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"PIRATAS DO CARIBE"
Gore Verbinski também dirigiu o remake "O Chamado"
Universo visual é forte, mas não tem vitalidade nenhuma
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
É no mínimo curioso que a
Walt Disney Co. tenha produzido um filme chamado "Piratas do Caribe" em tempos de pirataria virtual. Ironia ou não, bem
antes de chegar às telas "Piratas"
já estava disponível para down-
load na internet.
Difícil, portanto, vê-lo como a
mera releitura de um gênero. Ele
traz, forçosamente, um comentário em torno de um "vilão" moderno, visto como a grande ameaça à indústria do entretenimento.
A pirataria moderna já nasceu
com a imagem no século 21 (a
imagem digital). Hackers navegam no mar virtual como piratas
navegavam no mar "concreto"; a
nova mercadoria a ser saqueada é
a informação e a imagem.
"Piratas do Caribe" se encaixa
totalmente na nova definição do
cinema de entretenimento. Primeiro, por ser a adaptação de
uma história e de personagens
que nasceram como atração dos
parques temáticos da Disney. É
apenas mais uma face, e não a primeira, de um produto/marca pertencente a uma grande corporação. Em segundo lugar, por seus
aspectos formais, principalmente
quanto ao tratamento dado à
imagem e, particularmente, à
imagem dos piratas-vilões.
O subtítulo "A Maldição do Pérola Negra" refere-se a um navio
amaldiçoado, habitado por piratas que na verdade estão mortos.
Quando aparece a lua cheia, suas
verdadeiras faces são reveladas,
esqueléticas. Como em "Matrix",
são vilões indestrutíveis porque
imortais, mas a palavra "imortalidade" nada tem a ver com espiritualidade, e sim com virtualidade.
Basta ver a forma como os piratas-esqueletos se movimentam,
aquela "vida" visivelmente criada
em computador, realista e falsa ao
mesmo tempo. Essas criaturas serão combatidas por um "pirata do
bem" (Johnny Depp, em grande
trabalho de caracterização), que
conta com a ajuda de um jovem
plebeu (Orlando Bloom).
"Piratas do Caribe" tem direção
de Gore Verbinski, o mesmo do
eficaz "O Chamado", em que fitas
de vídeo assassinas provocavam a
morte de seus espectadores em
sete dias. Parece, portanto, ser um
cineasta chegado aos temas ligados à imagem. Mas se Verbinski
tem uma eficiência inegável na
criação de um universo visual forte, não consegue imprimir a ele
vitalidade nenhuma. É como se
fosse um cineasta virtual, que
produz uma imagem fria e sem
vida, tão coerente com a massa
dos filmes que se faz hoje. Bom
para a Disney, não tão bom para o
cinema.
Piratas do Caribe
Pirates of the Caribbean
Produção: EUA, 2003
Direção: Gore Verbinski
Com: Johnny Depp, Geoffrey Rush,
Orlando Bloom, Keira Knightley
Quando: nos cines Anália Franco,
Eldorado, Metrô Santa Cruz e circuito
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