparecido, aumentando a música na hora do reencontro, para mexer com a audiência do show. Então, como diretor, eu não podia fazer a mesma coisa. Também quis deixar claro que eu não tinha a mesma quantidade de câmeras que Christof", disse Peter Weir. Para filmar as 24 horas do dia de Truman, Christof tem 5.000 câmeras. "Christof é tão controlador, tão criador!", disse Ed Harris. "Gosto do fato de que ele é o poderoso. É o mundo dele, ele controla todas as cenas, não responde a ninguém, é intrigante, misterioso, recluso. Fiquei feliz por ser chamado para o papel só no último instante, assim não houve tempo de pesquisar, estudar muito. Christof é instintivo." O filme todo, na verdade, é recheado de referências ao papel manipulador da TV e de seus diretores na vida das pessoas. Não é só Truman que é controlado pelo poderoso Christof e seu show, mas todos os seus telespectadores. "Não sei dizer se a TV já está próxima disso, mas acho perigoso as pessoas gastarem seu tempo na frente da TV, tentando escapar de si mesmas. Ainda não é o Grande Irmão, mas não é nada saudável." "Tenho de dizer que adorei criar um mundo novo. Só que apenas esse mundo fictício já me causou muita pressão", diz Weir. "The Truman Show" estréia nos EUA em 5 de junho.


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