São Paulo, sexta, 29 de maio de 1998

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Peça foi escrita logo após separação do autor

da Sucursal do Rio

O escritor Dênis de Moraes, autor da biografia "Vianinha, Cúmplice da Paixão", compartilha com Aderbal Freire Filho, o diretor da primeira montagem de "Mão na Luva", a opinião de que Vianinha não deixou a peça inédita porque a considerasse inacabada ou não gostasse dela.
"O texto era ousado e, de certa maneira, não combinava com a proposta cultural do grupo Opinião. Por isso, ele o guardou, esperando o momento certo de mostrá-lo", escreveu Moraes em texto para o programa da peça dirigida por Dudu Sandroni.
"Era a época das posições políticas marcadas pelo imediatismo, e Vianinha, como homem de partido, estava comprometido com objetivos precisos. Mas como controlar a alma de um artista especialmente rebelde? Tudo o que Vianinha podia fazer era se castigar com a proibição das suas criações dissidentes", diz o texto.
Segundo o escritor, foi em meio a uma crise pessoal, provocada por sua separação da atriz Odete Lara, um de seus amores, que Vianinha escreveu "Mão na Luva". A data em que terminou a história, 27 de julho de 1966, coincidiu com a fase crítica do relacionamento.
Mas a peça não retrata exatamente o relacionamento dos dois.
Enquanto Lúcio, de "Mão na Luva", vive uma crise conjugal porque é cobrado pela mulher por estar abandonando seus ideais, Vianinha e Odete se desentendiam porque ela não aceitava que ele colocasse seus compromissos políticos em primeiro lugar.
Mesmo assim, "recompondo os cacos do quebra-cabeça, encontramos as pistas para desvendar um dos mistérios que cercam o texto", escreveu Moraes.
"Vianinha emprestou ao foco dramático as fisgadas de sua dor autobiográfica -a noite da separação de um homem e uma mulher, após nove anos de casamento. Por trás de Lúcio, o jornalista de esquerda imerso em dilemas profissionais, pulsavam os sentimentos ambíguos e a dificuldade de entrega plena que caracterizavam o próprio Vianinha."
O programa de "Mão na Luva" contém, além do texto de Moraes, um glossário, preparado pela pesquisadora Isabel Travancas, sobre as referências sociais e políticas contidas na peça.



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