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BARBARA GANCIA
Não use o mesmo gel que o João Kléber
Quem já não teve o desprazer de ter o sono matinal ou,
quem sabe?, até um telefonema
decisivo ao gerente do banco interrompido pela voz estridente do
vendedor ambulante?
"Pamonha, pamonha, pamonha" não é apenas a marca registrada do chato do megafone. Pamonha é todo aquele que, por
meio da compra do produto vendido pelo ambulante barulhento,
legitima o uso da poluição sonora
como forma de publicidade.
Você quer acabar com o transtorno que volta e meia se instala
fora da sua janela? Então faça o
óbvio: pare de comprar o produto
do homem da pamonha e encoraje seus vizinhos a fazerem o mesmo. O boicote é uma das armas
mais funcionais de que o consumidor insatisfeito dispõe e existem dezenas de maneiras de exercê-lo. Recentemente, uma companhia telefônica dos EUA teve de
cancelar uma nova tarifa em razão da ira dos usuários, que pararam, em bloco, de utilizar os serviços da empresa apenas, note
bem, um dia por semana. Esse tipo de boicote também é comum
na internet, que se tornou o meio
mais conveniente para convocar
o consumidor a se rebelar.
Por que não fazer algo parecido
em relação ao lixo da TV? Claro,
não adianta mudar de canal na
hora do programa da apresentadora mico-leão-dourado. Isso a
gente já faz e o efeito é nulo. Mas
que tal se, de hoje em diante, você
começasse a boicotar os produtos
que são anunciados nesses programas e estimulasse as pessoas
ao seu redor a fazerem o mesmo?
Sei que estou trafegando pelo território do óbvio mais gritante,
acontece que a gente fala, fala e fica só no falar.
Confesso que eu mesma estou
sempre tão ocupada na hora em
que a perua do fruteiro estaciona
na calçada do meu prédio que
nunca coloquei em prática o plano de distribuir folhetos explicativos aos que se aproximam da
Kombi do gritalhão. O máximo
que já fiz foi desperdiçar nele um
ovo caipira, que caiu sobre a capota de lona da perua e respingou
nas calças do dito cujo. Fui recompensada pela imagem do sujeito se limpando com um jornal e
resmungando que eu não batia
bem, mas meu ato foi só futilidade. Na semana seguinte, lá estava
ele de novo.
Como ninguém aqui tem tempo
para se deslocar até Barueri e esperar com uma bandeja de ovos o
João Kléber sair da Rede TV! e como isso seria patético, além de ilegal, que tal começar a fazer a cabeça da família, do colega, do motorista de táxi e do vizinho para
que eles pensem duas vezes antes
de consumir os produtos que os
vilões da telinha utilizam ou recomendam?
E-mail: barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/
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