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Peça foi escrita logo após separação do autor
da Sucursal do Rio
O escritor Dênis de Moraes, autor da biografia "Vianinha, Cúmplice da Paixão", compartilha com
Aderbal Freire Filho, o diretor da
primeira montagem de "Mão na
Luva", a opinião de que Vianinha
não deixou a peça inédita porque a
considerasse inacabada ou não
gostasse dela.
"O texto era ousado e, de certa
maneira, não combinava com a
proposta cultural do grupo Opinião. Por isso, ele o guardou, esperando o momento certo de mostrá-lo", escreveu Moraes em texto
para o programa da peça dirigida
por Dudu Sandroni.
"Era a época das posições políticas marcadas pelo imediatismo, e
Vianinha, como homem de partido, estava comprometido com objetivos precisos. Mas como controlar a alma de um artista especialmente rebelde? Tudo o que
Vianinha podia fazer era se castigar com a proibição das suas criações dissidentes", diz o texto.
Segundo o escritor, foi em meio
a uma crise pessoal, provocada
por sua separação da atriz Odete
Lara, um de seus amores, que Vianinha escreveu "Mão na Luva". A
data em que terminou a história,
27 de julho de 1966, coincidiu com
a fase crítica do relacionamento.
Mas a peça não retrata exatamente o relacionamento dos dois.
Enquanto Lúcio, de "Mão na
Luva", vive uma crise conjugal
porque é cobrado pela mulher por
estar abandonando seus ideais,
Vianinha e Odete se desentendiam
porque ela não aceitava que ele colocasse seus compromissos políticos em primeiro lugar.
Mesmo assim, "recompondo os
cacos do quebra-cabeça, encontramos as pistas para desvendar
um dos mistérios que cercam o
texto", escreveu Moraes.
"Vianinha emprestou ao foco
dramático as fisgadas de sua dor
autobiográfica -a noite da separação de um homem e uma mulher, após nove anos de casamento. Por trás de Lúcio, o jornalista
de esquerda imerso em dilemas
profissionais, pulsavam os sentimentos ambíguos e a dificuldade
de entrega plena que caracterizavam o próprio Vianinha."
O programa de "Mão na Luva"
contém, além do texto de Moraes,
um glossário, preparado pela pesquisadora Isabel Travancas, sobre
as referências sociais e políticas
contidas na peça.
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