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"Brasil precisa de Policarpos', afirma diretor
da enviada ao Rio de Janeiro
"Policarpo Quaresma - Herói
do Brasil" é o ponto alto da obra
de um diretor experiente. Paulo
Thiago, 52, mineiro de nascimento e residente no Rio há mais de 30
anos, possui um currículo de oito
longas-metragens, tendo mantido
a produção mesmo em épocas de
baixa do cinema brasileiro ("Jorge, um Brasileiro", 89, "Vagas
para Moças de Fino Trato", 93).
"Policarpo" é sua tentativa
mais direta de contato com o
grande público, um trabalho em
que o Brasil se torna o tema central.
Em entrevista à Folha, ele confessa que seu interesse pelos problemas brasileiros data de sua formação como cineasta. "Éramos
uma geração apaixonada por cinema desde cedo. Mas descobrimos
que era possível fazer cinema no
Brasil diante da explosão do cinema novo e com a geração que veio
logo em seguida, Joaquim Pedro,
Roberto Santos, Person. Eram
obras que revelavam o país."
Essa "revelação" do Brasil foi
justamente o que o atraiu para a
filmagem do romance de Lima
Barreto. "Ao reler "Policarpo',
achei que o livro era um instrumento para uma nova compreensão do país. Há a possibilidade de
o Brasil se encontrar e se definir. E,
na medida em que esse personagem sério, idealista, é trabalhado
com humor, está-se discutindo a
ambiguidade do brasileiro, que
mistura o drama com o riso."
Paulo Thiago discorda de que temas sérios como o patriotismo
trágico do romance de Lima Barreto tenham necessariamente de
ser tratados com seriedade.
"Seriedade é uma tradição que
vem do cinema novo. O único cineasta que conseguiu dar a volta
por cima foi o Joaquim Pedro de
Andrade, em "Macunaíma' e
"Guerra Conjugal', no qual fala
coisas terríveis com um humor
cáustico poderoso. Para encontrar
esse tom, tive uma relação tormentosa com o roteiro original."
De fato, o roteiro, de autoria do
dramaturgo e romancista Alcione
Araújo, é o elemento mais ousado
e também mais polêmico do filme.
"Quando trabalho os roteiros
com Alcione, ocorrem grandes
discussões", diz o diretor, que
trabalhou por meses sobre as
transformações introduzidas por
Araújo na adaptação do romance.
A principal delas foi a erotização
de Policarpo, que tem um encontro amoroso com Ismênia -no
romance, uma moça que só pensa
em se casar e afinal morre virgem.
Outra alteração promovida pelo
roteiro foi a eliminação de vários
personagens negros, que marcavam no romance o triste legado da
escravidão. Para Paulo Thiago, isso se explica exatamente pela importância do problema.
"A questão negra na obra do Lima Barreto é muito profunda e
vasta. Ele tem um romance só sobre isso, "Clara dos Anjos'. Se eu
fosse entrar nesse tema, teria de
fazer um filme dentro do filme."
De resto, ao fazer cinema
-acrescenta Thiago- é preciso
eliminar uma série de detalhes que
não fazem parte da trama central.
"Lima Barreto, por ser um escritor do realismo brasileiro, tem a
necessidade de traçar um panorama da sociedade. Então, muitas
vezes ele se perde em descrições.
Se o filme caminhasse por aí, perderia o núcleo dramático do Policarpo e o tom de fábula."
Questionado sobre a importância de contar, no Brasil de hoje, a
história de um personagem que dá
a vida pelo país, o cineasta não hesita: "Temos muitos Policarpos
espalhados por aí. Darcy Ribeiro
era um Policarpo, no sentido
maior. Betinho também. São sonhadores, pessoas que querem o
melhor para o Brasil e chegam a
ser patéticas em suas propostas,
muitas vezes absurdas. O Brasil
precisa de mais Policarpos".
(LN)
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