|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEMANA DE MODA/BALANÇO
Jovens estilistas injetam
energia no mercado
ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
A nova cara da moda brasileira
aparece na Semana de Moda,
evento que durante três dias (de
terça a quinta desta semana) apresentou em São Paulo as coleções
de verão de novos estilistas, mais
amostras de cinco alunas de faculdades de moda da cidade (leia
abaixo) e a participação dos calçados de Fernando Pires.
O balanço final é um sopro de
vigor, energia e jovialidade no
mercado, vindo de criadores com
diferentes propostas. A grande
sensação foi o jovem Icarius, que
já vinha despontando em seus desfiles dentro da faculdade Santa
Marcelina e já está presente no
casting da Claudeteedeca, chique
multimarca paulistana.
Para este verão, Icarius faz uma
crítica à indústria da beleza. Suas
armas são um make de beleza, puxado por fitas adesivas transparentes (a técnica se chama "taping") ou com a boca separada
por aparelhos de acrílico. O efeito
é assustador: Icarius choca e provoca a reflexão, sem pieguice ou
gratuidade.
O conceito do novo corpo aparece, em inteligentes drapeados,
transparências e casulos, mas
sempre com um tratamento de
roupa de festa (nos vestidos) ou de
urbanidade (nas camisas, minissaias ou shorts).
São também impressionantes as
estampas sobre as sofridas fotos
das próprias modelos (feitas por
Debby Gram), junto aos vestidos
cor de sangue que revela o seio da
modelo Fabiana Duarte. O melhor: sem toda essa cenografia, é
possível imaginar facilmente as
roupas fora da passarela.
Coisa que não vem com tanta facilidade em outro desfile que se
destacou na Semana de Moda, a
Cavalera, de André Lima.
Famosa por seu streetwear e pelas roupas destinadas ao skate e ao
rock, isso agora parece passado. O
fashion é a meta, numa atitude
moderna, livre e desencanada.
André Lima não demonstra
preocupação de agradar. Assim,
pode envolver seus adolescentes
num delicioso e criativo trabalho
de produção de moda, evocando
personagens de uma festa infantil
-uma boa bagunça.
Peças como o kilt longo masculino, o legging de lingerie pink, os
jaquetões, as calças tipo social ou
oversized, as engraçadas t-shirts
encheram os olhos do público de
moda. Resta saber para quem a
marca vai vender.
Problema que a Slam não tem. A
marca do talentoso Giuliano Menegazzo encerrou o evento anteontem com seu público inteirinho na platéia -o que já comprova andar pelo caminho certo.
Impossível não se contagiar com
seu streetwear sem pretensões e
para lá de correto, que seria sucesso também em qualquer grande
centro fashion do mundo. O jeans
entra em abordagem perfeita, em
versões black, índigo escuro, justo, oversized e, a melhor idéia de
todas, com cantoneiras em dourado que viram a corrente (também
dourada) de segurar a carteira
-hype certo da rua.
Mais boas idéias: bermudas, leggings femininos por baixo de saias
de náilon, cartela de cores acesa e
usável; a calça branca repuxada
atrás; os esportivos. Giuliano é um
talento em estado bruto que se lapida a cada estação. A prova disso
é o look étnico/raver/religioso que
encerra o desfile.
Mario Queiroz afina suas formas
e faz coleção mais acertada que a
anterior. A roupa tem aspirações
comerciais, sim; mas, se não há
muito brilho, também não há pecadilhos de moda.
Além de um masculino correto e
contemporâneo, Queiroz marca
pontos também no feminino, em
adequados looks gender-bender,
como a camisa branca social usada
com calça seca (na modelo Carolina Fagundes). No masculino, a
pantalona azul também com camisa é outro exemplo dessa simplicidade urbana e confortável.
Três mineiros participaram do
evento. Ronaldo Fraga, o mais
maduro deles, avança em termos
de estilo, libertando-se da crítica
fácil e investindo mais nas formas,
usando o tema dos ex-votos. Fraga
agrada mais nos japonismos iniciais, plissados e amarrotados em
cru, bem como nas saias de textura de borracha.
Estreante no evento, Jotta Syballena mostra uma roupa bem-costurada, com brincadeiras com
geometrias; acabou por se beneficiar de estar no dia mais fraco (o
segundo). De toda forma, mostra-se um estilista afeito a seu universo peculiar e coerente.
Por fim, Martielo Toledo também demonstra amadurecimento.
Está mais limpo e conciso, com
bons momentos na estamparia em
algodão, nos vestidos-camisa e
nas calças de couro. Precisa ainda
esclarecer os motivos de algumas
formas, às vezes sem justificativa.
Mesmo mais clean, Lorenzo
Merlino volta um pouco mais duro, com áridas geometrias em meros exercícios formais. O trabalho
do cós das saias, por exemplo, torna a roupa impossível de usar
(sentar, andar etc.)
Carla Fincato também fez um
desfile de inspiração Havaí e edição confusa, prejudicada pelo make. Fora da passarela, entretanto,
teremos ótimas regatas para o verão, em estilo das roupas dos surfistas, em estamparias floral e optical, bem como descoladas microssaias.
Caio Gobbi é outro que se aprimora, dessa vez em direção à sua
paixão pelos anos 80. Uma atitude
fashion e bem-humorada produz
boas saias em jeans com strass e
peças tipo aeróbica, em poderosas
peruas (seus homens são mais comerciais). O desfile é simpático,
sobretudo a primeira metade; nem
precisava da linha praia -que não
deu muito certo.
A Mulher do Padre, estreante no
evento, tem como mérito já ter
conquistado seu lugar no mercado
(é hit absoluto de Mercado Mundo
Mix e na galeria Ouro Fino), mas
seu universo fashion ainda está
um pouco confuso. As melhores
idéias (ainda que isoladas) são a
calça com trabalho nas barras, a
malha masculina com detalhes em
em dégradé azul e a saia-calça em
madras.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|