JVC JAZZ FESTIVAL NOVA YORK [
Evento aprova sua fórmula pluralista
CARLOS CALADO
enviado especial a Nova York
Com uma disputada apresentação de Caetano Veloso, no Beacon
Theater, em Nova York, terminou
anteontem o JVC Jazz Festival.
O mais tradicional evento do gênero, nos EUA, fechou sua 27ª edição vendo sua fórmula pluralista
ser aprovada pelo público. Sem
apelar para atrações excessivamente oportunistas (como têm feito festivais similares, caso do Montreux Jazz, na Suíça), o JVC conseguiu equilibrar qualidade artística
com sentido comercial.
Incluir no elenco nomes ligados
ao mercado pop, como James
Brown, Ray Charles ou Carlinhos
Brown, é uma tática praticamente
necessária, nos dias de hoje, para
ampliar o público e a repercussão
dos festivais de jazz. Usado com
critérios musicais, esse recurso pode, em vez de descaracterizar, fortalecer esses eventos.
Esta edição do JVC nova-iorquino mostrou também que o sucesso
de um festival depende muito de se
escolher o palco mais apropriado
para cada show ou concerto.
Uma noite como a da última sexta-feira, no Symphony Space, que
festejou o 60º aniversário do influente selo Blue Note, dificilmente
ocuparia as 2.000 poltronas do solene Carnegie Hall (um espaço, por
sinal, bem mais apropriado para
concertos eruditos do que um
show de jazz).
Mais intimista, com cerca de metade da capacidade do Carnegie
Hall, o Symphony Space revelou-se perfeito para os três sets com artistas da Blue Note.
A noite começou com uma boa
surpresa. O baterista Leon Parker e
o guitarrista Charlie Hunter excitaram a platéia com sua música informal e quase minimalista. Os
dois improvisam todo o tempo,
uma fusão de jazz moderno, blues
e pitadas de rock, revelando uma
afinidade musical que acaba contagiando o público.
A atração seguinte foi o pianista
cubano Gonzalo Rubalcaba, que
praticamente repetiu o concerto
solo exibido durante o último Heineken Concerts, em São Paulo,
dois meses atrás. Tocou várias baladas lentas, esbanjando emoção e
sensibilidade.
Já o quarteto do saxofonista e
compositor Greg Osby mostrou
que tem um compromisso com a
evolução da linguagem jazzística.
Em três composições próprias, o
grupo exibiu improvisos intrincados, que se aproximaram da liberdade radical do free jazz.
Ao final de duas semanas de programação musical, o 27º JVC Festival provou que o jazz tem vitalidade e variedade estilística de sobra
para enfrentar seu segundo século
de vida. Basta que artistas e produtores não se preocupem apenas
com retorno imediato.
O jornalista Carlos Calado viajou a convite da
JVC do Brasil.
Texto Anterior: Outros lançamentos
Próximo Texto: Caetano abre turnê pelos EUA
Índice