São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2005

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Novo blockbuster de ficção científica de Steven Spielberg quer dominar bilheterias com estréia antecipada em todo o mundo

O dia em que a terra parou

Divulgação
O ator Tom Cruise em cena de "Guerra dos Mundos", de Spielberg, que estréia hoje


PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

A Casa Branca não é destruída, os arranha-céus de Nova York não são varridos do mapa, não há franceses aterrorizados enquanto a torre Eiffel despenca. E não, os americanos não são os responsáveis por uma salvação mundial.
"Guerra dos Mundos", que estréia hoje nos cinemas de todo o planeta, é um filme sobre uma invasão de alienígenas que planejam eliminar os humanos da face da Terra mas também conta a história de um pai de família separado e relapso, Ray Ferrier (Tom Cruise), que luta para garantir a sobrevivência dos dois filhos, Robbie (Justin Chatwin) e Rachel (Dakota Fanning).
Os efeitos especiais que se esperam de um filme de Steven Spielberg -raios, naves de extraterrestres, raios laser mortais- estão todos lá. Entretanto, as cenas mais chocantes do filme, na opinião dos atores e do seu diretor, passam longe dessas partes.
"Poderia ser muito mais como "Independence Day", numa grande batalha do Exército contra os aliens, mas não quis seguir nessa direção", disse Spielberg em entrevista para cerca de 200 jornalistas que a Folha acompanhou.
Um indicativo dessa escolha é justamente o fato de o filme começar numa vizinhança de Nova Jersey, região perto de Nova York, longe dos símbolos do capitalismo norte-americano e perto das vidas dos cidadãos comuns. Não há imagens em tempo real do que acontece nos grandes centros, ninguém sabe o que se passa lá fora, como se o mundo fosse apenas ali e naquela hora.
(Pausa: essa parte tem uma curiosidade para o público brasileiro. Essa região de Nova Jersey tem uma grande concentração de imigrantes do país e, numa das cenas iniciais do ataque, é possível ouvir claramente uma frase em português dita por um figurante.)
O filme é cheio de novas idéias como o modo como as pessoas morrem e o fato de os alienígenas não surgirem dos céus.

11 de Setembro
Baseada no livro do britânico H.G. Wells, publicado pela primeira vez em 1898, a história -e suas adaptações- sempre levantou uma metáfora com relação ao ambiente histórico que a cercava. Desta vez não foi diferente.
Em 1938, um programa de rádio em que Orson Welles narrou como verdadeira a invasão levou pânico aos EUA, em uma época em que a ameaça do fascismo na Europa pairava sobre a América antes da guerra. No início da década de 50, o inimigo refletido no ataque era o comunismo. Agora, no início do século 21, é o terrorismo que toma a cena.
A comparação com o 11 de Setembro é natural -um ataque inesperado, de autores desconhecidos, em que os norte-americanos não se dão conta do motivo da violência. Uma das primeiras cenas do filme, em que Cruise entra em casa coberto de pó e atônito logo depois do primeiro massacre dos aliens, por exemplo, remete às imagens dos nova-iorquinos pós-queda das torres.
Mas Spielberg, sem refutar a metáfora, escapa. "Eu tenho esperança no futuro. E [o filme] é um reflexo disso, em todas as metáforas que você quiser imaginar. Tentei fazê-lo o mais aberto possível a todas as interpretações, para que não houvesse uma grande polêmica política no minuto seguinte", disse o cineasta.
Além das interpretações políticas, outras comparações inevitáveis são as com filmes de ficção científica feitos antes por Spielberg. ""ET" virou gângster", brincou o ator Tom Cruise.
Além de uma das maiores campanhas de publicidade do verão norte-americano, o lançamento conta com um impulso adicional do que muitos vêem como uma jogada de marketing: o comportamento cada vez mais estranho do astro Tom Cruise e, ao mesmo tempo, o anúncio de seu noivado com Katie Holmes, estrela do blockbuster "Batman Begins".
Na entrevista de lançamento do longa, até Spielberg foi sarcástico em relação às perguntas sobre o noivado de Cruise, que havia começado a namorar há dois meses e fez o pedido na torre Eiffel, em Paris. "Nossa, desta vez demorou 20 minutos até que alguém perguntasse algo [sobre os preparativos da festa]", ironizou.
Na revista "Newsweek", Spielberg disse que a mídia estava "punindo" o ator por sua demonstração de felicidade. "É que a imprensa não gostou do jeito que Tom abriu seu coração."
O outro assunto dominante das aparições do ator é a cientologia, uma religião criada pelo escritor L. Ron Hubbard. Na coletiva, Cruise foi extremamente agressivo com um repórter americano que tentou comparar a religião a partes do filme: "Você não sabe do que está falando. Onde você trabalha? O quê, é bom esse jornal?", perguntou sobre o veículo, um jornal de médio porte. "Então você deveria estudar mais e pensar antes de perguntar."
Pelo menos em termos de polêmicas, o filme já se mostra um sucesso. No currículo conta com uma série de reações negativas, como a da Associação de Psiquiatria dos EUA, que ontem criticou declarações de Cruise de que a psiquiatria é uma "pseudociência". A organização disse ser "irresponsável que ele aproveite sua publicidade para promover pontos de vista ideológicos e tentar convencer pessoas a não buscar a ajuda médica de que precisam".


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