|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NELSON TRIUNFO
Músico tem projeto de lançar single com o grupo Funk & Cia. no segundo semestre
"Funk carioca só destruiu o povo mais ainda"
DA REPORTAGEM LOCAL
Na continuação de sua entrevista, Nelson Triunfo fala sobre o
projeto de voltar ao disco com seu
grupo Funk & Cia. e sobre sua
atuação no teatro e dispara contra
funk pornográfico, rappers e
sambistas puristas.
(PAS)
Folha - O que falta ao rap atual?
Nelson Triunfo - Falta que levem
mais a sério as denúncias das letras. Só denunciar e pouco fazer
não vai resolver. Um outro problema do hip hop é que algumas
rádios tocam só uma linha de rap.
Mas existem várias linhas de rap,
que falam de várias coisas diferentes. Há o rap de consciência e
cidadania, o que fala de polícia, de
política, do amor. Essa também é
importante, o pessoal da periferia
não tem que ter vergonha de falar
de amor. É irônico falar de paz,
como muitos falam, e ter vergonha de falar de amor. O amor não
faz vergonha para ninguém.
Não é só o que você conhece que
é o bom, tem que começar a curtir
Milton Nascimento, João Bosco,
Tom Jobim, saber quem foi Pixinguinha, quem é Paulinho da Viola. O pessoal tem que conhecer
quem é Luís Vagner, tem que saber quem é Cassiano, ouvir os discos de Moreira da Silva, que fazia
sambas de breque já falados.
Folha - Alguns sambistas criticam
soul, funk ou rap como gêneros
americanizados.
Triunfo - É falha do lado deles
também. Do nosso e do deles. Como vou falar em coisa americanizada se já curti Roberto Carlos e
Tim Maia, se sou afro-descendente e minhas raízes são da África,
não da América? E a embolada,
que é o primeiro rap do Brasil?
Folha - O que você pensa da onda
de funk carioca?
Triunfo - Não tenho muito contra o ritmo, que de certa forma até
é bom, apesar de na versão deles
ter se tornado pobre, porque ficou
repetitivo demais. Acho que foram mal usadas as letras. Esse negócio de prostituição é um grande
problema do Brasil, com o Tchan
e o funk. Cada vez mais nossas garotas estão se perdendo mais cedo. São adolescentes que não tomam conta nem delas, como vão
tomar conta desses moleques que
vão ter? Nos bailes ficam se relando, as letras incitam. A dança ali é
mais um ato sexual. Não sou contra que exista, mas num lugar
mais reservado, e não para o público todo, as crianças. Você vê
molequinha de dez anos com
short metido na bunda dançando
no meio da rua e um monte de cara olhando de maldade, comendo
de olho. Ela cai mais fácil na presa
de um desse aí, porque mostrar a
bunda para ela não é vulgar.
Esse pessoal do funk teve a
chance de ficar na TV e não aproveitou, só deixou mais destruída
nossa população. Somos o país da
sacanagem, o alemão vem para cá
por isso. Todo mundo usufrui,
menos quem faz isso. É como
apagão. Como se vive num país
que não administra a mola mestra, que é a energia?
Folha - O Funk & Cia. está ativo?
Triunfo - Depois de muito trabalho social, o Funk & Cia. está voltando ao disco. A banda hoje tem
jovem, gente da antiga, da época
da dança, do rap e eu, que sou jurássico. Resolvemos fazer um CD,
mas batemos no problema de
tempo, porque todos trabalhamos. Resolvemos lançar um single com quatro músicas, que já está gravado. Não corremos atrás de
nenhuma gravadora ainda, resolvemos fazer bancando. Deve sair
em agosto ou setembro.
Folha - Qual é sua participação na
peça "Ooze/Ezoo"?
Triunfo - Minha participação é
dançante, faço trechos de rap,
dando uma cara diferente ao trabalho. Já fiz coreografia para peças, coreografei o clipe de "Agamamou", do Art Popular. Estou
sempre aberto a participar.
Texto Anterior: O último black power Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|