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Sai último inédito de Hemingway
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington
O último livro inédito de Ernest
Hemingway será lançado no ano
que vem, no que já é definido como um dos mais badalados eventos literários do final do século.
Trata-se de romance semi-autobiográfico, produzido a partir das
experiências do segundo safári
africano da vida do autor, em 1953
e começo de 1954, no Quênia.
Hemingway trabalhou no texto
durante dois anos. A partir de 56,
outros projetos e problemas pessoais (a saída de sua casa em Cuba
após a revolução castrista e a depressão que o levou ao suicídio em
61) o forçaram a abandonar o romance, ainda inacabado.
O manuscrito, que havia ficado
para trás em Cuba, foi recuperado,
junto com outros objetos, pela
viúva Mary, graças a uma ação
conjunta dos presidentes John
Kennedy e Fidel Castro. Em 63,
Mary doou todos os documentos
do marido à Biblioteca Kennedy.
Lá, o romance africano ficou
mais ou menos esquecido nesses
35 anos. Em 71, a revista "Sports
Illustrated" publicou alguns trechos, incluídos numa antologia de
Hemingway editada em 74.
Agora, o segundo filho do escritor, Patrick, resolveu publicar
uma versão que ele mesmo fez dos
originais do pai. Patrick Hemingway, 70, um historiador da arte,
cortou o texto pela metade e vai
colocá-lo no mercado em tempo
para as comemorações do centenário do nascimento de seu pai,
no dia 21 de julho de 1999.
"True at First Light" provavelmente chamará mais a atenção do
público pelas sugestões que faz de
detalhes da vida pessoal do autor
do que por seus méritos literários.
Foi quase sempre assim com Hemingway: o homem era maior do
que a obra. Sua fama, extraordinária mesmo entre os grandes gênios
da literatura, se devia mais à persona carismática do que ao valor
dos livros que produziu.
Hemingway teve enorme influência sobre o jornalismo e a literatura neste século. Mas sua importância foi quase apenas estilística, devida a seu texto limpo, econômico. O conteúdo dos livros de
Hemingway quase sempre é ralo,
limitado. Os temas se repetem:
guerra, violência, aventura, o corpo como fonte de dor e prazer.
"True at First Light" parece ser
exatamente isso: um narrador relatando as suas peripécias na África. Um dos pontos centrais da trama é a bigamia do narrador nesse
período. Alguns biógrafos acham
que o incidente ocorreu de fato na
vida de Hemingway.
No livro, o narrador, como Hemingway, viaja com sua mulher
(Mary, a quarta) e se casa com
uma nativa. Há indícios de que, de
fato, quando Mary Hemingway se
ausentou do safári para fazer compras em Nairobi, o escritor consumou o ritual de casamento com
uma moça de 18 anos da nação
Wakamba e chegou a dizer a amigos que iria ter um filho africano.
Mas alguns biógrafos dizem que
essa história era apenas uma das
muitas bravatas com que Hemingway mantinha vivas as lendas que
circulavam a seu respeito.
Não há dúvidas, entretanto, de
que o safári foi cheio de emoções
para o casal. Ernest e Mary chegaram ao Quênia no meio da insurreição da nação Kikuyu contra o
governo central.
Em janeiro de 1954, o casal sofreu um acidente aéreo, foi resgatado por um barco no rio Nilo e,
quando decolava para Uganda, o
avião em que estava se incendiou.
Aventuras suficientes para nenhum fã de Hemingway reclamar.
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