São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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TEATRO

Espaço Célia Helena ingressa na área editorial com antologia que traz autores do Chile, México, Peru e da Colômbia

Escola publica obra de dramaturgia latino-americana

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No âmbito da América Latina, é mais fácil aos brasileiros citar um cineasta, escritor ou artista plástico do que se lembrar de um autor de teatro da região.
O livro "Teatro da América Latina" surge como contraponto à escassez editorial na área da dramaturgia. A iniciativa é do Teatro-Escola Célia Helena, localizado em São Paulo, que completa 27 anos neste mês.
Segundo a diretora artística da escola, Lígia Cortez, o objetivo, além de ampliar o currículo de textos, é divulgar essa dramaturgia "tão próxima culturalmente, irmã de povos e similar nos problemas e questões".
Ela fala ainda em "quebrar esse pensamento colonizado", mais afeito às peças da Europa e dos Estados Unidos.
O primeiro volume reúne quatro autores, num retrospecto dos anos 60 aos anos 80. Três deles são veteranos que enveredam pela comédia: o colombiano Enrique Buenaventura (1925-2003), representado por "À Direita de Deus Pai"; o mexicano Emilio Carballido, 79, com "Orinoco"; e o peruano Juan Larco, 76, com "Ubu Presidente".
Cabe ao chileno Marco Antonio de la Parra, 52, a cota do drama ao final do livro, com "Infiéis".
"São textos inseridos em tendências estéticas distintas, passando sobretudo pela experiência do teatro popular", afirma o professor e pesquisador Alexandre Mate, no prefácio.

Medieval
"À Direita de Deus Pai" é uma comédia em que Buenaventura bebe em fontes medievais. Não à toa, o original traz o subtítulo "Mojiganga", ou folguedo. Esse misto de farsa e auto religioso conjuga o humano e o divino por meio de personagens como Jesus, Diabo, São Pedro e Peralta.
Em "Orinoco" -encenada em 2003 por Cortez, sob o título "Estrelas do Orinoco", com atuações de Iara Jamra e Cristina Mutarelli-, Carballido constrói um diálogo patético de duas ex-vedetes num barco à deriva, imagem condizente com o sonho de estrelato de ambas que, ainda assim, estão a cantar e a dançar.
Larco faz uma paródia da obra do francês Alfred Jarry (1873-1907) em "Ubu Presidente". Do mesmo modo que o protagonista do clássico "Ubu Rei", que se apossa do trono em uma Polônia imaginária, ou seja, "em lugar nenhum" -de acordo com Jarry-, a ação da peça do peruano acontece em uma não menos imaginária República de Chipaltenango, "em qualquer lugar", como descreve Mate.
A narrativa de "Infiéis" transcorre em tempo e espaços permanentemente desconstruídos. De la Parra entrecruza memórias emocionais de dois casais.

Épico
"É um drama sobre o inevitável da paixão, vista numa perspectiva épica. Traições amorosas e ideológicas fazem parte da história de dois casais que sobreviveram aos chamados anos de chumbo", diz Hugo Villavicenzio, professor e pesquisador de ascendência peruana, radicado no Brasil desde os anos 70 e responsável pela tradução das quatro peças.
O projeto de Cortez é, a longo prazo, formar uma antologia de textos contemporâneos. Estão sendo definidos os autores do segundo volume, que deve sair até o final do ano.


TEATRO DA AMÉRICA LATINA. Peças de Enrique Buenaventura, Emilio Carballido, Juan Larco e Marco Antonio de la Parra. Tradução: Hugo Villavicenzio. Editora: Teatro-Escola Célia Helena (tel. 0/xx/11/3884-8294). Quanto: R$ 28 (272 págs.).


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