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TELEVISÃO/CRÍTICA
Veteranos e bandeiras dominam festival
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O festival da Música Brasileira da TV Globo desceu
ladeira abaixo no sábado. Em sua
segunda eliminatória, declarou-se sem querer a falência da produção musical atual (pelo menos de
acordo com o olhar da Globo).
Pois Serginho Groisman, por
exemplo, teve de transmitir orgulho ao contar que "Morte no Escadão", uma das três canções classificadas, foi composta há 24 anos.
A canção é a cara de "De Frente
pro Crime" (74), de João Bosco e
Aldir Blanc. É essa a nova MPB?
OK, a jovem banda mineira Tianastácia foi convocada para amenizar o amor pelo passado que parece mover o festival, cantando o
semi-rock à Bosco & Blanc do
paulista José Carlos Guerreiro, 43.
Mas, olha, essa jovem banda já
está contratada pela EMI, já lançou disco (leia nesta página), já
está no gatilho para ser o novo
Skank (que fez o show de encerramento, maldita coincidência), o
novo Jota Quest. Depois não querem que se pense em armação.
Outra classificada foi "Eu Só
Quero Beber Água", um samba/
jongo redundante e repetitivo de
Moacyr Luz (parceiro antigo de
Aldir Blanc), 42, cantado por ele
com as pastoras da Portela -a
tradição da tradição da tradição.
"Show", canção de metalinguagem, antifestival, classificou-se à
custa da competência veterana
dos ícones da vanguarda paulistana Luiz Tatit, 48, e Ná Ozzetti
(grande intérprete para a canção),
41, e de Fábio Tagliaferri, 35.
A contradição desclassificou José Miguel Wisnik, 51, par dos citados anteriores, que trazia "DNA",
canção formalista, mas comovente. Sua queda derrubou também a
co-intérprete Luciana Alves, uma
das mais belas aparições do festival até aqui.
De resto, o show de horrores
global ditou as regras. Adolescentes desafinadas tiveram suas carnes cruas entregues aos leões pelos próprios pais. Clones disparados de Geraldo Vandré (nossa,
quantos clones de Vandré; até
Dominguinhos se prestou a esse
papel) conviveram com clones
esotéricos de Baby Consuelo. A
orquestra causou mais estragos.
Um ufanismo "eu te amo, meu
Brasil" pautou as diretrizes estéticas (estéticas?) da encenação armada pela Todo-Poderosa. Desfilaram índios, cangaceiros e hare-krishnas. Bandeiras e panos verdes-amarelos ornaram peitos e
costas do tecno-metaleiro sem fôlego que bradava "pára de roubar
e faz", da apresentadora alegrona
que fazia nos sentirmos no "Casseta & Planeta", das "torcidas". O
pastelão "patriótico" não teve a
mínima graça.
Os repórteres globais eram o
tempo todo forçados a exprimir
uma falsa euforia (tiveram até de
dançar com os concorrentes, que
constrangedor), e a pantomima
ficava evidente a cada vez que
Groisman tinha de sufocar levantes de vaias (uau, a vaia veio!).
"Show!", "a música foi show!",
"a cantora é show!", gritava um
dócil popular sem-cadeira (ué, cadê as cadeiras?) entrevistado no
solo do Credicard Hall. Ahã.
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