VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de transformar uma antiga fábrica de carimbos em teatro-escola, no bairro paulistano da Liberdade, a atriz Célia Helena (1936-97) já praticava a vocação pedagógica.
Por onde passava, fazia questão de agregar um curso introdutório para adolescentes, ela que exerceu o autodidatismo na juventude e depois aprendeu muito com diretores italianos da cinematográfica Vera Cruz ou do TBC.
Inaugurado há 25 anos, em 27 de junho de 1977, batizado com um show de Maria Bethânia, o Teatro-Escola Célia Helena procura manter a filosofia de sua idealizadora, que concebia a formação para além do ator: público e professores estão no mesmo barco, explica a filha e também atriz Lígia Cortez. "Ela dizia que se a profissão não fosse pensada de forma mais ampla, a gente assinaria o nosso atestado de óbito", afirma Lígia, 41, filha do casamento com Raul Cortez (Célia também foi casada com Ruy Ohtake).
A programação dos 25 anos do Célia Helena procura fazer jus a esse espírito. Amanhã, a atriz e diretora inglesa Karen Wentworth, especializada na técnica Alexander, dará palestra na unidade do Itaim Bibi, criada em 1997.
Na próxima semana, o professor russo Valentin Vassílyevitch Teplyakov ministrará um curso sobre o Método Stanislavski, principal alicerce teórico das aulas no Célia Helena. De 16 a 21 de setembro, o ciclo "O Ator e o Pensamento Criador" acolherá depoimentos ou leituras dramáticas com Raul Cortez, Renato Borghi e Bete Coelho e com os cineastas Ugo Giorgetti e Tata Amaral. Os encontros são gratuitos.
Os espetáculos de conclusão têm igual prioridade, diz Lígia. Montagens como "Ensaio Sobre a Cegueira", adaptação do romance de José Saramago, dirigida por Marco Antonio Rodrigues, e "Do Lado de fora da Porta", do alemão Wolfgang Borchet, por Ariela Goldmann, são exemplos de projetos de encenação em que os atores experimentam a relação concreta com o público.