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MÚSICA
Ben Harper esquece a
renovação em novo CD
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
De recuo é feito o quarto álbum
do cantor e compositor californiano Ben Harper, 29, chamado
"Burn to Shine" -acaba de sair lá
fora, e a Virgin brasileira promete
a edição nacional para as próximas semanas.
O recuo vem do fato de que as
guitarras elétricas, que haviam sido acrescidas no anterior "The
Will to Live" (97), perdem de novo para o tom acústico que, afinal,
norteara o artista em "Welcome
to the Cruel World" (93, sua estréia) e "Fight for Your Mind" (95,
ainda hoje seu trabalho mais poderoso), álbuns com os quais ele
se fez notar.
Bem, foi assim -acústico, choroso e suave, quase soul- que
Ben Harper se apresentou e se firmou como um pequeno príncipe
negro em meio à brutalidade
pop/rock/tecno dos 90. Não haveria que se queixar de ele continuar
a se utilizar do antídoto.
Mas ocorre que agora, em
"Burn to Shine" -de novo com a
banda The Innocent Criminals,
antes com dois integrantes além
de Ben, hoje com três-, o artista
começa a patinar, e o que era antídoto contra a brutalidade começa
a parecer beco sem saída.
A delicadeza prevalece, mais
uma vez, numa longa sequência
de baladas climáticas -quebrada, quase exclusivamente, pela
terceira faixa, "Less", a única a
que caberia o apelido "rock"-,
em que arte de capa e encarte não
ocultam querer se forjar algum
ambiente de Velho Oeste, de faroeste, de "conquista do mundo".
De alguma inspiração desértica
-cactus, cavalos, índios peles-vermelhas, esses clichês todos...- se desprendem a guitarrinha e o falsete manhosos de "The
Woman in You", a coqueteria tipo saloon com mocinha de "Suzie
Blue", o coro indígena/foragido
da própria "Less", o dolorido
blues de coiote de "Two Hands of
a Prayer", o banjo tipo Jane Calamity de "In the Lord's Arms"...
Um tico de confeito extracaubói
pode vir de "Steal My Kisses", algo como se uma discoteca anos 70
se instalasse em Cactus City, de
"Please Bleed" (o reggae persiste,
e não deixa de ser uma das matrizes temáticas daqui, via o "galopismo" urbano jamaicano de
Jimmy Cliff no filme/trilha "The
Harder They Come", de 72) ou da
persistente insistência de Ben
Harper em temas carolas, um tanto incompatível com o tiroteio.
O que acontece é que o combinado de reggae, religiosidade e
areias escaldantes do Velho Oeste
acaba por fazer do outrora jovem
promissor um homem perdido
no tempo.
Parece que, envolto em tanta
poeira, Ben Harper anda se esquecendo de se renovar -e é
uma pena e aí vai se acabando o
que era doce e os cães ladram enquanto a caravana passa e quem
sabe da próxima vez...
Avaliação:
Disco: Burn to Shine
Grupo: Ben Harper and The Innocent
Criminals
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 18, em média
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