UOL


São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"PIRATAS DO CARIBE"

Gore Verbinski também dirigiu o remake "O Chamado"

Universo visual é forte, mas não tem vitalidade nenhuma

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

É no mínimo curioso que a Walt Disney Co. tenha produzido um filme chamado "Piratas do Caribe" em tempos de pirataria virtual. Ironia ou não, bem antes de chegar às telas "Piratas" já estava disponível para down- load na internet.
Difícil, portanto, vê-lo como a mera releitura de um gênero. Ele traz, forçosamente, um comentário em torno de um "vilão" moderno, visto como a grande ameaça à indústria do entretenimento.
A pirataria moderna já nasceu com a imagem no século 21 (a imagem digital). Hackers navegam no mar virtual como piratas navegavam no mar "concreto"; a nova mercadoria a ser saqueada é a informação e a imagem.
"Piratas do Caribe" se encaixa totalmente na nova definição do cinema de entretenimento. Primeiro, por ser a adaptação de uma história e de personagens que nasceram como atração dos parques temáticos da Disney. É apenas mais uma face, e não a primeira, de um produto/marca pertencente a uma grande corporação. Em segundo lugar, por seus aspectos formais, principalmente quanto ao tratamento dado à imagem e, particularmente, à imagem dos piratas-vilões.
O subtítulo "A Maldição do Pérola Negra" refere-se a um navio amaldiçoado, habitado por piratas que na verdade estão mortos. Quando aparece a lua cheia, suas verdadeiras faces são reveladas, esqueléticas. Como em "Matrix", são vilões indestrutíveis porque imortais, mas a palavra "imortalidade" nada tem a ver com espiritualidade, e sim com virtualidade.
Basta ver a forma como os piratas-esqueletos se movimentam, aquela "vida" visivelmente criada em computador, realista e falsa ao mesmo tempo. Essas criaturas serão combatidas por um "pirata do bem" (Johnny Depp, em grande trabalho de caracterização), que conta com a ajuda de um jovem plebeu (Orlando Bloom).
"Piratas do Caribe" tem direção de Gore Verbinski, o mesmo do eficaz "O Chamado", em que fitas de vídeo assassinas provocavam a morte de seus espectadores em sete dias. Parece, portanto, ser um cineasta chegado aos temas ligados à imagem. Mas se Verbinski tem uma eficiência inegável na criação de um universo visual forte, não consegue imprimir a ele vitalidade nenhuma. É como se fosse um cineasta virtual, que produz uma imagem fria e sem vida, tão coerente com a massa dos filmes que se faz hoje. Bom para a Disney, não tão bom para o cinema.


Piratas do Caribe
Pirates of the Caribbean
 
Produção: EUA, 2003
Direção: Gore Verbinski
Com: Johnny Depp, Geoffrey Rush, Orlando Bloom, Keira Knightley
Quando: nos cines Anália Franco, Eldorado, Metrô Santa Cruz e circuito



Texto Anterior: "Secretária": Independentes sedimentaram suas próprias mesmices
Próximo Texto: "Acontece Nas Melhores Famílias": Drama escarafuncha as patologias dos Douglas
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.