São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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TEATRO

Produção carioca, com o ator Gaspar Filho, conta a vida e a obra do cantor

Musical recompõe Gonzaguinha

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nascido no morro de São Carlos, no Estácio, o carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior não riscou plano de vôo, mas foi longe. Está aí, eternizado século 21 adentro, feito um daqueles bastiões da MPB. Tragédias pessoais (e nacionais) atravessam as canções de Gonzaguinha (1945-91) e ecoam no musical "Começaria Tudo Outra Vez".
O espetáculo estreou no Rio em 1996, fez passagem-relâmpago por São Paulo no ano seguinte, ganhou remontagem em 2003 e volta para somente seis noites, a partir de amanhã, no paulistano Teatro das Artes.
A equipe segue a mesma. O jornalista Dacio Malta, 56, escreveu seu primeiro texto para teatro a partir da vida e obra de Gonzaguinha. Quem representa o compositor é Gaspar Filho, 42, cuja verossimilhança física e vocal em cena chama a atenção.
"Tem gente que brinca e pergunta se "recebo" o Gonzaguinha. Não, estudo", diz o ator, que ouviu toda a obra, assistiu a vídeos e entrevistou amigos e familiares do homenageado.
O roteiro de "Começaria Tudo Outra Vez", título do álbum homônimo de 1976, abre com uma morte simbólica, cometida pela censura. Paradoxalmente foi ela que alavancou a carreira do cantor quando ele foi esculhambado por Flavio Cavalcanti em 1972, por causa do compacto e da canção "Comportamento Geral".
Uma outra morte, a de fato, fecha as cortinas (um acidente de carro no interior do Paraná). Entre uma e outra, diz Malta, o artista e o homem desenham vaivém não-cronológico.
São muitos os caminhos que levam a Gonzaguinha: o cantor de protesto ("Explode Coração" e "Vamos à Luta", por exemplo), os embates com a tuberculose ("Semente do Amanhã"), o desbunde ("A Felicidade Bate à Sua Porta", com as Frenéticas), a relação espinhosa com o pai, Luiz Gonzaga, o Gonzagão ("Diga Lá, Coração"), as mulheres ("Eu Apenas Queria Que Você Soubesse"), a depressão ("Sangrando") etc.
Em duas horas e 15 minutos, Gaspar Filho interpreta 35 canções. Ele se desdobra ainda em outros personagens masculinos e femininos, como Gonzagão e Dina, sua mãe de criação (a mãe verdadeira, Odaléia, era dançarina e morreu quando ele tinha dois anos), além do narrador Fernando Jota, homenagem ao compositor Fernando Brant e ao arranjador Jota Moraes, parceiros recorrentes de Gonzaguinha.

Rancores
O maestro Marco Pereira reescreveu todos os arranjos e organizou o quarteto de músicos que acompanha o ator ao vivo. "Procuro transmitir minha alegria em interpretá-lo, mas também minha dor, a pena que sinto por esse homem que morreu aos 45 anos e faz muita falta. Ao mesmo tempo, há os seus rancores também retratados", diz Gaspar Filho. Como sempre, é hora de recomeçar.


COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ. Texto e direção: Dacio Malta. Com: Gaspar Filho. Músicos: Marcos Amorim , Felipe Portinho, Itamar Assiere e Erivelton Silva. Cenografia: José Dias. Onde: teatro das Artes - shopping Eldorado (av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3034-0075). Quando: reestréia amanhã, às 21h30; sex. e sáb., às 21h30; dom., às 18h. Quanto: R$ 35 (sex.) e R$ 40. Patrocinadores: CEF, Correios e Eletrobrás.


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