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Hope convertia piada em arte e fortuna
VINCENT CANBY
DO "NEW YORK TIMES"
Não havia nada que Bob Hope
amasse mais que uma audiência,
e as audiências retribuíam, especialmente os soldados em teatros
de combate, que precisavam de
alguma coisa que os fizesse rir.
Alguns anos atrás, ele fretou um
iate para um cruzeiro em águas
canadenses. Foi uma das poucas
férias formais que o comediante
experimentou, e Hope descobriu
que não suportava tanta serenidade. Reduziu a duração do cruzeiro
e voltou a Hollywood comentando que "os peixes não aplaudem".
Hope, que transformou a piada
rápida em uma forma de arte e em
uma fonte de fortuna, adorava os
aplausos. Era o segredo de seu vigor juvenil. Era também uma fonte importante da energia que permitia que ele viajasse milhões de
quilômetros para entreter os militares norte-americanos. Entre
1941 e 1948, realizou programas
de rádio em bases do Exército.
Hope se saía muito bem com
uma variedade de humor ousado
e oportuno. Ele jamais exibiu
grande profundidade ou sutileza
em suas piadas, mas nos seus melhores momentos apresentava
uma irreverência pungente que
lhe valeu diversas carreiras de
enorme sucesso no teatro, no rádio, no cinema e na televisão.
Diferentemente da maioria dos
comediantes que atingiram o sucesso nas primeiras décadas do
século, Hope não empregava truques de fala, roupa ou pantomima. Seu personagem, essencialmente natural, era o de um espertalhão de fala rápida, um fanfarrão, um trapaceiro atraente com
uma piada sempre pronta nos lábios.
Woody Allen é um dos humoristas que mencionam Hope como influência em seu trabalho.
"Quando minha mãe me levou
para ver "Road to Morocco", eu
soube exatamente o que queria
fazer da minha vida", disse Allen.
Hope batalhou muito antes de
chegar ao topo, no vaudeville e no
teatro, até ganhar destaque nacional em 1938. Foi naquele ano que
ele começou sua série de programas de rádio, e também estreou
no cinema, com "The Big Broadcast of 1938".
Ele já estrelara em meia dúzia de
filmes, de sucesso variado, quando em 1940 foi escalado pela Paramount para "Road to Singapore",
com seu velho amigo Bing Crosby
(1903-1977). A agressividade muitas vezes fútil de Hope complementava perfeitamente a empáfia
de Crosby. O filme, uma história
picaresca sobre dois trapaceiros
contada por meio de canções, piadas simplórias e uso irrestrito de
truques de câmera engraçadinhos, foi um imenso sucesso de
bilheteria. Seus projetos solo, como "The Ghost Breakers", "My
Favorite Blonde", "Monsieur
Beaucaire", "The Lemon Drop
Kid" e "The Paleface", combinados ao sucesso de seus filmes com
Crosby, lhe valeram lugar por 13
anos, entre 1941 e 1953, como um
dos dez artistas de maior bilheteria dos EUA.
Vincent Canby (1924-2000), foi crítico
de cinema do "New York Times"
Tradução Paulo Migliacci
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