São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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LIVROS

Sylvia Plath ganhará mais um filme

Atriz Julia Stiles compra os direitos de "A Redoma de Vidro", único romance da poeta; roteiro deve ficar pronto em agosto

Na época de seu lançamento, crítica britânica não recebeu bem o livro; já nos EUA, prestígio da obra foi muito maior

CHRISTINA PATTERSON
DO "INDEPENDENT"

Sylvia Plath escreveu em seu diário, em 12 de dezembro de 1958: "Por que eu não escrevo um romance?". Dois anos e meio mais tarde, acrescentou, em tinta vermelha: "Escrevi! 22 de agosto de 1961. A Redoma de Vidro" [lançado no Brasil pela Record em 1999].
O romance foi publicado em janeiro de 1963. Um mês mais tarde, Plath estava morta. Quando ela colocou a cabeça no forno e esperou a morte, não tinha idéia de que havia escrito um dos mais influentes romances do século 20, livro que seria adotado como texto "sagrado".
Agora, por cortesia da atriz Julia Stiles, será levado às telas. "Encontrei um produtor e um roteirista", diz a estrela dos filmes da série Bourne e da refilmagem de "A Profecia", que depois de uma "disputa judicial" adquiriu os direitos do livro para o cinema há alguns anos. "Estou tentando manter a separação entre o livro e a biografia de Plath", diz Stiles. "Esse é um ponto sobre o qual quero ser realmente cuidadosa na versão para o cinema. Acredito que se trate de uma história de triunfo. Não quero deixar de lado a tenacidade e o brilho dela. Creio que isso será tão importante quanto retratar sua depressão."
"A Redoma de Vidro" é um romance intensamente autobiográfico. O retrato que o livro pinta sobre Esther Greenwood, uma jovem estudante e aspirante a poeta, se baseia pesadamente nas experiências de Plath (1932-1963) durante um verão em que trabalhou como estagiária em uma revista de moda em Nova York e um inverno que passou em uma série de hospitais para doentes mentais, após um colapso nervoso e uma tentativa de suicídio.
A escritora se sentiu desencorajada pela resposta inicial. O editor dela na Knopf, em Nova York, rejeitou o romance, alegando que ela não havia "estabelecido com sucesso um ponto de vista". As resenhas, quando o livro foi inicialmente publicado no Reino Unido, foram longe de reverentes. Anthony Burgess, no "Observer", admirou o retrato da queda da jovem em direção à loucura, mas Simon Raven, na revista "Spectator", aconselhou os leitores a "preferir o produto nacional", no ramo de "romancistas mulheres desagradáveis, competentes e engraçadas".

Reconhecimento
Foi só quando o livro foi publicado nos EUA, em 1971, que a visão hoje dominante sobre "A Redoma de Vidro" começou a se enraizar, e a obra passou a ser considerada como algo especial. "Belo romance, amargo e franco como os poemas finais da escritora", avaliou o "New York Times Book Review".
Esther, como Plath, é uma aluna excelente no colégio, que por um lado deseja "um marido, um lar feliz e filhos" e por outro quer ser "uma poeta famosa". Ela sabe que é improvável que atinja ambos os objetivos e se irrita com a sugestão da mãe para que aprenda estenografia porque "odeia servir os homens de qualquer modo".
Indignada diante da duplicidade dos padrões sexuais de seu namorado, ela decide perder a virgindade em um encontro com um desconhecido, e as conseqüências são desastrosas.
"A última coisa que eu desejava era infinita segurança e estar no lugar do qual uma flecha é disparada. Queria mudança e excitação e me disparar em todas as direções", diz Esther. Para a romancista Michele Roberts, da Universidade de East Anglia, ler "A Redoma de Vidro" é um "rito de passagem". "Para uma jovem, o mundo continua a ser um lugar caótico", ela explica, "e muitas vezes elas se sentem confusas e desorientadas. Muitas mulheres jovens se sentem deprimidas e tentadas a cometer gestos autodestrutivos. Acredito que "A Redoma de Vidro" ajude, porque as ajuda a ver que outras pessoas também passam por aquela situação".
A principal característica da escrita no romance é o controle magistral, a rédea curta imposta à paixão, à ira e à loucura. Plath escreve de modo cru, físico, que permite vislumbrar a violência subjacente.

Adaptação difícil
É uma empreitada audaciosa transformar o romance em filme. Houve, de fato, diversas solicitações dos direitos cinematográficos, ao longo dos anos, e uma adaptação desastrosa, por Larry Peerce, em 1979.
Ros Edwards, agente do espólio de Plath no Reino Unido, diz não saber nada sobre o novo filme. O mesmo afirma Frieda Hughes, filha de Plath e do também poeta Ted Hughes. No entanto, Julia Stiles confirma o projeto. "Vamos apresentar a primeira versão do roteiro no mês que vem, e a seguir, se tivermos sorte, encontraremos um diretor e começaremos a levantar o capital."
Baseado na vida de Plath, o filme "Sylvia - Paixão Além das Palavras", de Christine Jeffs, teve recepção negativa ao ser lançado. As críticas tinham tom de histeria. Gwyneth Paltrow estava soberba como uma jovem Sylvia indecisa entre seus papéis como mulher sedutora e sexy, dona-de-casa e artista obsessiva. Já Daniel Craig não exibia o magnetismo de Ted Hughes.


Tradução PAULO MIGLIACCI


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