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ANÁLISE
Rodriguez faz seu decalque
GISELLE BEIGUELMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Sin City" é um filme produzido digitalmente de
ponta a ponta e um marco na história dos efeitos visuais, mas passa longe das discussões mais importantes que se fazem hoje no
campo da imagem digital.
Essas discussões questionam a
emergência de novos repertórios
de visão e de significação e têm
custado aos especialistas pesquisas sobre computação distribuída, imagens sensoriais e equipamentos de interação.
Em relação aos efeitos visuais,
contudo, é inegável a competência da transposição dos quadrinhos de Miller para as telas pela
equipe pilotada por Rodriguez.
Responderam pela produção
desses efeitos dois diretores de
criação de seu estúdio, Rodney
Brunet e Eric Pham, e três empresas (CafeFX, Orphanage e Hybride Technologies), com 150 profissionais e recursos para criação,
produção e edição de imagens.
Mostraram como são ótimos os
novos programas para modelagem tridimensional, XSI e LightWave, e fizeram a festa do Flame,
um acessório (plug-in) para edição de vídeo digital, utilizado para
dar o clima noir de "Sin City".
Além disso, o filme comprovou
a sofisticação do formato de vídeo
HDCAM SR, em termos de resolução de imagem digital, e transformou as câmeras HFC-950,
(que também participaram de
"Star Wars 3" e "Capitão Sky")
em vedetes da hora.
As câmeras são um destaque
não só porque seu produto conversa bem com os programas utilizados para compor os cenários
mas porque permitiram bons padrões de conversão de cor (captada no set de filmagem) para preto-e-branco e posteriores colorizações que fazem o charme do filme como espetáculo visual.
Circularam muitas imagens do
making of do filme, com os atores
contracenando sobre fundo verde, que foi depois substituído pelos cenários, desenhados em
computador, que compõem as réplicas fiéis das HQs de Miller.
É importante saber que as câmeras foram agentes facilitadores
desse processo, que tecnicamente
é conhecido como "matte", viabilizando o primor da modelagem
computadorizada, em parte feita
durante as próprias filmagens.
No site vfxblog+ (www.vfxblog.
com), há imagens e animações de
pré e pós-produção, com as etapas desses processos que fizeram
de "Sin City" não uma tradução
das HQs de Miller para o cinema,
mas um decalque.
Faz jus ao pacto de Miller e Rodriguez, mas não deixa de ser
frustrante. Nada mais incompatível com as promessas de criação
com imagens digitais, que teóricos chegam a definir como prenúncio de mídias habitáveis, do
que um filme que parece nos ensinar que as novas mídias servem
para fazer tudo o que fazíamos, só
que de forma mais bem-acabada.
Orson Welles, Nam June Paik,
Peter Greenaway, JODI, influenza.etc.br, com suas respectivas estratégias tecnológicas, felizmente,
tendem a nos ensinar o contrário.
Giselle Beiguelman é professora da
pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e criadora de arte digital. Site: www.desvirtual.com
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