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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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Hope convertia piada em arte e fortuna

VINCENT CANBY
DO "NEW YORK TIMES"

Não havia nada que Bob Hope amasse mais que uma audiência, e as audiências retribuíam, especialmente os soldados em teatros de combate, que precisavam de alguma coisa que os fizesse rir.
Alguns anos atrás, ele fretou um iate para um cruzeiro em águas canadenses. Foi uma das poucas férias formais que o comediante experimentou, e Hope descobriu que não suportava tanta serenidade. Reduziu a duração do cruzeiro e voltou a Hollywood comentando que "os peixes não aplaudem".
Hope, que transformou a piada rápida em uma forma de arte e em uma fonte de fortuna, adorava os aplausos. Era o segredo de seu vigor juvenil. Era também uma fonte importante da energia que permitia que ele viajasse milhões de quilômetros para entreter os militares norte-americanos. Entre 1941 e 1948, realizou programas de rádio em bases do Exército.
Hope se saía muito bem com uma variedade de humor ousado e oportuno. Ele jamais exibiu grande profundidade ou sutileza em suas piadas, mas nos seus melhores momentos apresentava uma irreverência pungente que lhe valeu diversas carreiras de enorme sucesso no teatro, no rádio, no cinema e na televisão.
Diferentemente da maioria dos comediantes que atingiram o sucesso nas primeiras décadas do século, Hope não empregava truques de fala, roupa ou pantomima. Seu personagem, essencialmente natural, era o de um espertalhão de fala rápida, um fanfarrão, um trapaceiro atraente com uma piada sempre pronta nos lábios.
Woody Allen é um dos humoristas que mencionam Hope como influência em seu trabalho. "Quando minha mãe me levou para ver "Road to Morocco", eu soube exatamente o que queria fazer da minha vida", disse Allen.
Hope batalhou muito antes de chegar ao topo, no vaudeville e no teatro, até ganhar destaque nacional em 1938. Foi naquele ano que ele começou sua série de programas de rádio, e também estreou no cinema, com "The Big Broadcast of 1938".
Ele já estrelara em meia dúzia de filmes, de sucesso variado, quando em 1940 foi escalado pela Paramount para "Road to Singapore", com seu velho amigo Bing Crosby (1903-1977). A agressividade muitas vezes fútil de Hope complementava perfeitamente a empáfia de Crosby. O filme, uma história picaresca sobre dois trapaceiros contada por meio de canções, piadas simplórias e uso irrestrito de truques de câmera engraçadinhos, foi um imenso sucesso de bilheteria. Seus projetos solo, como "The Ghost Breakers", "My Favorite Blonde", "Monsieur Beaucaire", "The Lemon Drop Kid" e "The Paleface", combinados ao sucesso de seus filmes com Crosby, lhe valeram lugar por 13 anos, entre 1941 e 1953, como um dos dez artistas de maior bilheteria dos EUA.


Vincent Canby (1924-2000), foi crítico de cinema do "New York Times"

Tradução Paulo Migliacci



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