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CDS
MÚSICA
Experiência em banda garante variedade de percussões, ritmos e estilos
Naná Vasconcelos atualiza o regionalismo em "Chegada"
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se hoje em dia sons étnicos,
indígenas, folclóricos, regionais, experimentais e improvisados já não causam estranheza a
ninguém, muito disso se deve ao
percussionista pernambucano
Naná Vasconcelos. E, se hoje colagens de referências passam com
tranqüilidade por pós-modernidade quando em mãos mais deslumbradas, Vasconcelos, então, já
é pós-moderno há tempos.
Em "Chegada", novo álbum de
Vasconcelos, o primeiro solo desde "Minha Lôa", de 2002, ele continua mostrando -mais de 30
anos depois de estrear sua carreira- que sua música é moderna
porque é sua. Colocando lado a
lado instrumentos como flauta,
violoncelo, acordeão, piano, congas e toda uma miríade de instrumentos percussivos, ele cria uma
sonoridade particular, visual, que
transborda de referências.
Sanfona e triângulo dialogam
com piano. Cavaquinho divide
espaço com elementos tribais. Sax
improvisa sobre ambiente erudito. O homem que reinventou a
percussão nos anos 70 e coloca
berimbau para tocar com orquestra não se limita: a música é visual,
mas os cenários são muitos.
Ele próprio confirma esse aspecto visual de sua música, citando Villa-Lobos e Jimi Hendrix.
"Esses são, talvez, os dois músicos
que mais me influenciaram. O
Hendrix porque me mostrou que
o instrumento não precisa ser limitado a nada. Ele fez de tudo
com a guitarra. Aí eu entendi que
a cuíca não foi feita só pro samba,
o berimbau não foi feito só pra capoeira. E o Villa me mostrou a potência do visual que existe na música. O "Trenzinho Caipira" dele,
por exemplo, é isso -ele põe você na janela do trem vendo a paisagem do Brasil", afirma o pernambucano.
Realmente, a música de Villa-Lobos funciona como uma própria analogia do álbum. Com uma
composição dele, "O Canto do
Cisne Negro", o disco de Vasconcelos, assim como as músicas de
Villa-Lobos, tem aquela beleza
rústica, percussiva, brasileira, ao
mesmo tempo em que carrega
grande requinte e utiliza instrumentos camerísticos e sofisticados.
Vasconcelos, aqui, atualiza o regionalismo, com variedade de
percussões e levadas e ritmos e estilos, mas com intervenções de
violoncelo e piano, que criam um
choque moderno e interessante.
Como sempre com Vasconcelos,
o disco não encontra limites em si
mesmo e flui através de sua multiplicidade.
Muito disso, ele conta, foi encontrado graças à sua nova experiência: uma banda. "Eu nunca tive um grupo no Brasil. Sempre
que fiz discos aqui, começava do
zero, gravando uma coisa, depois
outra. O resultado é que cada
composição saía de forma diferente. Como cada disco meu é
uma história, desta vez quis convidar alguns músicos e formar
uma banda mesmo, para fazer o
disco e para tocar comigo ao vivo", diz o percussionista.
Os músicos parceiros de Vasconcelos no projeto são quatro,
todos multiinstrumentistas e com
a mesma tendência ao improviso
e aos sons próprios: César Michiles (flauta e sax), Lui Coimbra
(violão e violoncelo), Chiquinho
Chagas (piano e acordeão) e Lucas dos Prazeres (percussão).
"São músicos com quem eu trabalhei em uma ocasião ou outra e
que achei que funcionariam bem
juntos e comigo. Queria esse espírito diferente, renovado. Eu tenho
a felicidade de estar tocando com
pessoas que nem eram nascidas
quando eu saí do Brasil na primeira vez. Músicos jovens, com vontade, que gostam de tocar comigo.
Isso me rejuvenesce", ele explica.
Às vésperas de completar 61
anos, no próximo dia 2 de agosto,
é provável que o próprio Vasconcelos rejuvenesça os músicos com
quem toca. Sua música parece cada vez mais jovem e moderna.
Chegada
Artista: Naná Vasconcelos
Lançamento: Azul Music
Quanto: R$ 29, em média
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