São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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MÚSICA

Ben Harper esquece a renovação em novo CD

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

De recuo é feito o quarto álbum do cantor e compositor californiano Ben Harper, 29, chamado "Burn to Shine" -acaba de sair lá fora, e a Virgin brasileira promete a edição nacional para as próximas semanas.
O recuo vem do fato de que as guitarras elétricas, que haviam sido acrescidas no anterior "The Will to Live" (97), perdem de novo para o tom acústico que, afinal, norteara o artista em "Welcome to the Cruel World" (93, sua estréia) e "Fight for Your Mind" (95, ainda hoje seu trabalho mais poderoso), álbuns com os quais ele se fez notar.
Bem, foi assim -acústico, choroso e suave, quase soul- que Ben Harper se apresentou e se firmou como um pequeno príncipe negro em meio à brutalidade pop/rock/tecno dos 90. Não haveria que se queixar de ele continuar a se utilizar do antídoto.
Mas ocorre que agora, em "Burn to Shine" -de novo com a banda The Innocent Criminals, antes com dois integrantes além de Ben, hoje com três-, o artista começa a patinar, e o que era antídoto contra a brutalidade começa a parecer beco sem saída.
A delicadeza prevalece, mais uma vez, numa longa sequência de baladas climáticas -quebrada, quase exclusivamente, pela terceira faixa, "Less", a única a que caberia o apelido "rock"-, em que arte de capa e encarte não ocultam querer se forjar algum ambiente de Velho Oeste, de faroeste, de "conquista do mundo".
De alguma inspiração desértica -cactus, cavalos, índios peles-vermelhas, esses clichês todos...- se desprendem a guitarrinha e o falsete manhosos de "The Woman in You", a coqueteria tipo saloon com mocinha de "Suzie Blue", o coro indígena/foragido da própria "Less", o dolorido blues de coiote de "Two Hands of a Prayer", o banjo tipo Jane Calamity de "In the Lord's Arms"...
Um tico de confeito extracaubói pode vir de "Steal My Kisses", algo como se uma discoteca anos 70 se instalasse em Cactus City, de "Please Bleed" (o reggae persiste, e não deixa de ser uma das matrizes temáticas daqui, via o "galopismo" urbano jamaicano de Jimmy Cliff no filme/trilha "The Harder They Come", de 72) ou da persistente insistência de Ben Harper em temas carolas, um tanto incompatível com o tiroteio.
O que acontece é que o combinado de reggae, religiosidade e areias escaldantes do Velho Oeste acaba por fazer do outrora jovem promissor um homem perdido no tempo.
Parece que, envolto em tanta poeira, Ben Harper anda se esquecendo de se renovar -e é uma pena e aí vai se acabando o que era doce e os cães ladram enquanto a caravana passa e quem sabe da próxima vez...


Avaliação:   


Disco: Burn to Shine
Grupo: Ben Harper and The Innocent Criminals
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 18, em média




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