São Paulo, sexta-feira, 29 de junho de 2001

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NELSON TRIUNFO

Músico tem projeto de lançar single com o grupo Funk & Cia. no segundo semestre

"Funk carioca só destruiu o povo mais ainda"

DA REPORTAGEM LOCAL

Na continuação de sua entrevista, Nelson Triunfo fala sobre o projeto de voltar ao disco com seu grupo Funk & Cia. e sobre sua atuação no teatro e dispara contra funk pornográfico, rappers e sambistas puristas. (PAS)

Folha - O que falta ao rap atual?
Nelson Triunfo -
Falta que levem mais a sério as denúncias das letras. Só denunciar e pouco fazer não vai resolver. Um outro problema do hip hop é que algumas rádios tocam só uma linha de rap. Mas existem várias linhas de rap, que falam de várias coisas diferentes. Há o rap de consciência e cidadania, o que fala de polícia, de política, do amor. Essa também é importante, o pessoal da periferia não tem que ter vergonha de falar de amor. É irônico falar de paz, como muitos falam, e ter vergonha de falar de amor. O amor não faz vergonha para ninguém.
Não é só o que você conhece que é o bom, tem que começar a curtir Milton Nascimento, João Bosco, Tom Jobim, saber quem foi Pixinguinha, quem é Paulinho da Viola. O pessoal tem que conhecer quem é Luís Vagner, tem que saber quem é Cassiano, ouvir os discos de Moreira da Silva, que fazia sambas de breque já falados.

Folha - Alguns sambistas criticam soul, funk ou rap como gêneros americanizados.
Triunfo -
É falha do lado deles também. Do nosso e do deles. Como vou falar em coisa americanizada se já curti Roberto Carlos e Tim Maia, se sou afro-descendente e minhas raízes são da África, não da América? E a embolada, que é o primeiro rap do Brasil?

Folha - O que você pensa da onda de funk carioca?
Triunfo -
Não tenho muito contra o ritmo, que de certa forma até é bom, apesar de na versão deles ter se tornado pobre, porque ficou repetitivo demais. Acho que foram mal usadas as letras. Esse negócio de prostituição é um grande problema do Brasil, com o Tchan e o funk. Cada vez mais nossas garotas estão se perdendo mais cedo. São adolescentes que não tomam conta nem delas, como vão tomar conta desses moleques que vão ter? Nos bailes ficam se relando, as letras incitam. A dança ali é mais um ato sexual. Não sou contra que exista, mas num lugar mais reservado, e não para o público todo, as crianças. Você vê molequinha de dez anos com short metido na bunda dançando no meio da rua e um monte de cara olhando de maldade, comendo de olho. Ela cai mais fácil na presa de um desse aí, porque mostrar a bunda para ela não é vulgar.
Esse pessoal do funk teve a chance de ficar na TV e não aproveitou, só deixou mais destruída nossa população. Somos o país da sacanagem, o alemão vem para cá por isso. Todo mundo usufrui, menos quem faz isso. É como apagão. Como se vive num país que não administra a mola mestra, que é a energia?

Folha - O Funk & Cia. está ativo?
Triunfo -
Depois de muito trabalho social, o Funk & Cia. está voltando ao disco. A banda hoje tem jovem, gente da antiga, da época da dança, do rap e eu, que sou jurássico. Resolvemos fazer um CD, mas batemos no problema de tempo, porque todos trabalhamos. Resolvemos lançar um single com quatro músicas, que já está gravado. Não corremos atrás de nenhuma gravadora ainda, resolvemos fazer bancando. Deve sair em agosto ou setembro.

Folha - Qual é sua participação na peça "Ooze/Ezoo"?
Triunfo -
Minha participação é dançante, faço trechos de rap, dando uma cara diferente ao trabalho. Já fiz coreografia para peças, coreografei o clipe de "Agamamou", do Art Popular. Estou sempre aberto a participar.



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