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"SECRETÁRIA"
Independentes sedimentaram suas próprias mesmices
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
E vamos nós outra vez: esse
mundo em desequilíbrio, de
móveis pontiagudos, cores berrantes; um ambiente tumular, visto através de imagens distorcidas,
em que o mórbido é quase sempre reforçado por um biombo
instalado entre nós e os personagens, ou por um arabesco atrás.
Esse é o mundo de "Secretária",
mais um filme do cinema independente americano -esse que
era uma esperança de romper
com a mesmice hollywoodiana e
que em pouco tempo sedimentou
suas próprias mesmices.
O filme de Steven Shainberg não
foge a esse academismo. Talvez
por oposição a Hollywood, aqui
olha-se o humano com pouca esperança. Somos uma espécie em
estado de degeneração. Assim é
Lee (Maggie Gyllenhaal), a secretária da história, que cultiva o hábito de martirizar a própria carne.
Lee é problemática. Quando
consegue um emprego, após sair
de uma instituição psiquiátrica, o
patrão (James Spader) revela-se
capaz de entabular uma relação
sadomasoquista. Chegamos, enfim, ao assunto do filme: o amor
sadomasoquista. Ou antes, o
amor e a dificuldade que consiste
em encontrar alguém compatível.
Não se trata de um assunto irrelevante, com certeza. Isso não
obriga ninguém a tratá-lo, como
faz Shainberg, com as tintas do
excesso: aborda o assunto não
propriamente para abordá-lo,
mas para evitá-lo. Pois à força de
ser caricata, a imagem de "Secretária" liquida o interesse que pudesse haver na ficção original.
E existe o "subplot" do politicamente correto: o óbvio assédio sexual de um patrão em relação a
uma funcionária. O filme enfatiza
isso e, assim, manifesta sua oposição à tentativa de subordinar o
amor aos constrangimentos legais talvez exagerados que se verificam nos EUA. Como ao menos
desse tipo de exagero não sofremos, também por esse lado o interesse da coisa é, para nós no Brasil, bastante reduzido.
O lamentável é que essa bobagem conta com dois bons atores.
James Spader é bem conhecido.
Maggie Gyllenhaal é uma novata
sensível. Talvez por ironia do destino, é filha de Stephen Gyllenhaal, um dos piores diretores do
mundo e espécie de precursor de
filmes sérios e nulos como este.
Secretária
Secretary
Produção: EUA, 2002
Direção: Steven Shainberg
Com: James Spader e Maggie Gyllenhaal
Quando: nos cines Bristol, Market Place
Playarte, Pátio Higienópolis e circuito
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