|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
Sylvia Plath ganhará mais um filme
Atriz Julia Stiles compra os direitos de "A Redoma de Vidro", único romance da poeta; roteiro deve ficar pronto em agosto
Na época de seu lançamento, crítica britânica não recebeu bem o livro; já nos EUA, prestígio da obra foi muito maior
CHRISTINA PATTERSON
DO "INDEPENDENT"
Sylvia Plath escreveu em seu
diário, em 12 de dezembro de
1958: "Por que eu não escrevo
um romance?". Dois anos e
meio mais tarde, acrescentou,
em tinta vermelha: "Escrevi! 22
de agosto de 1961. A Redoma de
Vidro" [lançado no Brasil pela
Record em 1999].
O romance foi publicado em
janeiro de 1963. Um mês mais
tarde, Plath estava morta.
Quando ela colocou a cabeça no
forno e esperou a morte, não tinha idéia de que havia escrito
um dos mais influentes romances do século 20, livro que seria
adotado como texto "sagrado".
Agora, por cortesia da atriz Julia Stiles, será levado às telas.
"Encontrei um produtor e
um roteirista", diz a estrela dos
filmes da série Bourne e da refilmagem de "A Profecia", que
depois de uma "disputa judicial" adquiriu os direitos do livro para o cinema há alguns
anos. "Estou tentando manter
a separação entre o livro e a biografia de Plath", diz Stiles.
"Esse é um ponto sobre o
qual quero ser realmente cuidadosa na versão para o cinema. Acredito que se trate de
uma história de triunfo. Não
quero deixar de lado a tenacidade e o brilho dela. Creio que
isso será tão importante quanto retratar sua depressão."
"A Redoma de Vidro" é um
romance intensamente autobiográfico. O retrato que o livro
pinta sobre Esther Greenwood,
uma jovem estudante e aspirante a poeta, se baseia pesadamente nas experiências de
Plath (1932-1963) durante um
verão em que trabalhou como
estagiária em uma revista de
moda em Nova York e um inverno que passou em uma série
de hospitais para doentes mentais, após um colapso nervoso e
uma tentativa de suicídio.
A escritora se sentiu desencorajada pela resposta inicial. O
editor dela na Knopf, em Nova
York, rejeitou o romance, alegando que ela não havia "estabelecido com sucesso um ponto de vista".
As resenhas, quando o livro
foi inicialmente publicado no
Reino Unido, foram longe de
reverentes. Anthony Burgess,
no "Observer", admirou o retrato da queda da jovem em direção à loucura, mas Simon Raven, na revista "Spectator",
aconselhou os leitores a "preferir o produto nacional", no ramo de "romancistas mulheres
desagradáveis, competentes e
engraçadas".
Reconhecimento
Foi só quando o livro foi publicado nos EUA, em 1971, que a
visão hoje dominante sobre "A
Redoma de Vidro" começou a
se enraizar, e a obra passou a
ser considerada como algo especial. "Belo romance, amargo
e franco como os poemas finais
da escritora", avaliou o "New
York Times Book Review".
Esther, como Plath, é uma
aluna excelente no colégio, que
por um lado deseja "um marido, um lar feliz e filhos" e por
outro quer ser "uma poeta famosa". Ela sabe que é improvável que atinja ambos os objetivos e se irrita com a sugestão da
mãe para que aprenda estenografia porque "odeia servir os
homens de qualquer modo".
Indignada diante da duplicidade dos padrões sexuais de
seu namorado, ela decide perder a virgindade em um encontro com um desconhecido, e as
conseqüências são desastrosas.
"A última coisa que eu desejava era infinita segurança e estar no lugar do qual uma flecha
é disparada. Queria mudança e
excitação e me disparar em todas as direções", diz Esther.
Para a romancista Michele
Roberts, da Universidade de
East Anglia, ler "A Redoma de
Vidro" é um "rito de passagem". "Para uma jovem, o mundo continua a ser um lugar caótico", ela explica, "e muitas vezes elas se sentem confusas e
desorientadas. Muitas mulheres jovens se sentem deprimidas e tentadas a cometer gestos
autodestrutivos. Acredito que
"A Redoma de Vidro" ajude, porque as ajuda a ver que outras
pessoas também passam por
aquela situação".
A principal característica da
escrita no romance é o controle
magistral, a rédea curta imposta à paixão, à ira e à loucura.
Plath escreve de modo cru, físico, que permite vislumbrar a
violência subjacente.
Adaptação difícil
É uma empreitada audaciosa
transformar o romance em filme. Houve, de fato, diversas solicitações dos direitos cinematográficos, ao longo dos anos, e
uma adaptação desastrosa, por
Larry Peerce, em 1979.
Ros Edwards, agente do espólio de Plath no Reino Unido,
diz não saber nada sobre o novo
filme. O mesmo afirma Frieda
Hughes, filha de Plath e do também poeta Ted Hughes.
No entanto, Julia Stiles confirma o projeto. "Vamos apresentar a primeira versão do roteiro no mês que vem, e a seguir, se tivermos sorte, encontraremos um diretor e começaremos a levantar o capital."
Baseado na vida de Plath, o
filme "Sylvia - Paixão Além das
Palavras", de Christine Jeffs,
teve recepção negativa ao ser
lançado. As críticas tinham tom
de histeria. Gwyneth Paltrow
estava soberba como uma jovem Sylvia indecisa entre seus
papéis como mulher sedutora e
sexy, dona-de-casa e artista obsessiva. Já Daniel Craig não
exibia o magnetismo de Ted
Hughes.
Tradução PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Debate: ABL faz homenagem a Agostinho da Silva Próximo Texto: Prêmio: Portugal Telecom apresenta júri e livros mais indicados Índice
|