São Paulo, Terça-feira, 29 de Junho de 1999
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JVC JAZZ FESTIVAL NOVA YORK [ Evento aprova sua fórmula pluralista

CARLOS CALADO
enviado especial a Nova York


Com uma disputada apresentação de Caetano Veloso, no Beacon Theater, em Nova York, terminou anteontem o JVC Jazz Festival.
O mais tradicional evento do gênero, nos EUA, fechou sua 27ª edição vendo sua fórmula pluralista ser aprovada pelo público. Sem apelar para atrações excessivamente oportunistas (como têm feito festivais similares, caso do Montreux Jazz, na Suíça), o JVC conseguiu equilibrar qualidade artística com sentido comercial.
Incluir no elenco nomes ligados ao mercado pop, como James Brown, Ray Charles ou Carlinhos Brown, é uma tática praticamente necessária, nos dias de hoje, para ampliar o público e a repercussão dos festivais de jazz. Usado com critérios musicais, esse recurso pode, em vez de descaracterizar, fortalecer esses eventos.
Esta edição do JVC nova-iorquino mostrou também que o sucesso de um festival depende muito de se escolher o palco mais apropriado para cada show ou concerto.
Uma noite como a da última sexta-feira, no Symphony Space, que festejou o 60º aniversário do influente selo Blue Note, dificilmente ocuparia as 2.000 poltronas do solene Carnegie Hall (um espaço, por sinal, bem mais apropriado para concertos eruditos do que um show de jazz).
Mais intimista, com cerca de metade da capacidade do Carnegie Hall, o Symphony Space revelou-se perfeito para os três sets com artistas da Blue Note.
A noite começou com uma boa surpresa. O baterista Leon Parker e o guitarrista Charlie Hunter excitaram a platéia com sua música informal e quase minimalista. Os dois improvisam todo o tempo, uma fusão de jazz moderno, blues e pitadas de rock, revelando uma afinidade musical que acaba contagiando o público.
A atração seguinte foi o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, que praticamente repetiu o concerto solo exibido durante o último Heineken Concerts, em São Paulo, dois meses atrás. Tocou várias baladas lentas, esbanjando emoção e sensibilidade.
Já o quarteto do saxofonista e compositor Greg Osby mostrou que tem um compromisso com a evolução da linguagem jazzística. Em três composições próprias, o grupo exibiu improvisos intrincados, que se aproximaram da liberdade radical do free jazz.
Ao final de duas semanas de programação musical, o 27º JVC Festival provou que o jazz tem vitalidade e variedade estilística de sobra para enfrentar seu segundo século de vida. Basta que artistas e produtores não se preocupem apenas com retorno imediato.


O jornalista Carlos Calado viajou a convite da JVC do Brasil.


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