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'Companhia de Estranhos' é aventura da 3ª idade
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
"Na Companhia de Estranhos"
mistura de modo original dois filões do cinema contemporâneo: o
filme sobre velhos ("Conduzindo
Miss Daisy", "As Baleias de Agosto" etc.) e o que poderíamos chamar de "drama da comunidade
acidental", em que um grupo de
pessoas é forçado a construir laços
de solidariedade diante de uma situação adversa.
De "Um Barco e Nove Destinos", de Alfred Hitchcock, à aventura "Velocidade Máxima", passando por "O Parque dos Dinossauros" e todos os filmes-catástrofe, são inúmeras as situações em
que indivíduos que mal se conhecem têm de encontrar meios de sobreviver coletivamente, revelando
no processo sua personalidade
mais profunda.
Assim é em "Na Companhia de
Estranhos", que estréia hoje. Sete
velhinhas com idade entre 70 e 80
anos viajam de ônibus pelo interior.
O ônibus quebra no meio do mato, e elas andam até encontrar uma
casa abandonada, onde se alojam e
passam a dividir a pouca comida e
o excessivo trabalho até que consigam um meio de sair dali.
O filme se desenvolve, então, em
torno de dois eixos: de um lado, há
o dia-a-dia insólito e divertido das
velhinhas, obrigadas a reaprender
a pescar no lago ou caçar rãs no
brejo para poder comer.
De outro lado, as conversas entre
elas vão revelando o passado de
cada uma.
"Espíritos jovens"
A canadense Cynthia Scott, estreando na direção, diz que pretendeu mostrar "espíritos jovens
dentro de corpos já envelhecidos".
Conseguiu, graças à delicadeza
de seu olhar e à aproximação calorosa com cada personagem.
As atrizes do filme não são profissionais: foram escolhidas em
clubes e asilos.
Na tela, seus nomes são os mesmos da vida real, assim como suas
aptidões: uma canta, outra dança,
outra cozinha, outra conhece mecânica de automóveis.
Talvez por conta disso, o filme
transmita um frescor de "home
movie", registrando de modo quase transparente o mundo miúdo e
complexo dessas mulheres.
Aqui e ali entram imagens de arquivo mostrando as personagens
na infância e na juventude, ao som
de melancólicas peças de Chopin e
Schubert. A trilha sonora ideal para essa ode à vida em seu crepúsculo.
Filme: Na Companhia de Estranhos
Produção: Canadá, 1990
Direção: Cynthia Scott
Com: Alice Diabo, Constance Garneau,
Winifred Holden
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco - sala 3
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