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TEATRO
Espaço Célia Helena ingressa na área editorial com antologia que traz autores do Chile, México, Peru e da Colômbia
Escola publica obra de dramaturgia latino-americana
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
No âmbito da América Latina, é
mais fácil aos brasileiros citar um
cineasta, escritor ou artista plástico do que se lembrar de um autor
de teatro da região.
O livro "Teatro da América Latina" surge como contraponto à escassez editorial na área da dramaturgia. A iniciativa é do Teatro-Escola Célia Helena, localizado
em São Paulo, que completa 27
anos neste mês.
Segundo a diretora artística da
escola, Lígia Cortez, o objetivo,
além de ampliar o currículo de
textos, é divulgar essa dramaturgia "tão próxima culturalmente,
irmã de povos e similar nos problemas e questões".
Ela fala ainda em "quebrar esse
pensamento colonizado", mais
afeito às peças da Europa e dos Estados Unidos.
O primeiro volume reúne quatro autores, num retrospecto dos
anos 60 aos anos 80. Três deles são
veteranos que enveredam pela comédia: o colombiano Enrique
Buenaventura (1925-2003), representado por "À Direita de Deus
Pai"; o mexicano Emilio Carballido, 79, com "Orinoco"; e o peruano Juan Larco, 76, com "Ubu Presidente".
Cabe ao chileno Marco Antonio
de la Parra, 52, a cota do drama ao
final do livro, com "Infiéis".
"São textos inseridos em tendências estéticas distintas, passando sobretudo pela experiência
do teatro popular", afirma o professor e pesquisador Alexandre
Mate, no prefácio.
Medieval
"À Direita de Deus Pai" é uma
comédia em que Buenaventura
bebe em fontes medievais. Não à
toa, o original traz o subtítulo
"Mojiganga", ou folguedo. Esse
misto de farsa e auto religioso
conjuga o humano e o divino por
meio de personagens como Jesus,
Diabo, São Pedro e Peralta.
Em "Orinoco" -encenada em
2003 por Cortez, sob o título "Estrelas do Orinoco", com atuações
de Iara Jamra e Cristina Mutarelli-, Carballido constrói um diálogo patético de duas ex-vedetes
num barco à deriva, imagem condizente com o sonho de estrelato
de ambas que, ainda assim, estão
a cantar e a dançar.
Larco faz uma paródia da obra
do francês Alfred Jarry (1873-1907) em "Ubu Presidente". Do
mesmo modo que o protagonista
do clássico "Ubu Rei", que se
apossa do trono em uma Polônia
imaginária, ou seja, "em lugar nenhum" -de acordo com Jarry-,
a ação da peça do peruano acontece em uma não menos imaginária República de Chipaltenango,
"em qualquer lugar", como descreve Mate.
A narrativa de "Infiéis" transcorre em tempo e espaços permanentemente desconstruídos. De la
Parra entrecruza memórias emocionais de dois casais.
Épico
"É um drama sobre o inevitável
da paixão, vista numa perspectiva
épica. Traições amorosas e ideológicas fazem parte da história de
dois casais que sobreviveram aos
chamados anos de chumbo", diz
Hugo Villavicenzio, professor e
pesquisador de ascendência peruana, radicado no Brasil desde os
anos 70 e responsável pela tradução das quatro peças.
O projeto de Cortez é, a longo
prazo, formar uma antologia de
textos contemporâneos. Estão
sendo definidos os autores do segundo volume, que deve sair até o
final do ano.
TEATRO DA AMÉRICA LATINA. Peças
de Enrique Buenaventura, Emilio
Carballido, Juan Larco e Marco Antonio
de la Parra. Tradução: Hugo Villavicenzio.
Editora: Teatro-Escola Célia Helena (tel.
0/xx/11/3884-8294). Quanto: R$ 28 (272
págs.).
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