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TEATRO
Produção carioca, com o ator Gaspar Filho, conta a vida e a obra do cantor
Musical recompõe Gonzaguinha
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nascido no morro de São Carlos, no Estácio, o carioca Luiz
Gonzaga do Nascimento Júnior
não riscou plano de vôo, mas foi
longe. Está aí, eternizado século 21
adentro, feito um daqueles bastiões da MPB. Tragédias pessoais
(e nacionais) atravessam as canções de Gonzaguinha (1945-91) e
ecoam no musical "Começaria
Tudo Outra Vez".
O espetáculo estreou no Rio em
1996, fez passagem-relâmpago
por São Paulo no ano seguinte,
ganhou remontagem em 2003 e
volta para somente seis noites, a
partir de amanhã, no paulistano
Teatro das Artes.
A equipe segue a mesma. O jornalista Dacio Malta, 56, escreveu
seu primeiro texto para teatro a
partir da vida e obra de Gonzaguinha. Quem representa o compositor é Gaspar Filho, 42, cuja verossimilhança física e vocal em cena
chama a atenção.
"Tem gente que brinca e pergunta se "recebo" o Gonzaguinha.
Não, estudo", diz o ator, que ouviu toda a obra, assistiu a vídeos e
entrevistou amigos e familiares
do homenageado.
O roteiro de "Começaria Tudo
Outra Vez", título do álbum homônimo de 1976, abre com uma
morte simbólica, cometida pela
censura. Paradoxalmente foi ela
que alavancou a carreira do cantor quando ele foi esculhambado
por Flavio Cavalcanti em 1972,
por causa do compacto e da canção "Comportamento Geral".
Uma outra morte, a de fato, fecha as cortinas (um acidente de
carro no interior do Paraná). Entre uma e outra, diz Malta, o artista e o homem desenham vaivém
não-cronológico.
São muitos os caminhos que levam a Gonzaguinha: o cantor de
protesto ("Explode Coração" e
"Vamos à Luta", por exemplo), os
embates com a tuberculose ("Semente do Amanhã"), o desbunde
("A Felicidade Bate à Sua Porta",
com as Frenéticas), a relação espinhosa com o pai, Luiz Gonzaga, o
Gonzagão ("Diga Lá, Coração"),
as mulheres ("Eu Apenas Queria
Que Você Soubesse"), a depressão ("Sangrando") etc.
Em duas horas e 15 minutos,
Gaspar Filho interpreta 35 canções. Ele se desdobra ainda em
outros personagens masculinos e
femininos, como Gonzagão e Dina, sua mãe de criação (a mãe verdadeira, Odaléia, era dançarina e
morreu quando ele tinha dois
anos), além do narrador Fernando Jota, homenagem ao compositor Fernando Brant e ao arranjador Jota Moraes, parceiros recorrentes de Gonzaguinha.
Rancores
O maestro Marco Pereira reescreveu todos os arranjos e organizou o quarteto de músicos que
acompanha o ator ao vivo. "Procuro transmitir minha alegria em
interpretá-lo, mas também minha dor, a pena que sinto por esse
homem que morreu aos 45 anos e
faz muita falta. Ao mesmo tempo,
há os seus rancores também retratados", diz Gaspar Filho. Como
sempre, é hora de recomeçar.
COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ. Texto
e direção: Dacio Malta. Com: Gaspar
Filho. Músicos: Marcos Amorim , Felipe
Portinho, Itamar Assiere e Erivelton Silva.
Cenografia: José Dias. Onde: teatro das
Artes - shopping Eldorado (av. Rebouças,
3.970, Pinheiros, São Paulo, tel. 0/xx/11/
3034-0075). Quando: reestréia amanhã,
às 21h30; sex. e sáb., às 21h30; dom., às
18h. Quanto: R$ 35 (sex.) e R$ 40.
Patrocinadores: CEF, Correios e
Eletrobrás.
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