São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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BARBARA GANCIA

Não use o mesmo gel que o João Kléber

Quem já não teve o desprazer de ter o sono matinal ou, quem sabe?, até um telefonema decisivo ao gerente do banco interrompido pela voz estridente do vendedor ambulante?
"Pamonha, pamonha, pamonha" não é apenas a marca registrada do chato do megafone. Pamonha é todo aquele que, por meio da compra do produto vendido pelo ambulante barulhento, legitima o uso da poluição sonora como forma de publicidade.
Você quer acabar com o transtorno que volta e meia se instala fora da sua janela? Então faça o óbvio: pare de comprar o produto do homem da pamonha e encoraje seus vizinhos a fazerem o mesmo. O boicote é uma das armas mais funcionais de que o consumidor insatisfeito dispõe e existem dezenas de maneiras de exercê-lo. Recentemente, uma companhia telefônica dos EUA teve de cancelar uma nova tarifa em razão da ira dos usuários, que pararam, em bloco, de utilizar os serviços da empresa apenas, note bem, um dia por semana. Esse tipo de boicote também é comum na internet, que se tornou o meio mais conveniente para convocar o consumidor a se rebelar.
Por que não fazer algo parecido em relação ao lixo da TV? Claro, não adianta mudar de canal na hora do programa da apresentadora mico-leão-dourado. Isso a gente já faz e o efeito é nulo. Mas que tal se, de hoje em diante, você começasse a boicotar os produtos que são anunciados nesses programas e estimulasse as pessoas ao seu redor a fazerem o mesmo? Sei que estou trafegando pelo território do óbvio mais gritante, acontece que a gente fala, fala e fica só no falar.
Confesso que eu mesma estou sempre tão ocupada na hora em que a perua do fruteiro estaciona na calçada do meu prédio que nunca coloquei em prática o plano de distribuir folhetos explicativos aos que se aproximam da Kombi do gritalhão. O máximo que já fiz foi desperdiçar nele um ovo caipira, que caiu sobre a capota de lona da perua e respingou nas calças do dito cujo. Fui recompensada pela imagem do sujeito se limpando com um jornal e resmungando que eu não batia bem, mas meu ato foi só futilidade. Na semana seguinte, lá estava ele de novo.
Como ninguém aqui tem tempo para se deslocar até Barueri e esperar com uma bandeja de ovos o João Kléber sair da Rede TV! e como isso seria patético, além de ilegal, que tal começar a fazer a cabeça da família, do colega, do motorista de táxi e do vizinho para que eles pensem duas vezes antes de consumir os produtos que os vilões da telinha utilizam ou recomendam?

E-mail: barbara@uol.com.br

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