São Paulo, segunda, 29 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO
Serras Azuis é lugar muito endomingado

TELMO MARTINO
Colunista da Folha


Duas páginas coloridas de jornal anunciaram a estréia de "Serras Azuis", um grande esforço dramático da Bandeirantes, aquela emissora que insiste em ter no Luciano do Valle sua única estrela. As primeiras cenas, com um rapaz e seu cavalo contemplando, imóveis, a ampla beleza de uma paisagem justificaram a publicidade e até a promessa de uma saga.
O lamentável é que, volta à cidade, tudo se amesquinhou. Nunca se viu um lugar tão endomingado como Serras Azuis.
Se existisse um mendigo, ele vestiria,certamente, uma roupa nova. Devemos rir das gêmeas solteiras andando juntas com o mesmo lilás nos vestidos? Nem pensar. Um detalhe fácil de ambientação. E da longa peruca avermelhada que colocaram na cabeça de melão da Joana Fomm, poderíamos rir às despregadas? Claro que sim.
Perpétua
Além de tudo, ela quer um padre para benzer sua cama de recém-casada. Uma vez Perpétua, para que se arriscar em novidades?
Mas é preciso um momento para esclarecer que nem tudo é carrossel de musical americano. Os elementos são, na realidade, um preâmbulo de tragédia que já foi americana, mas que tem todo o direito de ser brasileira.
Café-com-leite
Serras Azuis é dominada por duas famílias. O revezamento dos Paiva com os Roldão é o café-com-leite deles.
Já o Ítalo Rossi, que não é Roldão nem Paiva, não está disposto a desperdiçar a crueldade do seu humor, roendo eternamente as unhas.
Quando o rapaz Roldão da bela paisagem pede a mão de uma Paiva em casamento, as cortinas do Rossi rasgam-se como o véu daquele templo. União de Paiva com Roldão faz jorrar sangue.
As duas famílias, num tiroteio, se matam. Vinte anos depois, só o Sérgio Brito não conseguiu uma eternidade com os maquiadores. O Leonardo Villar está todo pimpão. O John Herbert está solto e feliz.
Até o Gianfrancesco Guarnieri trocou os pobres por uma velha árvore que não usa black-tie. E que o Marcos Caruso continue engraçado fazendo um médico hipocondríaco.
Há esperanças de que o ótimo Ítalo Rossi faça rir. E é muito bom ver que o último Roldão (Petrônio Gontijo) já está noutra, e que o último Paiva (Giuseppe Oristânio) só quer ler.
A mulher tenta com muita sedução. Ele prefere novas páginas a novos Paiva. A novela promete.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.