São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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LIVROS

Afeganistão vira best-seller no Brasil

"O Livreiro de Cabul" pega carona na trajetória de sucesso de "O Caçador de Pipas" nas listas de obras mais vendidas

Editora Nova Fronteira já tem a preferência para o segundo romance de Khaled Hosseini; Record faz aposta em "Sonhando a Palestina"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um é ficção e está há mais de 40 semanas na lista de mais vendidos da Folha. O outro é um livro-reportagem e vem se alternando entre o primeiro e segundo lugares. Em comum, "O Caçador de Pipas", do afegão Khaled Hosseini, e "O Livreiro de Cabul", da norueguesa Asne Seierstad, têm o feito de se tornarem best-sellers, no Brasil, com histórias de um país distante da realidade brasileira -o Afeganistão.
Lançado em setembro de 2005, "O Caçador de Pipas" foi uma aposta arriscada. Primeiro romance de um médico, seu passe foi arrematado em leilão pela Nova Fronteira, em 2003, por US$ 12 mil -duas outras editoras, uma grande, outra pequena, desistiram da disputa após sete lances. O livro chegou às listas de mais vendidos em novembro, teve uma "arrancada" em fevereiro de 2006 e já vendeu mais de 350 mil exemplares. À frente da aposta, estava a editora Izabel Aleixo:
"Deparei-me com "O Caçador de Pipas" no fim de 2004. Pedi o livro e logo cheguei ao fim de 20 capítulos, o que me chamou a atenção", conta Izabel. "Tivemos tiragem inicial de 15 mil cópias contra 5.000 da média. Uma semana depois, pedimos reimpressão. O boca-a-boca foi fundamental."
Os direitos de "O Livreiro de Cabul" foram comprados pela Record em 2004. A editora Luciana Villas Boas conta que soube dele pela imprensa americana, e, como traduções raramente fazem sucesso nos Estados Unidos, resolveu investir.
"A leitura confirmou minha intuição", diz Villas Boas. "E o sucesso de "O Caçador de Pipas" me deu maiores esperanças de boas vendas para "O Livreiro de Cabul". A apresentação da obra para os representantes de vendas, e para os próprios livreiros, ficaria muito mais fácil. O livro já não soaria tão exótico."
A Record saiu com uma tiragem de 5.000 cópias e preparou um caprichado material de marketing para as livrarias. Já são 20 mil exemplares vendidos, o estoque está zerado e logo entra uma nova tiragem de 15 mil, a quarta reimpressão.

Livreiros
Frederico Indiani, diretor de compras da livraria Saraiva, diz que apostou desde o início no sucesso dos livros. A rede vendeu 30 mil cópias de "O Caçador de Pipas" e cerca de 2.000 de "O Livreiro de Cabul". A reposição tem acompanhado a demanda, que, diz Indiani, ainda não deu sinais de cansaço.
Na Siciliano, o quadro não é diferente. Deric Degasperi, diretor de produto da rede, diz que os pedidos de reposição dos títulos são diários: "Os últimos conflitos no Oriente têm aumentado o interesse do leitor em conhecer a história, a cultura e as diferenças em relação à realidade do brasileiro. "O Caçador de Pipas" é ficção, mas a ambientação é calcada na realidade. E "O Livreiro de Cabul" retrata a rotina diária dos afegãos. Ambos dissecam o cotidiano afegão, o que por si só já é um atrativo para o leitor", diz.
Na Livraria da Vila, "O Caçador de Pipas" vendeu mais de mil cópias. "O Livreiro de Cabul" já figura em primeiro lugar entre os mais vendidos, com cem exemplares comercializados em 15 dias. "Ele aproveitou de certa forma o sucesso de "O Caçador de Pipas", mas tem vida própria, justamente por ser um livro-reportagem, escrito por alguém que não tem laços com o país, como é o caso do Khaled Hosseini", defende Samuel Seibel, dono da livraria.

Próximos capítulos
A Nova Fronteira tem preferência no Brasil para a compra do segundo romance de Hosseini, sobre a amizade entre duas mulheres afegãs, dos anos 50 aos dias de hoje. Atrasado, por conta de um "bloqueio" do autor, o livro está prometido para outubro, lá fora.
A Record, por sua vez, aposta em "Sonhando a Palestina", de Randa Chazy, jovem escritora nascida na Itália, de pais egípcios. "Curiosamente, também é um livro contratado no fim de 2004, que estava atrasado. Aceleramos a produção para recuperar o tempo perdido e aproveitar o momento", conta Villas Boas. "Ele conta a história de um grupo de adolescentes palestinos em busca de uma vida normal em meio à guerra. Bem bonito, muito comovente."


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