São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2000


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TELEVISÃO/CRÍTICA
Veteranos e bandeiras dominam festival

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O festival da Música Brasileira da TV Globo desceu ladeira abaixo no sábado. Em sua segunda eliminatória, declarou-se sem querer a falência da produção musical atual (pelo menos de acordo com o olhar da Globo).
Pois Serginho Groisman, por exemplo, teve de transmitir orgulho ao contar que "Morte no Escadão", uma das três canções classificadas, foi composta há 24 anos. A canção é a cara de "De Frente pro Crime" (74), de João Bosco e Aldir Blanc. É essa a nova MPB?
OK, a jovem banda mineira Tianastácia foi convocada para amenizar o amor pelo passado que parece mover o festival, cantando o semi-rock à Bosco & Blanc do paulista José Carlos Guerreiro, 43.
Mas, olha, essa jovem banda já está contratada pela EMI, já lançou disco (leia nesta página), já está no gatilho para ser o novo Skank (que fez o show de encerramento, maldita coincidência), o novo Jota Quest. Depois não querem que se pense em armação.
Outra classificada foi "Eu Só Quero Beber Água", um samba/ jongo redundante e repetitivo de Moacyr Luz (parceiro antigo de Aldir Blanc), 42, cantado por ele com as pastoras da Portela -a tradição da tradição da tradição.
"Show", canção de metalinguagem, antifestival, classificou-se à custa da competência veterana dos ícones da vanguarda paulistana Luiz Tatit, 48, e Ná Ozzetti (grande intérprete para a canção), 41, e de Fábio Tagliaferri, 35.
A contradição desclassificou José Miguel Wisnik, 51, par dos citados anteriores, que trazia "DNA", canção formalista, mas comovente. Sua queda derrubou também a co-intérprete Luciana Alves, uma das mais belas aparições do festival até aqui.
De resto, o show de horrores global ditou as regras. Adolescentes desafinadas tiveram suas carnes cruas entregues aos leões pelos próprios pais. Clones disparados de Geraldo Vandré (nossa, quantos clones de Vandré; até Dominguinhos se prestou a esse papel) conviveram com clones esotéricos de Baby Consuelo. A orquestra causou mais estragos.
Um ufanismo "eu te amo, meu Brasil" pautou as diretrizes estéticas (estéticas?) da encenação armada pela Todo-Poderosa. Desfilaram índios, cangaceiros e hare-krishnas. Bandeiras e panos verdes-amarelos ornaram peitos e costas do tecno-metaleiro sem fôlego que bradava "pára de roubar e faz", da apresentadora alegrona que fazia nos sentirmos no "Casseta & Planeta", das "torcidas". O pastelão "patriótico" não teve a mínima graça.
Os repórteres globais eram o tempo todo forçados a exprimir uma falsa euforia (tiveram até de dançar com os concorrentes, que constrangedor), e a pantomima ficava evidente a cada vez que Groisman tinha de sufocar levantes de vaias (uau, a vaia veio!).
"Show!", "a música foi show!", "a cantora é show!", gritava um dócil popular sem-cadeira (ué, cadê as cadeiras?) entrevistado no solo do Credicard Hall. Ahã.


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