São Paulo, Sábado, 29 de Maio de 1999
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R$ 7,5 milhões depois, "Chatô" empaca e assusta investidores


Empresas estudam injeção de mais dinheiro na maior produção do cinema brasileiro; o diretor e ator Guilherme Fontes tem outro projeto paralisado


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

A maior produção da história do cinema brasileiro está parada. Desde o dia 2 de maio as filmagens de "Chatô, o Rei do Brasil", produzido e dirigido pelo ator Guilherme Fontes, estão suspensas, e não há previsão de reinício.
A paralisação vem assustando os investidores, que já aplicaram no filme quase R$ 7,5 milhões do orçamento de pouco mais de R$ 12 milhões aprovado pela Secretaria Nacional de Audiovisual do Ministério da Cultura. O temor é que o filme não seja concluído.
"Chatô, o Rei do Brasil" baseia-se na vida do empresário Assis Chateaubriand (1891/1968), fundador dos Diários Associados e dono da primeira emissora de televisão do Brasil, a TV Tupi.
Além de "Chatô", há outro projeto de Fontes com captação de recursos autorizada pelo Ministério da Cultura e que corre o risco de não ser concluído: a série "500 Anos de História do Brasil".
Dos 52 documentários para TV previstos, apenas 12 foram concluídos até agora. O projeto tem um orçamento autorizado de R$ 6,4 milhões. Desse total, Fontes conseguiu captar R$ 2,318 milhões, já liberados pelo MinC.
A série previa o lançamento dos documentários em fitas de vídeo a serem vendidas em bancas de jornal. Só três chegaram às bancas.
Os recursos estão sendo captados com base nas leis do Audiovisual e Rouanet. Pela legislação, depois de autorizada a captação, os produtores têm três anos para concluir o projeto. Caso não concluam e já tenham retirado o dinheiro depositado pelos investidores -situação em que estão os projetos de Fontes-, os recursos têm que ser devolvidos.
Os prazos de Fontes para concluir "Chatô" terminam no dia 22 de outubro (para os recursos da Lei do Audiovisual) e 31 de dezembro (para os da Lei Rouanet).
Guilherme Fontes tem procurado os investidores para pedir que aumentem sua participação nos projetos sob pena de não conseguir finalizá-los. Para evitar o risco do fracasso, algumas empresas vêm estudando a possibilidade de atender aos pedidos do produtor.
A sensação entre aqueles que aplicaram dinheiro nos projetos é que é melhor aplicar mais dinheiro do que ter o nome de sua empresa associado a um projeto inconcluso. "O investimento cultural tem que ser concluído, e por isso estudamos uma captação adicional", disse à Folha Milton Luciano, 56, assessor da vice-presidência da Volkswagen, que investiu até agora R$ 1,2 milhão no filme.
Luciano afirma que a empresa "acredita no MinC e nos produtores". "Eles dizem que o filme será exibido em novembro."
No Citibank, que investiu R$ 2,6 milhões nos dois projetos, a idéia é esperar que outros investidores se comprometam a aumentar suaparticipação para decidir o que fazer. "Guilherme nos procurou e disse que faltava pouco menos de R$ 2 milhões para concluir o filme. Nossa decisão depende do comprometimento de outros investidores com a finalização do projeto", disse Fábio Coelho, diretor de marketing do banco.
A paralisação dos projetos de Guilherme Fontes vem causando um efeito colateral para o mercado cinematográfico brasileiro.
Especialistas em captação de recursos para produções audiovisuais ouvidos pela Folha afirmam que houve uma paralisação no mercado -até que o caso seja resolvido, os investimentos estão praticamente suspensos. "O custo do projeto está sendo mais elevado do que o previsto. Se ele aumenta muito, não podemos investir em novos projetos", diz Luciano.
Durante toda a semana, a Folha procurou Fontes em seus dois escritórios -o da G.F. Produções, responsável por "Chatô", e o da Zoebra, estúdio de finalização criado em parceria com o diretor Francis Ford Coppola- para que o produtor explicasse os motivos da paralisação dos projetos.
Após responder à pergunta sobre quem queria falar com Fontes, a Folha ouvia como resposta que o produtor não estava. Os recados deixados não foram respondidos.


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