São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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ANÁLISE

Rodriguez faz seu decalque

GISELLE BEIGUELMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Sin City" é um filme produzido digitalmente de ponta a ponta e um marco na história dos efeitos visuais, mas passa longe das discussões mais importantes que se fazem hoje no campo da imagem digital.
Essas discussões questionam a emergência de novos repertórios de visão e de significação e têm custado aos especialistas pesquisas sobre computação distribuída, imagens sensoriais e equipamentos de interação.
Em relação aos efeitos visuais, contudo, é inegável a competência da transposição dos quadrinhos de Miller para as telas pela equipe pilotada por Rodriguez.
Responderam pela produção desses efeitos dois diretores de criação de seu estúdio, Rodney Brunet e Eric Pham, e três empresas (CafeFX, Orphanage e Hybride Technologies), com 150 profissionais e recursos para criação, produção e edição de imagens.
Mostraram como são ótimos os novos programas para modelagem tridimensional, XSI e LightWave, e fizeram a festa do Flame, um acessório (plug-in) para edição de vídeo digital, utilizado para dar o clima noir de "Sin City".
Além disso, o filme comprovou a sofisticação do formato de vídeo HDCAM SR, em termos de resolução de imagem digital, e transformou as câmeras HFC-950, (que também participaram de "Star Wars 3" e "Capitão Sky") em vedetes da hora.
As câmeras são um destaque não só porque seu produto conversa bem com os programas utilizados para compor os cenários mas porque permitiram bons padrões de conversão de cor (captada no set de filmagem) para preto-e-branco e posteriores colorizações que fazem o charme do filme como espetáculo visual.
Circularam muitas imagens do making of do filme, com os atores contracenando sobre fundo verde, que foi depois substituído pelos cenários, desenhados em computador, que compõem as réplicas fiéis das HQs de Miller.
É importante saber que as câmeras foram agentes facilitadores desse processo, que tecnicamente é conhecido como "matte", viabilizando o primor da modelagem computadorizada, em parte feita durante as próprias filmagens.
No site vfxblog+ (www.vfxblog. com), há imagens e animações de pré e pós-produção, com as etapas desses processos que fizeram de "Sin City" não uma tradução das HQs de Miller para o cinema, mas um decalque.
Faz jus ao pacto de Miller e Rodriguez, mas não deixa de ser frustrante. Nada mais incompatível com as promessas de criação com imagens digitais, que teóricos chegam a definir como prenúncio de mídias habitáveis, do que um filme que parece nos ensinar que as novas mídias servem para fazer tudo o que fazíamos, só que de forma mais bem-acabada.
Orson Welles, Nam June Paik, Peter Greenaway, JODI, influenza.etc.br, com suas respectivas estratégias tecnológicas, felizmente, tendem a nos ensinar o contrário.


Giselle Beiguelman é professora da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP e criadora de arte digital. Site: www.desvirtual.com

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